sábado, 10 de março de 2012

AS COALIZÕES E OS ELEFANTES

AS COALIZÕES E OS ELEFANTES
Às vésperas da decisiva batalha de Waterloo, o duque de Wellington, comandante das tropas inglesas,integrantes da coalizão que reunia4 exércitos de potencias europeias contra  Bonaparte, ouvia os comentários desdenhosos  sobre as qualidades do marechal príncipe Blücher, comandante das tropas prussianas que combateriam ao seu lado. Dizia-se que Blücher era um velho com mais de 70 anos, e sofria de estranhas alucinações, entre elas, a de ser perseguido por elefantes que o estupravam ( Freud explicaria décadas depois). Wellington, compreendendo que sem a força completa dos exércitos aliados Napoleão acrescentaria mais uma as 68 batalhas que vencera, respondeu: ¨O importante é que Blücher chegue com o seu exército, mesmo com todos os elefantes do mundo atrásdele¨.
Três meses antes, a realeza europeia que forahumilhada por Napoleão, reunira-se em Viena. O general temido escapara do seu exílio na ilha de Elba e desembarcara no sul da França em primeiro de março de 1815. Em menos de 30 dias reconquistara o poder, colocara em fuga o Bourbon que retornara ao trono francês, e era outra vez uma ameaça aos ingleses, russos, austríacos, prussianos. Do Congresso de Viena saiu uma coalizão forte, definida, que tinha um objetivo único e comum: derrotar Napoleão Bonaparte.
Raramente surgem coalizões assim, formadas pelo medo e peladesesperada necessidade de sobrevivência, mas, em todas,  é imprescindível que existam convergências, ainda que identidades dificilmente sejam alcançáveis em agrupamentos numerosos.
Deixemos Waterloo, a coalizão com todos os elefantesque inquietavam o marechal prussiano, e nos fixemos bem mais próximo, na desfeita coalizão que precariamente juntava o governador  Déda aos irmãos Amorim, estes, com  o incrível  aparato dos   11 partidos e uma maioria de deputados postos  sob  comando único.  Não havia elefantes, mas,uma elefantíase política era  doença evidente,  que, se ampliando sempre, sufocava um lado da aliança, e quando,  quase o esmagava,  provocou a reação rápida que pôs fim ao desconforto.

UMA ARENA SEM GENERAIS
 A coalizão formada entreDéda e os irmãos Amorim, cresceu tanto que até  parecia uma reedição da velha ARENA dos tempos da ditadura, aquele partido que, segundo o sempre bem maquiado  deputado mineiro Francelino Pereira,      era ¨ o maior do ocidente.¨ Formada para dar  simbólica sustentação ao regime de força, a ARENA juntou, num mesmo saco, amigos e desafetos, todos procurando se arrumar da melhor forma possível,  mas, sem deixar de desferir cutucadas uns nos outros. Quando a troca de golpes se tornava mais forte, os governadores,¨delegados da revolução ¨,  corriam para se socorrer ou se queixar ao general mais próximo. Dependendo da importância do estado a hierarquia ia diminuindo, e entravam como árbitros ou ordenadores, desde coronéis a tenentes. Em Sergipe, logo depois de instalada a desordem institucional em primeiro de abril de 64, era o tenente Rabelo quem dava as ordens.
O problema da aliança que para Déda se tornava insuportável,era que ele não tinha um general a quem se queixar.  Para tempos democráticos soluções políticas.

OS MOTIVOS DA ELEIÇÃO ANTECIPADA
Na Assembléiajá aconteceram eleições antecipadas. A primeira foi provocada por Reinaldo Moura, que traduzia ainsatisfação dos deputados com o governador  e também  a interferência de João Alves, que já se desentendera com Albano. Reinaldo parecia ter também os olhos postos no Tribunal de Contas. A antecipação causou a inesperada derrota do deputado Ulices Andrade,candidato do governador. Albano engoliu calado e Reinaldo foi extremamente hábil. Pediu logo uma audiência, conversou com Albano, poliu arestas e construiu um relacionamento tão bom que terminou por levá-lo ao Tribunal de Contas, com o patrocínio forte do governador. Ulices , depois, repetiria o gesto, antecipando a eleição   no governo de Déda. Ele tinha também os olhos fixos no Tribunal de Contas, onde terminou chegando. A deputada Angélica Guimarães,com a mesma atração pela confortável e vitalícia cadeira, pensa em ocupar a vaga que Reinaldo  deixará em dezembro de 2013. Tinha receio de ser atropeladae resolveu promover  o que  seria uma demonstração de força a ser feita pelo   então majoritário grupo dos irmãos Amorim.  O controle da Mesa da Assembleia por um grupo político que não tenha constrangimentos em utilizar-se do poder, pode ser, também, com a vultosa verba disponível, um porto seguro para a acomodação de aliados atuais ou futurosnecessitando de tranquilas ancoragens.

