domingo, 19 de julho de 2015

A POLÍCIA DO ESTADO OU O ESTADO DA POLICIA ?

A POLÍCIA DO ESTADO OU
 O ESTADO DA POLICIA ?
Num primeiro momento aquelas cenas  das operações policiais chegando até onde vivem ou onde trabalham algumas das mais altas autoridades da República e de lá retirando documentos e bens valiosos, nos faz sentir algum frio passando pela espinha. Nos   acostumamos com  a polícia invadindo, estourando covis do tráfico, da criminalidade em geral. Ações assim transformaram-se em rotina, porque também nos acostumamos a acreditar que a criminalidade alvo da polícia seria,  somente, aquela formada por   indivíduos tão desclassificados na escala  social que dela ficam inteiramente excluídos. São marginais. Agindo contra estes, a policia  estaria a cumprir suas funções dentro do aparelho de Estado, livrando os cidadãos do perigo representado pelos indivíduos à margem da lei.
Mas agora a polícia vai,   autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, ao Senado à Câmara dos Deputados, às residências, escritórios e de lá sai com papeis, computadores, que poderiam ser destruídos anulando possíveis provas contra,  entre outros, o presidente da Câmara Eduardo Cunha e o presidente do Senado, Renan Calheiros. Na ordem hierárquica da sucessão, em caso de afastamento ou impedimento  do presidente, Cunha é o segundo, Renan o terceiro. Representam eles o Poder Legislativo. Assim, um dos três poderes que embasam a República, vê diluir-se aquela imponência solene  que até exige,  antes do nome dos seus integrantes, o   altissonante pronome de tratamento: Vossa Excelência. Nas últimas semanas, aqueles, portadores de  elevadas senhorias, receberam  a inesperada visita dos agentes federais. Então, de certa forma, eles tornaram-se iguais aos que  usualmente são tratados sem nenhuma cerimônia, e chamados de  malandros ou vagabundos.
Para quem atravessou duas ditaduras, e delas tem um repugnante gosto, quando a máquina repressiva do Estado se move, sempre surge aquela dúvida  se não haveria, por trás de tudo, alguma dose de arbítrio, no caso, se a policia é mesmo um instrumento do Estado ou se o Estado estaria sendo ocupado pela polícia.
Mas, quando  daquela mansão brasiliense, a Casa da Dinda, que se tornou tristemente célebre, apesar do seu nome tão delicado, se vêem saindo, levados pela polícia Federal uma Lamborghini, uma Ferrari e um Porche, três bólidos que custariam mais de 2 milhões de dólares, todos somando uma dívida  conjunta de IPVA superior a 300 mil reais, fica-se a imaginar se a policia não estaria a perder tempo enquanto procurava apenas os marginais que estão nos morros e nas favelas.
Fica-se também a duvidar de qualquer tipo de reforma política que possa sair de um Congresso, de uma classe política em geral tão acostumada às mordomias, tão beneficiada por privilégios, que acabou por aderir ao mais desavergonhado dos hedonismos, aquele, sustentado com o dinheiro público.
Não estamos sequer insinuando que as máquinas rebrilhantes  tenham sido adquiridas com dinheiro de propinas.   O  senador e ex-presidente  Collor  teria a coragem de chegar,  pilotando a Ferrari  vermelha, no  desolado e esquecido município alagoano de São Jose da Tapera, onde setenta por cento da população têm a fome mitigada pelo Bolsa Família para fazer promessas e pedir votos ?

 O  povaréu tão vilipendiado deste país de privilégios excessivos, que agora começou a ter direito a circular numa moto , sem poder comprar o capacete nem pagar o IPVA, acreditaria,  que um senador a gastar seu tempo ostentando pelas ruas de Brasília uma Ferrari  e uma Lamborghini, estaria pensando em quem nele votou,    em São Jose da  Tapera ou no Jirau do  Ponciano ?

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