sábado, 21 de fevereiro de 2015

OS FASCISMOS QUE NOS ESPREITAM ( 2 )



OS FASCISMOS QUE NOS ESPREITAM ( 2 )
Enquanto o projeto de regulamentação do aborto  dorme no esquecimento, ou na ocultação a que o condenou o deputado presidente da Câmara Federal, a sociedade brasileira perde a oportunidade para que seja travado um debate livre e despreconceituoso  sôbre um tema que é relevante. Nada mais relevante do que aquilo que diz respeito à vida. E são milhares de mulheres, todas, quase sempre pobres, que se submetem aos charlatães carniceiros  fazendo abortos clandestinos, enquanto quem tem dinheiro aborta em clinicas de alta capacitação técnica e baixa categoria ética. Tudo isso porque o aborto é criminalizado, e assim, os que o fazem tendo para isso competência, exigem muito para fazê-lo, enquanto os que o fazem sem nenhuma competência cobram menos,  mas deixam atrás  das suas práticas arriscadas um rastro de letalidades. Há, sem duvidas, concepções religiosas, convicções filosóficas, sentimentos humanistas em jogo ou em confronto,   exatamente por isso, deve o deputado  Eduardo Cunha deixar de lado a sua renitência obscurantista, fascista mesmo, e deixar que a matéria seja livremente debatida pelos parlamentares. Uma gaveta pode trancar um projeto, mas não fecha a capacidade crítica da sociedade, não impede a liberdade de opinião, embora os fascistas no seu auge, em Roma, Berlim, Madrid, Lisboa ou até no Rio de Janeiro, tenham imaginado que pela repressão poderiam unificar o pensamento, estandardizar o comportamento da enorme boiada humana. Como se sabe erraram. E erraram tragicamente, porque semearam a morte e a destruição.
O fascismo não é estupidez somente da direita, a esquerda também se fascistiza algumas vezes. A pior delas foi quando Hitler e Stalin se deram as mãos e fizeram o pacto sinistro pelo qual dividiram entre si a Polônia, e os alemães partiram para a invasão da França , seguros, por estarem combatendo numa única frente. Pode ter sido, diziam depois os Partidos Comunistas, uma genial estratégia de Stalin para ganhar tempo e a União Soviética se armar, antes que os nazistas a atacassem. Pode até ter sido, mas se não houvesse em Stalin,  líder comunista, o germe totalitário, intolerante, que é a característica do fascismo, as tropas soviéticas poderia ter avançado sobre a polônia sem cometer as mesmas crueldades dos nazistas.
Enfim, por aqui, entre nós, o temor do fascismo limita-se a certas atitudes intolerantes que se tornaram modismos, como a de enxovalhar nordestinos, e considerar aqueles que têm outras opções sexuais como seres depravados  diante dos quais o mundo precisa fazer uma assepsia preventiva.
Daquela gaveta fechada, trancada a sete chaves pelo deputado Eduardo Cunha, devem estar saindo as vozes soturnas dos Torquemadas, dos   Savonarolas, festejando o prenuncio de fogueiras expiatórias.

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