 DO PRINCÍPIO AO ESPERADO FIM
A coalizão que juntouDéda ao grupo dos irmãos Amorim começou  no primeiro mandato.  Edivanainda não havia alcançado a posição de preeminência   que conseguiu, após a eleição ao Senado em 2010, do irmão, o médico Eduardo.  Edivanainda jovem  viera de Itabaiana para Aracaju, com a garra daqueles itabaianenses ambiciosos que aspiram crescer na política e nos negócios, e ligara-se   ao também itabaianense,  o empresário e político Oviedo Teixeira, que tinha uma vocação solidária para ajudar as pessoas. Viu em Edivan um jovem promissor, e então, seu filho, Jose Carlos Teixeira,Vice-governador, o indicou para uma das diretorias do CEASA. Edivan, já empresário e em plenaascensão, casou-se com uma das filhas do governador João Alves . Conquistou a amizade e confiança do sogro,enquanto a sogra, a senadora Maria do Carmo , a ele referia-se como se fosse um segundo filho. Evidente que isso deveria causar mágoas no outro genro, o deputado federal Mendonça Prado, que nunca aceitara de bom grado a ascensão que Edivan alcançara no governo, onde tomava vitais decisões políticas e administrativas.   Sem ocupar secretarias, Edivan, no terceiro governo de João ,  tinha mais poder do que todos os secretários reunidos, Habilidoso em política e nos negócios,    se fez, rapidamente, uma referencia fortíssima  na cena sergipana.  Nele começou a colar o selo de que era homem cumpridor de acertos e da palavra empenhada. Pessoa frequentemente procurada por chefes e chefetes políticos interioranos,com problemas a resolver,  principalmente pessoais.  Tornou-seuma espécie de pontual Mecenas político,  favorecendo a todos os necessitados de atenção e apoio financeiro.   Desenvolto, com pragmatismo destituído de empecilhos ideológicos, atuou de forma abrangente no cenáriorealista da  vida sergipana.  Quando João foi candidato à reeleição,Edivan, cujo casamento já começara a esfacelar-se,  ficou ao lado do sogro, e foi o mais atuante coordenador da  campanha política.   Ao mesmo tempo, elegeu com recorde de votação, o seu irmão, o discreto e comedido médico Eduardo Amorim, que fora Secretário da Saúde de Joãoe deixara a Pasta em consequência de divergências  nunca  claramente explicadas. João perdeu a eleição,logo depois também o genro,  após um divórcio deixando mágoas profundas e uma mal disfarçada inimizade.  Comandando umabancada de deputados, Edivan ensaiou uma aproximação com Déda,  bem recebida em nome da  garantia de plena governabilidade. Fato inédito, ele não reivindicou cargos no governo, apenas, deixou explícito que desejava uma vaga na chapa senatorial para o seu irmão deputado. A aliança mostrou-se útil para ambos os lados, e na reeleição de Déda ,Edivan,    planejador  meticuloso, já ampliara o seu grupo político, que surgia como o fiel da balança. Assegurada a vaga de senador, manteve-se a aliança.  Nessa altura,prefeitos, conselheiros do Tribunal de Contas, secretários, deputados, já rendiam homenagens públicas a Edivan   sempre reconhecendo suas benéficas interferências. Eduardofoi eleito com estrondosa votação. Fez uma competentíssima campanha.     Apareceu na TV com a imagem cordata de umestreante, num palco onde figuravam, há muito tempo, os mesmos protagonistas.   No instante em que a coligação parecia balançar, Déda interferiu duramente, exigindofidelidade de todos ao acordo firmado, e até trouxe Lula a Aracaju, para defender a aliança.   Opresidente fez um discurso pouco feliz, que talvez tenha contribuído para a derrota de Déda e de Dilma na capital sergipana, mas Amorim venceu, do sertão ao litoral.    Edivanencontrou suplentes para o irmão que lhe deram uma ajuda muito além do que era esperado, principalmente do primeiro, o empresário Laurinho Menezes, depois, o segundo, o engenheiro Kaká Andrade, irmão do prefeito de  Canindé, Orlandinho Andrade, que teve uma atuação marcante na região do baixo São Francisco.
Com cem mil votos postos na frente do governador reeleito, já ao fimda apuração dos votos, integrantes do grupo dos irmãos Amorim precipitavam a candidatura de Eduardo ao governo de Sergipe em 14, como fato consumado e colocavam em destaque a hegemonia política absoluta do grupo, em face aos demais integrantes.
  Começava a primeira de uma sucessão de equívocos, gerando uma enxurrada de insatisfações sempre mal resolvidas, que terminaram por desaguar noepisódio da eleição antecipada da Assembleia, um teste, ou   desafio,  gota d`agua  que fez derramar a taça amarga de recriminações mútuas, e levou   Déda a romper a aliança, num gesto cujas primeiras consequências  demonstram que não eram tão sólidos os alicerces  da absoluta  hegemonia que Edivan  imaginara ter construído.

