segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A TRAJETÓRIA DE UM HOMEM DIGNO

 Juarez Alves Costa, economista, professor universitário,  Secretário do Planejamento, técnico da SUDENE, Conselheiro do Tribunal de Contas, foi, muito mais do que os títulos que conquistou, dos cargos que exerceu, um ser humano apegado a valores éticos, cultor de afetos,  militante de uma convicção cristã que exercia com a cotidiana tranquilidade dos iluminados. Para ele a fé não era apenas aquele invólucro de salvaguardas pessoais que alguns constroem de forma egoísta,  esquecendo-se do mundo. Juarez acreditava firmemente no cristianismo como força transformadora das pessoas e da humanidade. E assim o viveu e assim  dele se fez um militante coerente, sensato,  sobretudo humilde.
 Nascido em Propriá, filho de um casal pobre, o pai era pescador, Juarez  concluiu o curso médio e veio a Aracaju para fazer faculdade. Na sua cidade já era nome respeitado, um jovem  que segundo seus contemporâneos , tinha tudo para ¨subir na vida ¨.  Fez concurso para o Banco do Nordeste, e então,  emprego garantido,   o vestibular para a antiga Faculdade Estadual de Economia na praça Camerino.  Integrou-se à Juventude Universitária  Católica,  levado pelo padre Luciano, de quem se tornou amigo,  discípulo espiritual e intelectual por toda a vida. Na JUC conheceu Carmen, estudante de Serviço Social. Era moça rica, filha de Melicio Machado,    dono de extensos coqueirais, que iam da Atalaia ao Mosqueiro,  destaque em reportagem  de capa da revista O Cruzeiro,  sendo chamado de  ¨Rei do Côco¨.
 Juarez atormentava-se, falava, sempre muito discreto, a poucos amigos, sobre suas dúvidas, inquietações,  afinal, era um pobre namorando   moça rica, de família influente. Iriam pensar certamente, naquela cidade tão acanhada, tão preconceituosa, que ele fosse um arrivista vindo de Propriá em busca de  patrimônio. Essas dúvidas, a própria Carmen, jovem como ele simples, como ele também em busca de caminhos para uma sociedade menos injusta, logo o ajudaria a superá-las. Quando foi a Propriá visitar a casa humilde dos pais em companhia de Carmen, Juarez teve a certeza de que aquela era a companheira ideal para toda a vida. O próprio sogro Melício, que tão bem conhecia a filha, logo depois o ajudaria a tornar ainda mais sólida aquela certeza. Na JUC, naquele período turbulento do inicio dos anos 60, Juarez, social – cristão servia de elo  no difícil e as vezes exacerbado diálogo com a parcela mais visível da esquerda marxista. Juarez era respeitado pelos jovens comunistas, que  costumavam  varar madrugadas  em minúsculo apartamento de solteiro onde ele vivia, num recém inaugurado prédio,  esquina das ruas Arauá e Estancia, discutindo aspectos teóricos e quase nunca práticos, da sonhada Revolução Brasileira.
Sensato e comedido, cercado por jovens estudantes bem mais moços do que ele,  quando houve a renuncia de Jânio, e uma Junta Militar assumiu o poder, Juarez fazia parte do grupo que pichava paredes, distribuía panfletos impressos às escondidas em mimeógrafos nos Diretórios Acadêmicos.  Estava, também, entre os que foram à Prefeitura de Aracaju para a resistência armada que se pensava fosse iminente, quando o coronel Bragança, comandante do  28 BC, ameaçou ir com sua tropa retirar  das janelas do prédio os alto-falantes que transmitiam a Cadeia da Legalidade, voz da resistência contra o golpe, montada por Brizola no Rio Grande do Sul. O conflito foi evitado pela intermediação de Dom  Távora. Na noite de 28 de agosto de 61, levados os estudantes para o quartel, o coronel Bragança depois de quase torrar os olhos dos seus ¨convidados¨   com o facho forte de alguns holofotes, já com dia claro, após  longa preleção, misto de apelo e ameaça, voltou-se para Juarez e lhe disse: ¨o senhor, que parece ser o mais velho de todos, e que eu sei, é também funcionário federal, assuma a responsabilidade de mostrar a  seus colegas a gravidade da situação que vivemos. Nós militares estamos  salvando o Brasil dos assassinos e bandidos comunistas. Todos devem colaborar, principalmente vocês,  estudantes. Podem voltar às suas casas. ¨
No mesmo dia, todos, inclusive Juarez, que recusara a missão de ¨ conselheiro¨   estavam de novo,  rodando panfletos ¨subversivos¨. 
Eleito governador, Lourival Baptista foi buscar Juarez no Recife para comandar o Conselho de Desenvolvimento Econômico de Sergipe. Ele, junto com outros sergipanos,  Jacó Charcot Pereira Rios, Geraldo Oliveira, fazia parte do seleto time de técnicos da  SUDENE, criada por Celso Furtado nos tempos esperançosos de Juscelino.
Juarez, com a visão moderna dos ¨cepalinos  , ¨ planejou o desenvolvimento de Sergipe. Saiu dele a ideia do  Distrito Industrial em Aracaju, também, da construção da primeira adutora a retirar água do São Francisco para abastecer municípios sertanejos. Juarez  fez parte daquela fornada exemplar de homens públicos que inaugurou o Tribunal de Contas ,  criado por Lourival Baptista. Foi Conselheiro até aposentar-se aos 70 anos.
Juarez deixa viúva Carmen Resende Machado Costa, e duas filhas, as promotoras de Justiça  Ana Paula  e Ana Cláudia.

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