sábado, 11 de junho de 2016

A TRADIÇÃO DO CACIQUE CHÁ



A TRADIÇÃO DO CACIQUE CHÁ
Nas mesas do Cacique Chá traçava-se o destino de Sergipe, resolviam-se as crises brasileiras. Havia aquelas mesas freqüentadas pela intelectualidade, por estudantes, onde as discussões eram acirradas e a cerveja copiosa. Sobre aquele tempo de esquerda festiva e direita civilizada, já escreveu João  Augusto Gama, um quase menino, incipiente freqüentador das ¨tertúlias ¨,  até com a presença de um Tertuliano, o Azevedo. Além da política e do mal falar,  a curiosidade inevitável pela vida alheia, apenas com ironia e sem raivosidade ,   no Cacique acontecia o que era bem melhor : o escurinho de uma buate  quase puritana, onde  as caricias e a sensualidade da dança tinham limites rigorosos traçados pelo vigilante atento, o proprietário Freitas, cioso da distinção a ser feita entre o distinto Cacique familiar, e o cabaré de Tonho do Mira.
Mas Freitas não alcançava o que acontecia por baixo das mesas, a sofreguidão da sensualidade buscando  desvendar as saias tubinho . A voz de Maisa, ¨Meu Mundo Caiu.... ¨ de Dolores Duran, ¨Hoje eu quero a rosa mais linda que houver, e a primeira estrela que vier  ..... ¨ os vapores do Cuba libre, misturando-se  à fumaça mentolada do cigarro . Tudo isso tornava inútil a severidade pundonorosa   de Freitas.
 Era a década dos cinqüenta,  começo dos sessenta, antes que viesse a ordem unida em 64.
O Cacique foi refeito. Déda quis concluir , Jackson pressurosamente terminou. Ali  está , decorado pelos murais de Jenner, o restaurado templo do savoir vivre aracajuano, de uma época de turbulências  que ali surgiam, e se dissolviam num clima  em que idéias, comportamentos, ainda fluíam, se manifestavam, sem gerar ódios viscerais.
As pessoas eram mais cerebrais, menos figadais.
O conselheiro Carlos Pinna  refaz o hábito do Cacique, do almoço e do bate papo no Parque.
 Numa roda onde estavam ele, o  Controlador do Estado, Elisiário Sobral, o coronel Joseluci Prudente, à mesa , a  reedição do cachorro – quente de seu João, falava-se sobre um amigo desaparecido ano passado, um amigo respeitado, um cidadão exemplar, o coronel Lourival Costa Filho. As suas cinzas agora foram depositadas pela família  no Panteão da Academia das Agulhas Negras, onde Costa Filho formou-se oficial e foi professor de algumas gerações de Cadetes.  Todos saudosos  e alegres pelo reverenciar da memória de Costa Filho, que agora será também nome de Fórum na  Cristinápolis onde nasceu. A homenagem do Poder Judiciário do qual, já na reserva, Costa Filho foi servidor. A idéia da homenagem foi do desembargador   Cezário Siqueira.
Na mesa do Cacique o conselheiro Pinna  mostrava aos amigos a  cópia de uma página do suplemento cultural do jornal francês Le Figaro, de julho de 2008. O jornal, ele o levara a Déda, que ficou imensamente satisfeito. Motivo: havia uma matéria intitulada: Comment sont sélecionnées les merveilles du monde ¨. Nela, estavam listados os 47 candidatos a se tornarem Patrimônios Mundiais da Humanidade, e era inclusa a Praça São Francisco em São Cristovão . Marcelo Déda,   junto ao seu Secretario da Cultura o professor Luiz Alberto, foram os lutadores pelo objetivo que terminou alcançado.
Todavia,  a Praça São Francisco, vítima  dos sucessivos desastres administrativos em São Cristovão, corre risco de ser excluída da relação da UNESCO, e perder o título. Na sessão da Academia de Letras de Sergipe, dessa segunda- feira, Pinna vai expor o problema e sugerir que a ASL inicie um movimento para evitar a desclassificação, que, para nós, seria algo desprimoroso.

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