O DESCARTE DE JACKSON
 Numa coalizão política um grupo não pode sozinho estabelecer suas condições, por maior que seja o seu potencial. Se existe a coalizão,presume-se uma dependência mútua, ainda mais quando as forças  que a integram se mostram equilibradas. O fato do grupo dos irmãos Amorim já ter previamente estabelecido uma candidatura para 14, gerava incômodos, ainda que, nem o senador Eduardo nemEdivan  houvessem feito declarações confirmando a pré-fixação  da candidatura.  Edivan,sempre cauteloso nas declarações políticas, e nisso reside exatamente uma boa dose da sua inegável habilidade, cometeu talvez um deslize, ao declarar que descartava qualquer possibilidade de votar em Jackson,  caso o vice fosse candidato ao governo. Jackson não é um político a ser assim tão facilmente descartado. Depois, o deputadofederal André Moura, sempre um pouco mais impetuoso, considerou Jackson uma espécie de  refugo antigo que perdera a validade política.
 Então, começou a tomar corpo a pergunta por muitos manifestada: Afinal, para que serve mesmo essa aliança ? Pergunta por elesmesmo respondida:  Servirá para que todos nós levemos o camarão e a azeitona para a empada dos Amorins.
O DESCARTE DE VALADARES
Logo após a ruptura política, o senadorValadares  com a autoridade da sua , digamos assim, imensurável experiência,  se fez de bombeiro, buscando o que até poderia ser o rescaldo do já consumado incêndio. Com transito fácil em ambos os lados,essa sempre foi uma das suas características, ( o que em política é  valioso capital ) Valadares intermediava  uma improvável reconciliação, ou,  pelo menos, a manutenção de canais para um possível restabelecimento do diálogo. Esteve longamente com o governadorno mais aceso da crise,  então, pessoas ligadas ao grupo dos Amorim passaram a exigir do senador  um rompimento com o governo,  tratando-o como se ele  houvesse se transformado em vassalo, e ameaçando um rompimento do acordo para a indicação de Belivaldo Chagas  ao Tribunal de Contas.  Depois, talvez em consequência docalor da crise,  Edivan praticamente descartou a interferência de Valadares, dizendo que não precisava de ¨bombeiros ¨ nem de intermediários, pois  tinha o telefone do governador, e por sua vez  Déda também tinha o telefone dele.

