A TRADIÇÃO DO CACIQUE CHÁ
Nas mesas do Cacique Chá traçava-se o destino de
Sergipe, resolviam-se as crises brasileiras. Havia aquelas mesas freqüentadas
pela intelectualidade, por estudantes, onde as discussões eram acirradas e a
cerveja copiosa. Sobre aquele tempo de esquerda festiva e direita civilizada,
já escreveu João Augusto Gama, um quase
menino, incipiente freqüentador das ¨tertúlias ¨, até com a presença de um Tertuliano, o
Azevedo. Além da política e do mal falar,
a curiosidade inevitável pela vida alheia, apenas com ironia e sem
raivosidade , no Cacique acontecia o
que era bem melhor : o escurinho de uma buate
quase puritana, onde as caricias
e a sensualidade da dança tinham limites rigorosos traçados pelo vigilante
atento, o proprietário Freitas, cioso da distinção a ser feita entre o distinto
Cacique familiar, e o cabaré de Tonho do Mira.
Mas Freitas não alcançava o que acontecia por baixo
das mesas, a sofreguidão da sensualidade buscando desvendar as saias tubinho . A voz de Maisa,
¨Meu Mundo Caiu.... ¨ de Dolores Duran, ¨Hoje eu quero a rosa mais linda que
houver, e a primeira estrela que vier
..... ¨ os vapores do Cuba libre, misturando-se à fumaça mentolada do cigarro . Tudo isso
tornava inútil a severidade pundonorosa
de Freitas.
Era a década
dos cinqüenta, começo dos sessenta,
antes que viesse a ordem unida em 64.
O Cacique foi refeito. Déda quis concluir , Jackson
pressurosamente terminou. Ali está ,
decorado pelos murais de Jenner, o restaurado templo do savoir vivre
aracajuano, de uma época de turbulências
que ali surgiam, e se dissolviam num clima em que idéias, comportamentos, ainda fluíam,
se manifestavam, sem gerar ódios viscerais.
As pessoas eram mais cerebrais, menos figadais.
O conselheiro Carlos Pinna refaz o hábito do Cacique, do almoço e do
bate papo no Parque.
Numa roda onde
estavam ele, o Controlador do Estado,
Elisiário Sobral, o coronel Joseluci Prudente, à mesa , a reedição do cachorro – quente de seu João,
falava-se sobre um amigo desaparecido ano passado, um amigo respeitado, um
cidadão exemplar, o coronel Lourival Costa Filho. As suas cinzas agora foram
depositadas pela família no Panteão da Academia das Agulhas Negras, onde Costa
Filho formou-se oficial e foi professor de algumas gerações de Cadetes. Todos saudosos e alegres pelo reverenciar da memória de Costa
Filho, que agora será também nome de Fórum na
Cristinápolis onde nasceu. A homenagem do Poder Judiciário do qual, já
na reserva, Costa Filho foi servidor. A idéia da homenagem foi do
desembargador Cezário Siqueira.
Na mesa do Cacique o conselheiro Pinna mostrava aos amigos a cópia de uma página do suplemento cultural do
jornal francês Le Figaro, de julho de 2008. O jornal, ele o levara a Déda, que
ficou imensamente satisfeito. Motivo: havia uma matéria intitulada: Comment
sont sélecionnées les merveilles du monde ¨. Nela, estavam listados os 47
candidatos a se tornarem Patrimônios Mundiais da Humanidade, e era inclusa a
Praça São Francisco em São Cristovão . Marcelo Déda, junto ao seu Secretario da Cultura o
professor Luiz Alberto, foram os lutadores pelo objetivo que terminou
alcançado.
Todavia, a
Praça São Francisco, vítima dos
sucessivos desastres administrativos em São Cristovão, corre risco de ser excluída
da relação da UNESCO, e perder o título. Na sessão da Academia de Letras de
Sergipe, dessa segunda- feira, Pinna vai expor o problema e sugerir que a ASL
inicie um movimento para evitar a desclassificação, que, para nós, seria algo
desprimoroso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário