FALTA ÁGUA E FALTA LUZ
Inimaginável seria, há
vinte anos, um panorama tão catastrófico em que a grande metrópole paulistana
estivesse ameaçada de ter, limitado a dois dias, o suprimento semanal de água,
ficando as torneiras secas no decorrer dos cinco dias restantes. Mais inimaginável
ainda seria acreditar na possibilidade de um colapso hídrico que
atingisse grande parte das cidades paulistas, inclusive as que formam o
conglomerado urbano da Grande São Paulo, algo em torno dos quinze milhões
de habitantes submetidos a um racionamento de água semelhante aos que sofrem as
cidades do semiarido nordestino. Seria carregar muito nas tintas de uma
futurologia cinzentamente pessimista, transpor o quadro paulista absurdo para
um panorama mais inacreditável ainda que seria o colapso no abastecimento
de água no Rio de Janeiro, a segunda maior cidade brasileira,
com os efeitos de uma estiagem prolongada fazendo morrer de fome e sede o gado
nos sempre verdejantes campos fluminenses. E, mais ainda, nas serranias sempre
chuvosas das Minas Gerais a grande Belo Horizonte com os seus reservatórios
quase secos.
Uma projeção
catastrofista maior, seria, um ousado profeta de desastres
desenhando um quadro mais grave, calamitoso mesmo, das hidrelétricas parando e
o país mergulhando no escuro.
Previsões assim que
pareceriam insano absurdo se feitas há 30 anos, agora, deploravelmente, começam
a se transformar em realidade.
O que foi feito da
terra das imensas florestas úmidas, dos enormes rios caudalosos que nos
asseguravam a condição de país privilegiado pela natureza com as maiores
reservas hídricas do planeta ?
Há 5 séculos
começamos uma devastação que fez a fabulosa mata atlântica
restringir- se às limitadas reservas vulneráveis. A floresta amazônica ainda
sobrevive intocada na sua imensidão, mas a fúria gananciosa da moto-serra criou
imensas áreas desérticas no Pará, no Mato Grosso no Tocantins, no Acre, em
Rondônia, e rios imensos com suas margens desnudas, águas poluídas, vão
seguindo o mesmo destino do Tietê, que poderia abastecer São Paulo se as suas
águas não estivessem irremediavelmente pestilentas e envenenadas.
Indústrias que
despejam venenos, cidades que jogam nos rios seus esgotos, lavouras e pastos
que utilizam intensamente agrotóxicos, completam a destruição. Se os rios
começam a secar, assoreados, e suas águas de tão podres se tornam
inservíveis, enquanto as chuvas escasseiam, tudo conspira para que as piores
previsões se confirmem. Já falta a água, breve, faltará a
luz.
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