Dificilmente, haverá em Aracaju
alguém com mais de 40 anos, que não haja escutado o vozeirão do Dr. Machado. Numa visita particular em casa,
carregando a sua maleta preta, num posto de saúde, num dos raros hospitais, ou vencendo a lama, deixando atrás atolado o
Chevrolet chapa 10, para, num prostíbulo,
socorrer um recém-nascido que agonizava, vindo à luz prematuramente, filho de
uma quase criança, que escondera a gravidez. Em todos os lugares
era ouvido o vozeirão do pediatra. Ele
disfarçava pessimamente o vozeirão, tentava falar mais baixo, dava um tom carinhoso à voz, mas era inútil. O
vozeirão lhe vinha de dentro ,
fisicamente do peito, espiritualmente da alma, que era poderosa, principalmente
quando o médico se transformava em homem público e o soltava para fazer
denuncias. Machado era desabusado, muitas vezes inconveniente, ou seja, chutava
as circunstancias adversas, para dizer,
livre, o que queria, o que pensava,
quase sempre para denunciar omissões, problemas na área da saúde. Se as crianças temiam o vozeirão do Dr.
Machado, os gestores públicos talvez o temessem muito mais. E o respeitavam por isso. As crianças, depois,
o enxergavam com carinho e agradecimento, tantos, lhe deviam a vida. A
sociedade sergipana ainda lhe deve um reconhecimento maior.
Jose Machado de Souza foi
vice-governador de Sergipe. Integrou a chapa de Leandro Maciel, foi mais votado
do que ele. Naquele tempo votava-se nos dois. Udenistas, pessedistas, juntaram-se, e votaram majoritariamente em
Machado. Leandro não deu mostras de ressentimento. Tinha consciência de que,
como líder udenista, polarizava Sergipe, Machado, como médico, unia os
sergipanos. Mas não foram poucos os ¨chaleiras¨ que tentaram convencer o chefe a não dar
espaço ao vice. Machado sabia de tudo e soltava o vozeirão: ¨São uns idiotas ,
eu não quero saber de política, estou preocupado mesmo é com o Hospital
Infantil ¨.
Augusto Franco foi buscá-lo para que ele fosse Secretário
da Saúde. Machado relutou, Augusto o convenceu: ¨Você foi o médico de todos os
meus filhos, agora, eu quero que você seja o médico de todos os sergipanos ¨.
Carlinhos Machado, que trabalhou ao seu
lado, lembra de quantas vezes o pai se angustiava por não poder ultrapassar rapidamente
os obstáculos burocráticos, por não ter em mãos os recursos que precisava para
realizar os projetos com os quais
sonhara.
Neste domingo, dia 22, os filhos, os netos, os amigos do Dr. Machado
encomendaram uma missa para assinalar a data que seria a dos seus 100 anos. Em
memória, também, incluindo Dona Anita, a devotada companheira , e dois filhos que se foram antes.
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