domingo, 31 de julho de 2011

A POSSE DE ANGÉLICA E A FALA DE DÉDA


A presidente da Assembléia, Angélica Guimarães, governa Sergipe por 10 dias. Ela não é a primeira mulher  no governo de Sergipe, como se chegou a afirmar. A memória parece curtíssima, pois, há menos de 6 anos   Marília Mandarino era   vice-governadora da Sergipe, e assumiu diversas vezes durante as numerosas e movimentadas viagens de João Alves ao exterior, também, durante um curto período em que o governador esteve enfermo.  Outras mulheres também exerceram  a “curúl  governamental”, como gostava de escrever, um tanto barroco, o jornalista e promotor público Marques Guimarães, incansável ocupante da Secretaria de Imprensa em sucessivos governos. Estiveram  ainda comandando Sergipe por alguns dias, as desembargadoras Clara Leite Resende e  Marilza  Maynard Salgado. Luiz Antonio Barreto,  Gilfrancisco, Ibarê Dantas e outros sergipanólogos de escol , ficam desafiados a esclarecer qual a primeira vez e quantas vezes aconteceu essa prática de transferência do poder ao Legislativo e ao Judiciário, como gesto de deferência.
Essa passagem do governo aos presidentes da Assembléia  e também do Tribunal de Justiça, é uma usual gentileza  dos governadores que se licenciam, e dos vices que não assumem, como forma de homenagear os poderes Legislativo e Judiciário.  Dessa vez, a posse da deputada Angélica Guimarães carrega outros simbolismos de natureza política, que foram, aliás,  bem explicitados  na fala do governador Marcelo Déda.
 Déda   quis  desfazer a impressão de que andaria às turras com o chamado “Grupo dos Amorins”,  uma  vistosa coligação de partidos arquitetada pelo empresário Edvan Amorim e seu irmão  Eduardo Amorim,  recordista de votos  na disputa pelo Senado. No dia seguinte ao das eleição , ele, já era  apontado como o mais forte concorrente à sucessão de Déda.
 Déda,  com espírito leve e veia humorística, perguntou se alguém que estivesse desconfiando de um aliado, que com ele vivesse a se desentender, e dele quisesse distancia, chamaria uma deputada pertencente a esse mesmo grupo e lhe entregaria o governo,  fazendo isso  em perfeita sintonia com o vice Jackson Barreto que, providencialmente, tomou férias e viajou a Europa.
Depois, fez considerações sobre o significado das alianças, das coligações partidárias, da necessidade de construí-las e  de saber conservá-las. Mostrou que um projeto político ,   numa sociedade como a brasileira,   onde não há uma clara clivagem ideológica,  um projeto político somente se torna apto à conquista do poder se conseguir formar alianças abrangentes. Considerou natural a disputa interna pelo poder, e perguntou mais ou menos nesses termos: “Existe hoje em Sergipe alguém que se considere mais legitimamente merecedor de chegar ao governo, mais favorecido pelas circunstancias do que o vice Jackson Barreto”?
Para logo em seguida acrescentar: “Dizem que o senador Eduardo Amorim está de olho na minha cadeira.  Quem disse que eu me importo? Pelo contrário, acho natural,  acho saudável, acho politicamente correto, até porque, confesso que eu também estou de olho na cadeira dele lá no Senado.”
Déda  ironizou ainda as  especulações indicando um distanciamento dele com o prefeito Edvaldo Nogueira, que, bem perto, era só sorrisos.
O que se pode concluir de concreto dessa simbologia da posse de Angélica, dos fatos e versões nela registrados,  da fala do governador e suas habilidades retóricas?
Simples, bem simples. O governador está interessadíssimo em garantir sem arranhões mais profundos, a sua aliança com o grupo dos Amorins, a sintonia até agora perfeita com Jackson Barreto. Mas, certamente, esperaria que tanto Jackson  e Amorim chegassem a um entendimento, e as chapas majoritárias fossem formadas , com ele, Déda, Jackson e Amorim, e todo os aliados trocando fortes apertos de mão, num clima de consenso que abrangesse também o forte grupo do senador Valadares, e não estivessem tão desencontradas as tendências que formam o PT. Um político presente à solenidade, registrou, com estranheza, a ausência  tanto do senador Valadares como a do deputado federal Valadares Filho,  Os dois descartavam ontem qualquer aparência de hostilidade numa ausência que, segundo eles, ocorreu apenas  pelo fato de não terem sido convidados para a solenidade.
Um outro político presente, revelando pendores de futurologista, adiantava a chapa majoritária para 2014: Eduardo Amorim, governador, Jackson Barreto vice, e Marcelo Déda Senador,
  ou o deputado federal Valadares Filho como vice na chapa de Eduardo Amorim e Jackson assumindo o governo, isso porque, há uma interpretação da lei eleitoral que tornaria inviável a candidatura de Jackson a vice, permanecendo no governo. O mesmo político não afastava a hipótese de um rompimento do grupo do senador Valadares, e ele então se tornaria candidato ao governo com o apoio de João Alves, provavelmente de Albano, e somando ainda mais alguns grupos descontentes, inclusive da esquerda. E era admitida também, a hipótese segundo o político nada improvável, de uma candidatura de Jackson ao governo e Marcelo Déda ao Senado, com Valadares Filho na vice, o que significaria,  então, um improvável afastamento do grupo dos irmãos Amorim.

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