Desgraçadamente, desrespeito às leis do transito tornou-se, entre nós, um hábito arraigado, uma questão cultural. Boa parte dos motoristas nas ruas e estradas não tem a mínima noção das responsabilidades que envolvem a condução de um veículo motorizado. Quando se trata de pilotos de motos aí a coisa assume uma assustadora gravidade. É fácil possuir carteira, são reduzidas as exigências para tornar-se habilitado, e sair pelo mundo a fora, colocando a vida em perigo e ameaçando a vida dos outros. Beber e dirigir é hábito arraigado, alguns até se mostram incomodados quando advertidos para a proibição de ingerir álcool e assumir o volante. Afinal, o carro lhes pertence, a vida é deles, e eles sabem o que fazem. Aqui, além das facilidades para tornar-se motorista, há uma enorme permissividade, uma tolerância, uma gritante omissão. Criou-se o bafômetro, mas ninguém é obrigado a se submeter ao teste, porque, entenderam doutos hermeneutas da lei, que isso seria violar um direito do cidadão. São raras as blitzes para coibir abusos no transito. Tudo corre bem permissivamente, bem frouxamente. Há motoristas de caminhão usando desbragadamente o rebite, desmaiando ao volante, causando acidentes sucessivos, mortes em profusão. Quando se viu nas estradas brasileiras a polícia parando caminhões, ou fechando, nas estradas, os pontos de venda escancaradamente conhecidos do rebite ?
Nos postos de gasolina reúnem-se todos os fins de semana as galeras, para beber, também drogar-se. Depois, saem transformando ruas em pistas de corrida.
Lembremos aqui, exigências existentes para que alguém tenha o direito de dirigir um veiculo num pais modelar e distante a Nova Zelândia. Lá, o transito flui em ordem e os acidentes são raros. Um menor de 16 anos pode receber uma licença precária para dirigir. Naquele pais a responsabilidade penal começa aos 16 anos. O jovem é habilitado depois de rigorosos testes, de um aprendizado eficiente, e tem, então, licença para dirigir por 6 meses, desde que acompanhado por alguém da família. Não pode transportar outros passageiros, e só dirige durante o dia. Após 6 meses, se não cometeu infração, submete-se a novo teste. Aprovado, recebe licença para dirigir por 2 anos, mas, com uma série de restrições. Após os 2 anos, se não cometer infração, faz novo teste e recebe a carteira definitiva, que poderá ser cassada a qualquer momento, por exemplo, se for flagrado dirigindo embriagado. Se atropelar, causar acidente, ferir ou matar, ai as consequências serão bem pesadas, a pena poderá chegar aos vinte anos.
Aqui no Brasil escandalizamo-nos, nos revoltamos quando acontecem acidentes graves, quando então se costuma lançar a culpa exclusivamente sobre quem causou o acidente, esquecidos, talvez, de que a nossa leniência, a nossa tolerância, o nosso conformismo, a nossa falta de ação e cidadania para exigir leis mais rigorosas, educação para o trafego fazendo parte do currículo escolar, regras mais eficazes para a concessão de carteiras, tudo isso, que não se inclui na nossa cultura de omissões; tudo que revela a responsabilidade coletiva, da qual cada um vai fugindo, se esquivando.
Por falar em acidentes, em transito matando mais do que as guerras, Aracaju não pode continuar sem que se estabeleçam rigorosos controles do limite da velocidade. Na orla da Atalaia, na Sarney nos fins de semana a coisa é feia.
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