DÉDA, DO CANTÃO SUIÇO À SUISSA SERGIPANA
Marcelo Déda que neste domingo completa 52 anos, teve uma formação política marcadamente ideológica, naqueles embates da juventudecontra uma alongada ditadura que  estertorava, teimando em sobreviver.   Elegeu-se deputado pelo Partido dos Trabalhadores, sua identidade política da qual nunca se desligou. No parlamento, marcou uma etapa brilhante da ação oposicionista pós- ditadura, quando oalvo escolhido eram as chamadas elites sergipanas, que se revezavam no poder obedecendo a um figurino conservador.  Nos mais acirrados momentos nunca perdeu a civilidade política que o caracteriza, e issoo transformou após a bem sucedida passagem pela prefeitura de Aracaju, na  opção viável de poder  para o petismo, que já entendera a necessidade de romper o casulo ideológico onde se  fechava, e abrir-se para alianças mais amplas. Para a primeira conquista do governo nem foi preciso mais pragmatismo e menos ideologia, porque as alianças se fizeram num leque predominantemente de centro-esquerda,com a força galvanizadora de um discurso centrado em mudança. No governo, apóscivilizadíssima transição, Déda cedo entendeu que, mesmo com a sua bagagem cultural,  visão  social transformadora, governar Sergipe não seria  tarefa nem de longe parecida  àquela do chefe dos conselhos que administram  Cantões suíços, onde a política é apenas o acessório  irrelevante na vida de uma sociedade que se move ordenadamente pelas suas próprias regras, e uma espécie de pacto social obedecido por gerações.  Exatamente em Aracaju, há uma Suissa, assim, com 2 esses,  incorreção que não é somente ortográfica, com efeito, muito mais,  a própria síntese urbana das nossas  imperfeições maiores,  sociais, políticas, comportamentais, e também, surpreendentemente,  uma vitrine  a exibir a capacidade de superação da nossa gente. ASuissa  era um areal  pontilhado de casebres, onde havia violência, pobreza extrema, mas a esperança venceu a adversidade, e  se formou um bairro organizado, que a ninguém envergonha.   Lá, políticos fazem assistencialismo, pessoas pedem dinheiro em troca de votos, chefetes ou líderes comunitáriosse movem em função dos favores do poder público. Sergipe é um desafio, assim como a nossa Suissa, com seusesses dobrados.
Rompida a aliançaincômoda, Déda, distante da Suiça  com c cedilha, mais próximo da nossa real, verdadeira e desafiadora,  terá de refazer uma coalizão, e  se moveu rapidamente neste sentido. Acostumado ao êxito resultantedo discurso ideológico, aos 52 anos  não terá de rasgar um breviário de valores, apenas, precisará fazer uma imersão maior na política como a arte do possível.  Construir uma baseindispensável para a governabilidade, ao mesmo tempo,  ampliar a popularidade, é  tarefa  necessária,  todavia,   seguindo um modelo antigo.   A sociedade não dá saltos, a não ser quando se fazem revoluções armadas e, após o sacrifício de gerações, se descobre que a evolução pacifica e democrática poderia ter sido um projeto mais eficiente.
 Mais difícil do que refazer a base será mantê-la, azeitá-la, a ela dar atenção revigorada, carinho, preferencialmente, como recomenda o PHD em política Antonio Carlos Valadares.
Se a história não chegou ao fim, como preconizou açodadamente ofuncionário da CIA ,Francis Fukuyama, que se fez pensador, há que se constatar, todavia, que para colocá-la em marcha é preciso incorporar novos elementos ,  fascinantes desafios,  um discurso revigorado e atualizado da esquerda, sem preconceitos e sem exclusões, porque, enfim, no nosso caso, a meta colimada seria mesmo  nos transformar numa espécie de remodelada, brasileira e popular Suiça, a partir daquela real, com seus dois equivocados esses.
Paraque se chegue a esse objetivo de modernidade, permanece atual o velho receituário da política antiga, que recomendava compadrios, no bom sentido, desses que o político constrói tantas vezes,  chegando manhã cedo para tomar um café e comer   cuscuz com ovo na casa acolhedora de um prefeito ou  vereador  de algum município distante.

 MILTON SANTOS, UMEXEMPLO
Na velha política podem ser garimpados com certa fartura exemplos de políticos corretos, dignos, que não usaramcargos públicos  como instrumentos para  vantagens pessoais. Milton Santos que faleceu semana passada aos 96 anosfoi um desses políticos do passado que honraram  a classe política. Vereador em sucessivos cinco mandatos, Milton cumpria zelosamente suas obrigações de legislador municipal enquanto exerciao seu mister de professor de mecânica, especializado nas antigas Linotipos. Deixa vários filhos, entre eles o professor e radialista Vilder Santos.


