AS LEMBRANÇAS DE
MURILO MELLINS
Neste começo de janeiro o memorialista Murilo Mellins
anda um tanto triste. Lembra-se do aniversário que faria dia 3 o amigo Decinho,
sempre comemorado com muito uísque, apesar do
dinheiro escasso. O scotch era falsificado, caseiro, e colocado em garrafas de
Old Parr através de um sistema
engenhoso que Nelson de Rubina,
especialista em todas as tramóias, ensinava a fazer. As ressacas eram demolidoras.
Murilo, para vencer a tendência
depressiva que os Natais despertam, vai rememorando casos e alinha episódios relacionados ao ridículo
moralismo da província subjugada pela hipocrisia. Dois deles :
A empresária da moda Dona Vivinha, tinha uma
¨maison ¨que levava o seu nome, e era freqüentada pela granfinagem com dinheiro,
ou fingindo que o tinha. Havia um único modelo de maiô, era discretíssimo,
inteiro, e com um saiote que descia até a metade das coxas . Junto estava escrito: Traje de banho
permitido pela Ação Católica.
Esperava-se com muita ansiedade,
naturalmente entre os homens, o
anunciado espetáculo da performática vedete Luz Del Fuego. Ela exibia-se nua,
tendo a envolvê-la uma jibóia que lhe cobria o sexo, enrolando-se pelas coxas e
subindo por entre os seios. Com essa jibóia Luz Del Fuego fazia uma coreografia
sensual, a maior ousadia da época, tolerada em alguns palcos do Rio e São
Paulo.
O espetáculo em Aracaju era um
desafio às normas conveniências e
fingimentos vigentes. Seria no Cinema Rex, na rua Itabaianinha, local hoje da agencia
central do Banco do Nordeste. No dia , formou-se, com antecedência de horas, enorme fila de marmanjos excitados. Aparece então o Chefe de Polícia, professor
Monteirinho, para comunicar, até contristado, que, a pedido do Arcebispo o
espetáculo fora vetado pela polícia. No mesmo instante passa em frente o
automóvel Ford, preto, dirigido pelo
Arcebispo, que viera observar se a ordem estava sendo cumprida. Recebeu
uma vaia estrepitosa e saiu cantando pneus.
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