domingo, 21 de agosto de 2016

ENTRE O JORNALISMO DO POSSÍVEL E A CHANTAGEM



ENTRE O JORNALISMO DO POSSÍVEL E A CHANTAGEM
Já disse, com evidente exagero, o inigualável Millor Fernandes: “Jornalismo é oposição fora disso é armazém de secos e molhados”.
Realista, e cinicamente correto, definiu Assis Chateaubriand: “A liberdade de imprensa acaba onde começa o interesse do dono do jornal”.
Na época em que ele falou isso, a palavra imprensa era exclusivamente sinônimo  de jornal. A TV ainda um experimento incipiente e arriscado, o rádio o mais abrangente, todavia, jornal era mesmo o grande formador de opinião, ou melhor, o que circulava os “recados” da elite, e por isso tinha influencia preponderante no mundo político, e nas decisões.  Todos os grandes jornais dependiam  do poder público, dos financiamentos do Banco do Brasil, e faziam uma espécie de cartel da comunicação. O cartel foi rompido quando um ousado  Samuel Wainer criou, sob as benção de Getúlio, a Ultima Hora. Foi derrubando um a um os jornalões, fazendo uma comunicação descontraída, popular, sem editoriais sisudos e floreados. Depois de 64, todos se juntaram para exterminar a Ultima Hora. O jornal moderno e popular acabou.
Como se vê o terreno da comunicação não é assim aquela superfície limpa, muito menos virtuosa, que alguns chegam a imaginar. Esse jornalismo investigativo de hoje, que inventaram como o supra-sumo da arte de comunicar, é algo que deve ser visto com reservas, dentro daquela visão do velho Chateaubriand, sobre os “interesses do dono”.
É preciso que se relativize aquela imagem de idealismo e coragem que aureolava os velhos jornalistas, os que enfrentaram empastelamentos , prisões, atentados. Que se relativize, em função do tempo decorrido desde então. Agora, o capital sobranceiro se colocou bem acima de quaisquer outras considerações, inclusive éticas. Afinal, o que vem a ser mesmo ética, nesse nosso meio tão cercado e tão  susceptível às tentações?
Dizia Filipe, pai de Alexandre o Grande: “Não há muralha, por mais sólida que seja capaz de  resistir a um burro carregado de ouro”.
É sensatamente recomendável que não acreditemos plenamente nos ídolos da retidão, da pureza ética, do moralismo colocado no pedestal intocado da virtude absoluta. Valeria até perguntar, lembrando desses  ícones do moralismo: “Será que o Juiz Sérgio Moro faz, sem nada receber, essas freqüentes  palestras para empresários?”
Mas, já que estamos a falar sobre jornalismo, comunicadores, tentações, e chantagens, caberia a pergunta: Será que o radialista André Barros incorporou definitivamente a chantagem explícita ao seu ofício?

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