sábado, 21 de janeiro de 2012

MACHADO, O VOZEIRÃO DO BEM


Dificilmente, haverá em Aracaju alguém com mais de 40 anos, que não haja escutado o vozeirão do   Dr. Machado. Numa visita particular em casa, carregando a sua maleta preta, num posto de saúde, num dos raros hospitais, ou    vencendo a lama, deixando atrás atolado o Chevrolet chapa 10,  para, num prostíbulo, socorrer um recém-nascido que agonizava, vindo à luz prematuramente, filho de uma  quase criança,  que escondera a gravidez. Em todos os lugares era ouvido o vozeirão do pediatra.  Ele disfarçava pessimamente o vozeirão, tentava falar mais baixo, dava um  tom carinhoso à voz, mas era inútil. O vozeirão lhe vinha de  dentro , fisicamente do peito, espiritualmente da alma, que era poderosa, principalmente quando o médico se transformava em homem público e o soltava para fazer denuncias. Machado era desabusado,  muitas vezes inconveniente, ou seja, chutava as circunstancias  adversas, para dizer, livre,  o que queria, o que pensava, quase sempre para denunciar omissões, problemas na área da saúde.  Se as crianças temiam o vozeirão do Dr. Machado, os gestores públicos talvez o temessem muito mais.  E o respeitavam por isso. As crianças, depois, o enxergavam com carinho e agradecimento, tantos, lhe deviam a vida. A sociedade sergipana ainda lhe deve um reconhecimento maior.
Jose Machado de Souza foi vice-governador de Sergipe. Integrou a chapa de Leandro Maciel, foi mais votado do que ele. Naquele tempo votava-se nos dois. Udenistas, pessedistas,    juntaram-se, e votaram majoritariamente em Machado. Leandro não deu mostras de ressentimento. Tinha consciência de que, como líder udenista, polarizava Sergipe, Machado, como médico, unia os sergipanos. Mas não foram poucos os ¨chaleiras¨  que tentaram convencer o chefe a não dar espaço ao vice. Machado sabia de tudo e soltava o vozeirão: ¨São uns  idiotas ,  eu não quero saber de política, estou preocupado mesmo é com o Hospital Infantil ¨.
Augusto  Franco foi buscá-lo para que ele fosse Secretário da Saúde. Machado relutou, Augusto o convenceu: ¨Você foi o médico de todos os meus filhos, agora, eu quero que você seja o médico de todos os sergipanos ¨. Carlinhos Machado,  que trabalhou ao seu lado, lembra de quantas vezes o pai se angustiava por não poder ultrapassar rapidamente os obstáculos burocráticos, por não ter em mãos os recursos que precisava para realizar os projetos  com os quais sonhara.



 Neste domingo, dia 22,  os filhos, os netos, os amigos do Dr. Machado encomendaram uma missa para assinalar a data que seria a dos seus 100 anos. Em memória, também, incluindo Dona Anita, a devotada companheira ,  e dois filhos que se foram antes.

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