BANDIDOS NO JARDIM DE INFÂNCIA ?
No dia em que a Comissão de Justiça da Câmara aprovava a
redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, dois menores, um de 12, outro
de 15, participavam, com um adulto, de um
seqüestro. A vitima foi uma professora.
Levada a fazer com
pras com cartões de crédito, a professora teve tempo para
puxar conversa com os dois seqüestradores, quase infantis, e perguntou-lhes
porque não estavam na escola. A resposta foi fulminante: ¨ Já estamos numa escola, a do crime ¨.
E então, depois de lotarem as cadeias com menores de 17, 16
anos, vamos prender os de 13, 12, vamos buscar bandidos nos jardins de Infância
?
Falam deputados com baba quase a escorrer-lhes pela boca de
tanta indignação : ¨ menor deve ser rigorosamente punido .¨
Falam como se fosse dar ao cidadão, ao Estado, um instrumento
de vingança contra o menor levado ao crime, que brutalizou-se, tornando-se,
muitas vezes, um animal destituído de sentimentos no abandono das ruas.
E o que vão fazer com os que tiram da boca dos menores a merenda escolar?
E o que se vai fazer com os menores que perambulam pelas
ruas das nossas cidades, coisa que uma
sociedade com vergonha na cara não poderia tolerar ?
O problema não reside na ocupação dos espaços das cadeias, o
problema reside na fórmula social nunca encontrada aqui, para saber esvaziá-las
por desnecessidade. Enquanto isso não chega, aos menores bandidos, basta que se apliquem as leis existentes, ou
que se estenda o tempo de permanência deles nas instituições que são, equivocada ou presunçosamente
denominadas centros de ressocialização
. No nosso, aqui, temos felizmente um sacerdote da justiça social, Welington Mangueira. Ele chamou para
ajudá-lo o coronel reformado Luiz Fernando, especialista na difícil arte da pacificação.
Em vez do ódio com que se encara o menor infrator, desde que
ele seja pobre e preto, enquanto se tolera o infrator branco e rico, para os pobres, os excluídos, deveriam se estender as mãos
afetivas e solidárias do amparo, antes que o traficante o descaminhe.
Por que não se multiplicam pelo Brasil afora instituições
como esta que aqui foi criada por Luciano Barreto e Maria Celi ?
Há quem tenha dinheiro sobrando , e esteja se passando por ¨ justiceiro
¨, contratando matadores para que exterminem
crianças, todas elas vistas como ameaças
para a tranqüilidade burguesa.
O que se deve fazer com esses ¨ justiceiros ¨ ? Alguém, exaltado, indignado, já pensou em
pedir pena de morte para eles ?
Nunca se fará isso. Há, na nossa sociedade eminentemente
hipócrita, quem até os veja com uma boa dose de simpatia.
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