MAGÁ O HOMENAGEADO
Agora são proibidas homenagens a pessoas vivas com seus nomes colocados em logradouros públicos.  A restrição aplica-se, ao que parece, exclusivamente aosagentes públicos, tanto eles abusaram colocando  nomes em ruas, avenidas, escolas, hospitais, estradas, pontes, tribunais, fóruns, salas e salões,   estádios, viadutos, postos de saúde. Sócemitérios escaparam. Em Canindé do São Francisco o prefeito Orlandinho Andrade inaugura um moderno ginásio de esportes e o denomina Arena Carlos Magalhães,o nosso Magá.
 Nada melhor do quehomenagem em vida a um  radialista que fez e faz história no rádio sergipano, e é, ainda mais,  um sanitarista que  inovou  quando exerceu o cargo de Secretário em Aracaju; além da sua atuação também como professor e político.  Homenagem justa a um sergipano que a merece.
REGISTRO E AGRADECIMENTO PESSOAL
Os traumas da juventude quase sempre o tempo os leva e os torna esquecidos.  No meu caso, tenho um que me acompanha faz mais de 50 anos:a visão de meu pai morto em consequência de  clamoroso erro médico,  cirurgia de apêndice desnecessária, como o próprio cirurgião afirmou, pouco antes de o seu paciente e vítima morrer ao sair da sala de cirurgia.
 Aos 71 anos e superando uma anemia ferroprivaque há 10 anos o Dr. Luiz Carlos Andrade me ensinou a com ela conviver, uma hérnia de hiato que já comprimia pulmões e quase o coração, me colocou diante da inevitabilidade de uma cirurgia. Para um traumatizado, cirurgiaapresentava-se quase como inescapável fatalidade. A morte é inevitável, mas,todos os que não estejam desencantados com a vida, burrice extrema, sempre desejam viver um pouco mais.  A cirurgia iminente não deixava de afligir-me. Numa madrugada, olhando o límpido firmamentodo sertão, imaginei a explosão de uma visível  estrela naquele instante, e que a nós só chegaria anos, séculos ou milênios depois.  Continuaríamos vendo a mesma estrela inalterada pelos feixes de luz ainda cruzando a imensa trajetória, para o infinito do universo um quase nada. E eu ali, um entre mais de sete bilhões de seres humanosbestamente preocupado com o retorno ao pó,   acidente ínfimo, pessoal,   fato absolutamente irrelevante em face da vida que prossegue.  A relativa compreensão que temos do universo talvez sirva para domar o nosso egoísmo, dissolvendo a consciência particular da morte no complexo conjunto do cosmos.
 Acabaram-se ali, na madrugada solitária, enquanto Eliane dormia, as minhas preocupações. Depois, se viesse o fim e houvesse mesmo a outra vida, que não fosse monótona, ao som monocórdio das trombetas angelicais, da monodia dos cantos gregorianos, que se permitisse, ao menos, a polifonia sóbria de um Sebastian Bach. Mas aí eu já me imaginava merecendo o paraíso, e tendo dele uma visão aproximada às delicias que nele os islâmicos acreditam poder fruir,assim, a eternidade,em permanente agito de muito fazer,   se faria suportável.
Mas há sempre o instinto de sobrevivência sem o qual as pessoas desmerecem o domda vida.
 Procurei o conselho amigo e confiável do Dr. Francisco Rollemberg,disse-lhe que pensava fazer a cirurgia em São Paulo.    E ele foi categórico:¨ Lá você poderá encontrar um profissional muito competente, não maisporém do que a doutora Sônia Oliveira Lima  que vive aqui mesmo em Aracaju. ¨No contato com a médica, simples, acessível, segura, desfizeram-se todos os receios. Depois, conversas com outros médicos, muitos que dela foram alunos, como Gilberto Santos, Wolney Maciel de Carvalho Filho, Eduardo Amorim, Wagner Oliveira, só me fizeram ampliar a confiança na doutora Sônia, recomendada ainda mais pela  amiga, que me dava o aval cardiológico,  a minudente preparação do pré-operatório, a doutora Conceição Prudente. Houve tambémoutra amiga médica, Bete Galrão Figueiredo, a exaltar a experiência da doutora Sônia. Sobre o anestesista Doutor Geraldo Melo as opiniões eram também unanimes. Assim, após uma cirurgia de seis horas e meia, graças as mãos miraculosamente hábeis da doutora Sônia, da competência do anestesista Doutor Geraldo Melo, da equipe do Hospital Primavera, estou outra vez aqui escrevendo, e livre dos efeitos de um estomago em desordenada posição indevida, quem sabe, consequência dos excessos dos tempos de remador, e dos socos que mandava os netos desferirem,exatamente no meu umbigo, até que os senti capazes de me porem a nocaute.
 Mas agora só tenho a expressar gratidão, muita gratidão, especialmente à doutora Sônia, ao Doutor Geraldo Melo, aos familiares que me suportam, a todos os muitos amigos que vieram de Canindé, de Poço Redondo, aqui mesmo de Aracaju, paradoar sangue, aos que fizeram  orações, mensagens, enfim, à força da amizade que reforça a espiritualidade, invocando santos, entidades benfazejas,  que sempre chegam para dar uma mãozinha adjutória, como intermediários Do lá de cima


Um comentário:

  1. Seus artigos sempre bons e prendendo a leitura dos que o acessam até o final.

    Parabéns velho escriba.

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