domingo, 22 de maio de 2016

A PISTOLA E A CULTURA



A PISTOLA E A CULTURA
O Dr. Joseph Goebbels artificioso e fanático ministro da propaganda do regime nazista, disse que ao ouvir a palavra cultura, sacava a sua pistola.
A frase tornou-se célebre, como símbolo da intolerância na Alemanha hitlerista em relação à inteligência, principalmente, se a intelectualidade ousasse discordar da estupidez instalada num dos países mais cultos e civilizados do mundo. Paradoxo dos paradoxos, Adolf Hitler se definia como artista, e imaginou transformar Berlim numa capital caracterizada por uma arquitetura monumental, ornada com os símbolos mais caros ao Terceiro Reich, que tinha a veleidade de durar mil anos. Hitler era freqüentador assíduo do Festival de Baireuth, e se dizia extasiado com a obra do seu compositor preferido, Richard Wagner, a quem atribuía um papel importante para o nascimento do nazismo. Nos últimos dias, antes da derrota final, quando o exército soviético já estava nos subúrbios da capital alemã, a elite do nazismo saiu dos seus abrigos para ir assistir a Sinfônica de Berlim, numa programação onde se incluía o Crepúsculo dos Deuses, do venerado Wagner. O estrondo das bombas sufocava o som da orquestra.
Como se pode deduzir, o ódio à cultura revelado por Goebbels, era uma seletiva discriminação contra as formas de cultura que não estivessem na linha do pensamento nazista. A cultura que o repugnava e o fazia empunhar a pistola, era a cultura “dos outros” a que, segundo os teóricos do nazismo, revelava a decadência das raças inferiores, como os judeus, os eslavos.
Por trás do episódio da extinção do Ministério da Cultura, estão esses mesmos sentimentos de intolerância que foram a característica maior do nazismo, e são sempre as marcas definidoras de todos os totalitarismos. Há setores da sociedade brasileira que deploravelmente afundam no terreno pegajoso do ódio, da aversão ao diálogo, e da incapacidade para conviver com todas as formas de pensar, de agir, de ser, e de interpretar o mundo. Para esse segmento radicalizado, o Ministério da Cultura seria o covil de todas as indecências, de todas as depravações. Há, nas redes sociais, manifestações variadas dessa intolerância. Numa delas, há uma foto de um grupo de balé com corpos desnudos, e a pergunta: É para isso que o Ministério da Cultura usa o dinheiro dos nossos impostos?
Esses intolerantes se sentiriam indignados se visitassem a Capela Sistina, no Vaticano, onde estão vários afrescos onde há corpos desnudos. Iriam pedir ao Papa para amaldiçoar a capela? A ignorância mórbida que desmerece e sataniza a arte, é a mesma dos terroristas que dinamitam milenares monumentos, que guardam manifestações artísticas, entre elas, as imagens de corpos desnudos. Os gregos souberam elevar o corpo humano ao sublime objetivo da perfeição estética. Só os estúpidos agentes da desumanização não conseguem contemplar a beleza, o que até os selvagens fazem nos seus primitivos rituais.
Não se quer dizer aqui que o presidente Michel Temer, homem civilizado, extinguira o Ministério da Cultura movido por esses desqualificados sentimentos, mas, poderá ter fraquejado diante dos que lhe levaram argumentos absurdos, como aquele difundido em relação à Lei Rouanet, de apoio à cultura, apontada como sorvedouro de dinheiro público. A lei, criada no Governo Sarney, é uma forma inteligente de captar recursos privados para aplicá-los em projetos culturais, com a contrapartida de benefícios fiscais, iguais a tantos outros existentes no Brasil.
Leis semelhantes existem em todos os países civilizados do mundo, onde os governos e o povo entenderiam  como crime de lesa-pátria, qualquer iniciativa semelhante a essa, que agora adota o  governo brasileiro, extinguindo o Ministério da Cultura. Enquanto isso, o novo-velho ministro Mendonça Filho, explica que a secretaria da cultura acoplada ao Ministério da Educação, terá, no próximo ano, um orçamento bem maior. Então, para que foi mesmo que fecharam as portas do MINC?
O nosso fascismo, esse facismozinho seboso que passou a ser o comportamento de uma certa elite nacional,  repugnantemente   burra e raivosa , seria  condenado por Benito Mussolini, o condottieri  italiano, criador e executor da doutrina fascista. Ele gostava de Ópera, remunerava regiamente famosos tenores italianos. Mussolini não acabou o Ministério da Cultura depois que assaltou o poder usando os seus desordeiros e fanatizados para a vitoriosa Marcha Sobre Roma.
Se vivo estivesse, Mussolini diria: O meu fascismo é outro.
Resumindo: Que vergonha para nós brasileiros!!!

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