O BRASIL, AQUELE PAÍS DO FUTURO
Stefan Zweig foi um
escritor austríaco que, sendo
judeu, sentindo-se ameaçado, veio viver no Brasil. Percorrera o mundo
buscando segurança enquanto Hitler
começava a marcha estúpida
sobre cadáveres e escombros dos países subjugados. Zweig foi viver em Petrópolis onde completaria, em
poucos meses ,a sua fantástica criação literária, incluindo
biografias, entre elas, as de Maria Antonieta, Balzac, Tolstoi,
Dostoievski, Maria Stuart, Fouché ; romances, como Vinte e Quatro Horas na Vida
de uma Mulher, Amok , e tantos outros. Na quietude amena da serrana Petrópolis
ele escreveu o que, segundo sua
primorosa biografa Dominique Bona, foi o seu ¨ último tesouro, presente póstumo a seus leitores ¨, um curto
romance, intitulado Uma Partida de Xadrez. Mas,
além disso, juntamente com O
Mundo Que Eu Vi, as suas memórias, Zweig escreve o livro que aqui o celebrizaria
: Brasil, País do Futuro.
No Brasil o judeu
perseguido vivia em paz, por isso, exaltava a vida brasileira: ¨ É difícil
encontrar lugar no mundo onde existam
mulheres mais belas e mais belas crianças que as mestiças. ¨ A palavra mestiço não é ofensa aqui, mas simples
constatação que nada tem de pejorativo: o ódio das raças, essa planta venenosa
da Europa, aqui não vinga. ¨ O Brasil parece ignorar o ódio ¨. ¨
¨É maravilhoso país para os jovens que querem levar sua energia ainda
não utilizada a um mundo ainda não esgotado
¨ .
Paradoxalmente, o Brasil onde Zweig enxergava tantas
maravilhas era uma ditadura, e Getúlio,
o ditador, erguera brindes de champagne
a bordo do cruzador São Paulo, cercado
pelos seus almirantes, quando os alemães ocuparam Paris, episódio por ele
definido como o fim dos regimes liberais.
Mas o ditador acolhia
refugiados. Amparou Zweig com quem conversou algumas vezes no palácio de verão
em Petrópolis. No Brasil viviam outros
exilados famosos, como o escritor
francês George Bernanos, autor de Grandes Cemitérios da Lua. Ele morava numa fazenda em Barbacena, (MG) , com a mulher e os filhos, criando gado ,
escrevendo artigos antifascistas.
Perto da casa de Zweig
em Petrópolis, morava um
exilado seu amigo, Ernest Feder.
Ele fora redator chefe do maior jornal
alemão, o Berliner Tageblatt.
Stefan Zweig depois de
envolver-se na alegria esfuziante do carnaval carioca em 1942, retornou a
Petrópolis, e colocou ponto final
nos seus medos, melancolias ,
desencantos e tristezas, tomando
veneno. Foi seguido pela sua mulher,
Lotte . Pediu um enterro simples mas ao duplo funeral pomposo compareceram o ditador Getúlio
Vargas, ministros, e muitos
intelectuais.
Se revivesse hoje e
viesse outra vez morar aqui entre nós, Zweig sentir-se-ia impelido a rasgar o
livro sobre o Brasil, o ¨ país que
parece ignorar o ódio . ¨
Desgraçadamente o ódio
instalou-se entre nós.
E o ódio é sempre
prenúncio de desgraças.
Sérgio Conti, no seu programa Diálogos entrevistou o
jurista Cláudio Lembo. Ele foi
governador de São Paulo, e presidiu a ARENA ,
braço político civil do
regime militar. Lembo é um político que militou na direita,
na área conservadora, mas, por ser lúcido e consciente do que significa a
democracia, não se deixou contaminar pela peste do radicalismo e odiosidade que
se espalha por todo o país. Lembo deu uma aula de direito constitucional ao mostrar a
insensatez política da tentativa de impeachment, apesar dos imensos
erros administrativos da presidente errática,
e as conseqüências graves que advirão.
Identificou o avanço do ódio como uma aberração política que ameaça a
convivência civilizada no Brasil, país
que, ainda segundo Zweig, parecia ser imune a essa contaminação.
Lembo apontou a
origem do ódio: a elite branca, racista,
intolerante, conservadora, secularmente privilegiada, preconceituosa, inconformada ainda com a abolição da escravatura.
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