EDUARDO CUNHA O VICE-REI DO BRASIL
A República do Impeachment mal completou uma semana, e o presidente
Temer já foi devidamente emparedado pelo seu aliado-algoz, o deputado Eduardo
Cunha. Apesar de afastado da presidência e do exercício do mandato, Cunha é, de
fato, o principal artífice do pandemônio político que vive o país. Derrubou a
inepta Dilma, e agora, coloca sem pedir licença uma humilhante coleira no pescoço
constrangido, todavia vulnerável, do presidente em exercício Michel Temer. Fato
inédito na nossa tão vilipendiada República, o líder do governo foi escolhido
pelos deputados integrantes de mais de dez partidos, entre os quais, uma parte
do PMDB. O nome que empurraram goela abaixo de Temer foi o do deputado André
Moura. Não tiveram sequer a elegância de apresentar uma lista tríplice, para
dela o presidente retirar o seu preferido. Não lhe deram o direito de escolha
num ato que é prerrogativa exclusiva do presidente da República: a de indicar
um parlamentar para ser líder do Governo na Câmara. Recaindo a escolha em André,
Eduardo Cunha faz uma atrevida demonstração de força. Mostra quem de fato dá as
cartas na República do Impeachment, reduz Temer a uma situação subalterna, e dá
sequência a um projeto de poder que se consolida através das manobras políticas,
associadas a um amplo esquema de corrupção. É um esquema atraente, que seduz deputados
ansiosos por dinheiro, pelo fortalecimento da capacidade de exibir poder
pessoal, e de fazer chantagens. Cunha trabalhou intensamente na formação desse
projeto.
Soube construir a imagem de um competente líder, que retirou a Câmara
dos Deputados da situação de fragilidade diante do Executivo, e ali criou o
núcleo de uma resistência conservadora e reacionária, ao mesmo tempo, hipócrita
e cínica, ao pretender propugnar por certos “valores morais”, entre os quais
não se incluí a recomendação bíblica: Não roubarás. Com isso, e mais o
enfrentamento que fez a uma presidente impopular e desastrada, e ainda,
cuidando de garantir vantagens materiais aos seus aliados, Cunha formou um
núcleo de poder que é a própria imagem da nossa degenerada política.
Tendo em menos de dez dias do novo governo colocado de cócoras o
presidente, Eduardo Cunha inicia agora a segunda etapa do seu plano, que será
um claro e ostensivo desafio ao Supremo Tribunal Federal. Ele pretende
instalar-se numa sala da Câmara dos Deputados que será cedida pela liderança,
para que ele possa, bem de perto, exercer o comando dos seus aliados. Ou sicários.
Como se sabe, Cunha foi preventivamente afastado pelo STF das suas
funções de Presidente da Câmara e do exercício do mandato.
Mas, na decisão, o STF não deixou claro se Cunha estaria também proibido
de frequentar as instalações da Câmara, como o fez aqui em Sergipe a Justiça em
relação aos deputados Augusto Bezerra e Paulinho da Varzinha. Os dois, sequer
podem pisar na calçada da Assembléia.
Se não for levado rapidamente à cadeia pelo STF, Eduardo Cunha acabará desmontando
as Instituições e demolindo a República, da qual, de fato, tornou-se uma
espécie de imperioso Vice-Rei.
Já pensaram até aonde poderia ir um vice-rei demolidor, numa destroçada
República?
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