A PISTOLA E A CULTURA
O Dr. Joseph Goebbels artificioso e fanático ministro da propaganda do
regime nazista, disse que ao ouvir a palavra cultura, sacava a sua pistola.
A frase tornou-se célebre, como símbolo da intolerância na Alemanha
hitlerista em relação à inteligência, principalmente, se a intelectualidade ousasse
discordar da estupidez instalada num dos países mais cultos e civilizados do
mundo. Paradoxo dos paradoxos, Adolf Hitler se definia como artista, e imaginou
transformar Berlim numa capital caracterizada por uma arquitetura monumental,
ornada com os símbolos mais caros ao Terceiro Reich, que tinha a veleidade de
durar mil anos. Hitler era freqüentador assíduo do Festival de Baireuth, e se
dizia extasiado com a obra do seu compositor preferido, Richard Wagner, a quem
atribuía um papel importante para o nascimento do nazismo. Nos últimos dias, antes
da derrota final, quando o exército soviético já estava nos subúrbios da
capital alemã, a elite do nazismo saiu dos seus abrigos para ir assistir a Sinfônica
de Berlim, numa programação onde se incluía o Crepúsculo dos Deuses, do
venerado Wagner. O estrondo das bombas sufocava o som da orquestra.
Como se pode deduzir, o ódio à cultura revelado por Goebbels, era uma
seletiva discriminação contra as formas de cultura que não estivessem na linha do
pensamento nazista. A cultura que o repugnava e o fazia empunhar a pistola, era
a cultura “dos outros” a que, segundo os teóricos do nazismo, revelava a
decadência das raças inferiores, como os judeus, os eslavos.
Por trás do episódio da extinção do Ministério da Cultura, estão esses
mesmos sentimentos de intolerância que foram a característica maior do nazismo,
e são sempre as marcas definidoras de todos os totalitarismos. Há setores da
sociedade brasileira que deploravelmente afundam no terreno pegajoso do ódio,
da aversão ao diálogo, e da incapacidade para conviver com todas as formas de
pensar, de agir, de ser, e de interpretar o mundo. Para esse segmento
radicalizado, o Ministério da Cultura seria o covil de todas as indecências, de
todas as depravações. Há, nas redes sociais, manifestações variadas dessa
intolerância. Numa delas, há uma foto de um grupo de balé com corpos desnudos,
e a pergunta: É para isso que o Ministério da Cultura usa o dinheiro dos nossos
impostos?
Esses intolerantes se sentiriam indignados se visitassem a Capela
Sistina, no Vaticano, onde estão vários afrescos onde há corpos desnudos. Iriam
pedir ao Papa para amaldiçoar a capela? A ignorância mórbida que desmerece e
sataniza a arte, é a mesma dos terroristas que dinamitam milenares monumentos,
que guardam manifestações artísticas, entre elas, as imagens de corpos
desnudos. Os gregos souberam elevar o corpo humano ao sublime objetivo da
perfeição estética. Só os estúpidos agentes da desumanização não conseguem
contemplar a beleza, o que até os selvagens fazem nos seus primitivos rituais.
Não se quer dizer aqui que o presidente Michel Temer, homem civilizado, extinguira
o Ministério da Cultura movido por esses desqualificados sentimentos, mas,
poderá ter fraquejado diante dos que lhe levaram argumentos absurdos, como
aquele difundido em relação à Lei Rouanet, de apoio à cultura, apontada como sorvedouro
de dinheiro público. A lei, criada no Governo Sarney, é uma forma inteligente
de captar recursos privados para aplicá-los em projetos culturais, com a contrapartida
de benefícios fiscais, iguais a tantos outros existentes no Brasil.
Leis semelhantes existem em todos os países civilizados do mundo, onde
os governos e o povo entenderiam como
crime de lesa-pátria, qualquer iniciativa semelhante a essa, que agora adota
o governo brasileiro, extinguindo o
Ministério da Cultura. Enquanto isso, o novo-velho ministro Mendonça Filho,
explica que a secretaria da cultura acoplada ao Ministério da Educação, terá,
no próximo ano, um orçamento bem maior. Então, para que foi mesmo que fecharam
as portas do MINC?
O nosso fascismo, esse facismozinho seboso que passou a ser o
comportamento de uma certa elite nacional, repugnantemente burra e
raivosa , seria condenado por Benito
Mussolini, o condottieri italiano,
criador e executor da doutrina fascista. Ele gostava de Ópera, remunerava
regiamente famosos tenores italianos. Mussolini não acabou o Ministério da
Cultura depois que assaltou o poder usando os seus desordeiros e fanatizados
para a vitoriosa Marcha Sobre Roma.
Se vivo estivesse, Mussolini diria: O meu fascismo é outro.
Resumindo: Que vergonha para nós brasileiros!!!
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