sábado, 7 de novembro de 2015

O BRASIL, AQUELE PAÍS DO FUTURO



O BRASIL, AQUELE PAÍS DO FUTURO
Stefan Zweig  foi um escritor austríaco  que, sendo judeu,  sentindo-se ameaçado,  veio viver no Brasil. Percorrera o mundo buscando  segurança enquanto Hitler começava  a marcha  estúpida  sobre cadáveres e escombros dos países subjugados. Zweig  foi viver em Petrópolis onde completaria, em poucos meses ,a sua fantástica criação literária,  incluindo  biografias, entre elas, as de Maria Antonieta, Balzac, Tolstoi, Dostoievski, Maria Stuart, Fouché ; romances, como Vinte e Quatro Horas na Vida de uma Mulher, Amok , e tantos outros. Na quietude amena da serrana Petrópolis ele escreveu o que, segundo  sua primorosa biografa  Dominique Bona,  foi o seu ¨ último tesouro,  presente póstumo a seus leitores ¨, um curto romance, intitulado Uma Partida de Xadrez. Mas,  além disso,  juntamente com O Mundo  Que Eu Vi, as suas memórias,  Zweig escreve o livro que aqui o celebrizaria : Brasil, País do Futuro.
No Brasil   o judeu perseguido vivia em paz,  por isso,   exaltava a vida brasileira: ¨ É difícil encontrar lugar no mundo onde  existam mulheres mais belas e mais belas crianças que as mestiças. ¨ A palavra  mestiço não é ofensa aqui, mas simples constatação que nada tem de pejorativo: o ódio das raças, essa planta venenosa da Europa, aqui não vinga.  ¨ O  Brasil parece ignorar o     ódio ¨. ¨  ¨É maravilhoso país para os jovens que querem levar sua energia ainda não utilizada a um mundo ainda não esgotado  ¨ .
 Paradoxalmente,  o Brasil onde Zweig enxergava tantas maravilhas era uma ditadura,  e Getúlio, o ditador, erguera   brindes de champagne a bordo  do cruzador São Paulo, cercado pelos seus almirantes, quando os alemães ocuparam Paris, episódio por ele definido como o fim dos regimes liberais.
Mas o ditador  acolhia refugiados. Amparou Zweig com quem conversou algumas vezes no palácio de verão em Petrópolis.  No Brasil viviam outros exilados famosos, como o escritor   francês George Bernanos, autor de Grandes Cemitérios da Lua.   Ele morava numa  fazenda em Barbacena, (MG) ,  com a mulher e os filhos, criando gado , escrevendo artigos antifascistas. 
Perto da casa de Zweig   em Petrópolis, morava um  exilado  seu amigo, Ernest Feder. Ele  fora redator chefe do maior jornal alemão, o Berliner  Tageblatt.
Stefan  Zweig depois de envolver-se na alegria esfuziante do carnaval carioca em 1942, retornou a Petrópolis, e colocou         ponto final nos seus medos,  melancolias , desencantos e tristezas,   tomando veneno.  Foi seguido pela sua  mulher,  Lotte . Pediu um enterro simples mas ao duplo funeral  pomposo compareceram o ditador Getúlio Vargas, ministros,  e muitos intelectuais.
Se  revivesse hoje e viesse outra vez morar aqui entre nós, Zweig sentir-se-ia impelido a rasgar o livro sobre o Brasil,   o ¨ país que parece ignorar o ódio . ¨
 Desgraçadamente o ódio instalou-se entre nós.
E o ódio é sempre   prenúncio de  desgraças.
 Sérgio Conti,   no seu programa Diálogos entrevistou o jurista Cláudio Lembo.  Ele foi governador de São Paulo, e presidiu a ARENA ,   braço político  civil do regime  militar.  Lembo é um político que militou na direita, na área conservadora, mas, por ser lúcido e consciente do que significa a democracia, não se deixou contaminar pela peste do radicalismo e odiosidade que se espalha por todo o país. Lembo deu uma aula de  direito constitucional ao mostrar a insensatez  política da  tentativa de impeachment, apesar dos imensos erros administrativos da presidente errática,  e as conseqüências graves que advirão.   Identificou o avanço do ódio como uma aberração política que ameaça a convivência civilizada no Brasil, país  que,  ainda segundo  Zweig, parecia ser imune a essa contaminação.
Lembo  apontou a origem  do ódio: a elite branca, racista, intolerante, conservadora, secularmente privilegiada, preconceituosa,  inconformada ainda com a abolição da escravatura.

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