O ex-governador João Alves sempre foi tido como um político cordial e um cidadão de trato respeitoso. Mas, no último mandato, ele reincidiu em sucessivas crises de intolerância. Processou jornalistas a granel. Alegava sempre que não toleraria ofensas à sua honra. E essas ofensas nunca existiam. Eram apenas críticas, algumas bem vigorosas, cáusticas até, mas nada que ultrapassasse os limites do saudável debate político, da incisiva prática de uma democrática oposição. Homem público calejado no terceiro mandato João pareceu ter perdido o hábito da convivência com o contraditório. Excedeu-se em ações judiciais, tentando, através da intimidação, colocar um guante de medo nos poucos, aliás, que ousavam criticar o seu governo. Não deu certo. E o que poderia ser apenas a manifestação corriqueira de discordâncias políticas, transformou-se numa luta acirrada, algumas vezes tresandando a ódio, e em escorregões que afetaram a nossa boa imagem de civilidade política. Passada a refrega, João, derrotado na tentativa de reeleger-se, comportou-se com urbanidade, permitiu que ocorresse um processo civilizado de transição, e a solenidade de passagem do poder transformou-se num ato que, de ambas as partes, honrou as nossas melhores tradições políticas. Se no governo João Alves algumas vezes destemperou-se em adjetivos desprimorosos e deselegantes contra adversários, na oposição, ultrapassou também, em algumas oportunidades, os limites do razoável. Foi extremamente agressivo em relação ao ex- Secretário da Saúde e atual deputado federal Rogério Carvalho, chamando-o de criminoso, chegando a acusá-lo de genocídio, responsável pela morte de centenas de crianças. Rogério seria, assim, quase um daqueles carniceiros dos Bálcãs julgados pela Corte Internacional de Haia. Agora, a justiça reconhece que o ex-governador efetivamente se excedeu, e o condena a um ressarcimento moral simbólico. Uma sentença do jovem Juiz Aldo Albuquerque, que vem dando sucessivas demonstrações de como fazer a Justiça aliar-se ao bom senso.
Estamos às portas de uma nova disputa eleitoral, e é preciso que cada eleição nos sirva como aula de evolução democrática. A sociedade sergipana espera um debate consistente em torno dos problemas municipais. Que haja reciprocidade, então, no tratamento civilizado entre os contendores. Certamente, o episódio da condenação judicial terá sido útil para todos os que estarão envolvidos na disputa, a fim de que não percam de vista a necessidade do comedimento, e do respeito mútuo. Poderiam, os futuros candidatos, mirar-se no exemplo do que acontece na Assembleia Legislativa, naqueles sempre calorosos confrontos envolvendo os dois líderes do governo e da oposição, Francisco Gualberto e Venâncio Fonseca. Até agora, mesmo no clímax do mais acirrado embate, não se tem notícia de que Venâncio ou Gualberto tenham chamado um ao outro de criminoso.
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