ENTRE O JORNALISMO DO POSSÍVEL E A CHANTAGEM
Já disse, com evidente exagero, o inigualável Millor
Fernandes: “Jornalismo é oposição fora disso é armazém de secos e molhados”.
Realista, e cinicamente correto, definiu Assis Chateaubriand:
“A liberdade de imprensa acaba onde começa o interesse do dono do jornal”.
Na época em que ele falou isso, a palavra imprensa era
exclusivamente sinônimo de jornal. A TV
ainda um experimento incipiente e arriscado, o rádio o mais abrangente, todavia,
jornal era mesmo o grande formador de opinião, ou melhor, o que circulava os “recados”
da elite, e por isso tinha influencia preponderante no mundo político, e nas
decisões. Todos os grandes jornais
dependiam do poder público, dos
financiamentos do Banco do Brasil, e faziam uma espécie de cartel da
comunicação. O cartel foi rompido quando um ousado Samuel Wainer criou, sob as benção de
Getúlio, a Ultima Hora. Foi derrubando um a um os jornalões, fazendo uma
comunicação descontraída, popular, sem editoriais sisudos e floreados. Depois
de 64, todos se juntaram para exterminar a Ultima Hora. O jornal moderno e
popular acabou.
Como se vê o terreno da comunicação não é assim aquela
superfície limpa, muito menos virtuosa, que alguns chegam a imaginar. Esse
jornalismo investigativo de hoje, que inventaram como o supra-sumo da arte de
comunicar, é algo que deve ser visto com reservas, dentro daquela visão do
velho Chateaubriand, sobre os “interesses do dono”.
É preciso que se relativize aquela imagem de idealismo e
coragem que aureolava os velhos jornalistas, os que enfrentaram empastelamentos
, prisões, atentados. Que se relativize, em função do tempo decorrido desde
então. Agora, o capital sobranceiro se colocou bem acima de quaisquer outras
considerações, inclusive éticas. Afinal, o que vem a ser mesmo ética, nesse nosso
meio tão cercado e tão susceptível às
tentações?
Dizia Filipe, pai de Alexandre o Grande: “Não há muralha, por
mais sólida que seja capaz de resistir a
um burro carregado de ouro”.
É sensatamente recomendável que não acreditemos plenamente
nos ídolos da retidão, da pureza ética, do moralismo colocado no pedestal
intocado da virtude absoluta. Valeria até perguntar, lembrando desses ícones do moralismo: “Será que o Juiz Sérgio
Moro faz, sem nada receber, essas freqüentes palestras para empresários?”
Mas, já que estamos a falar sobre jornalismo, comunicadores,
tentações, e chantagens, caberia a pergunta: Será que o radialista André Barros
incorporou definitivamente a chantagem explícita ao seu ofício?
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