terça-feira, 6 de janeiro de 2015

LUZES E SOMBRAS DO NATAL EM ARACAJU

LUZES E SOMBRAS DO
NATAL EM ARACAJU

Ideia quase sublime, ou talvez meramente utópica do Natal, seria a intensidade das luzes fulgurando nas vitrines, e ao mesmo tempo iluminando a consciência das pessoas. Convenhamos, vencer a escuridão e fazer surgir a claridade é bem mais fácil, apenas uma questão de tecnologia e de recursos disponíveis para utilizá-la. 
As coisas muito se complicam quando se trata de clarear consciências, metáfora do que seria, exatamente, livrá-las da mesquinhez, do egoísmo extremo, o mesmo que uma síndrome de desamor.
O exclusivismo do EU, no mundo violento, competitivo e desumanizado em que vivemos, é a carapaça de proteção à qual recorremos, e dentro dela nos isolamos, então, no nosso canto escurinho sentimo-nos protegidos, e nem atentamos para o fato de que, ao derredor, tudo o que é sólido desmancha no ar, tal qual descreveram Marx e Engels no Manifesto Comunista. Chegando aos dois séculos o Manifesto tornou-se obsoleto, embora contendo verdades atualíssimas.
A esperança de amor e solidariedade que um pacificador despertou já faz 2 mil anos, não estiolou-se no deserto, e dela não nos desgarramos, ainda, porque é a mesma identidade com o bem que carregam as religiões, sejam cristãs, afro, islâmicas, budistas, hinduístas. O Natal poderia ser o símbolo de tudo isso, todavia, trocamos presentes e comemos peru, e tantos passam fome olhando as luzes feéricas dos templos do consumismo.
Tudo isso que dissemos tem um viés piegas, e de pieguices o mundo transborda, ainda mais daquele modismo chatérrimo da autoajuda: ¨Seja bom, seja do bem, cubra de ouro o seu coração para fazer dourados os outros corações¨.
E por aí vai o infindável e tão acolhido besteirol.
Francisco, aquele verdadeiramente iluminado Papa, fez, às vésperas do Natal, um desabafo da sua preocupação com os ¨Príncipes da Igreja¨ tão luminosos por fora, tão obscurecidos por dentro.
Voltemos então às luzes do Natal, do Natal aqui em Aracaju.
Sejamos pragmáticos, não esperemos que nos natais que virão haja uma iluminação de consciências, apenas, imaginemos possível um Natal bem diferente deste que acabamos de viver. Projetemos, para os natais futuros, uma Aracaju, que tanto padece da escuridão ficando iluminada, e que, pelo menos, o reflexo dessas luzes clarifiquem um pouco a nossa imensa insensibilidade.
Falta-nos, sobretudo, um sentimento coletivo de afeto e orgulho em relação à nossa cidade. Assim, ficamos a esperar pelas ações do Poder Público. Este ano bateu a quebradeira, e a Prefeitura fez exclusivamente o indispensável. O parque Augusto Franco, a Sementeira, permaneceu sendo um exemplo do que pode ser feito pela iniciativa privada, e foi feito pela Energisa.  É isso, a iniciativa privada precisa ser chamada a participar, evidentemente, sem que o Poder Público se exima da sua parte.
O Museu da Gente Sergipana ficou primorosamente iluminado. E, o que é melhor , com gastos reduzidos. Ézio Déda, arquiteto-artista e gestor eficaz, tem mantido no Museu o nível sonhado por Marcelo Déda.
Então, procuremos juntar esforços, buscar cabeças inteligentes, criativas. Nisso, que se reúnam os poderes públicos, as entidades privadas, os clubes de serviço, as Igrejas. Neste Natal as igrejas estavam escuras, a começar pela Catedral; no Santo Antonio, a Igreja que é visível de quase toda a cidade não tinha uma só luzinha a tremeluzir.
Os bancos, que faturam tão alto, não iluminaram as suas fachadas. Até a Orla da 13, onde se concentra boa parte do PIB sergipano, foi mesquinha na decoração natalina.
O maestro Manis que levou a nossa Sinfônica a um patamar elevado, poderia ter tido a oportunidade para apresentá-la ao ar livre, nos espaços públicos, o mesmo fariam outras orquestras, a de Itabaiana, por exemplo, além de bandas,  corais, artistas sergipanos.
Nada se fez e o nosso Natal murchou.
Vamos pensar no próximo,  e que nele haja também a disposição para fazer as luzes natalinas clarearem um pouco as consciências. Tomemos a decisão de mostrar Aracaju sem uma só criança abandonada nas ruas. Tenhamos iniciativas filantrópicas, mesmo que venham com a hipocrisia daqueles paliativos pontuais, mas que venham, que se multipliquem,  e que não voltemos a oferecer, no próximo Natal, aquele espetáculo  deprimente, desolador, das famílias miseráveis que se foram abrigar sob marquises no centro da cidade, algumas, na calçada da Travessa Jose de Faro, onde estão as agencias de grandes bancos, que, por não iluminarem suas fachadas ajudaram a manter, na semi – escuridão, a miséria que eles próprios poderiam amenizar, se fossem taxados os seus lucros exorbitantes que, de tão vultosos, se tornam socialmente perversos.

Apaguemos este Natal amorfo das nossas memórias, mas nos ocupemos a pensar no próximo, nos outros natais que virão.

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