AÉCIO O INVERSO
DO AVÔ TANCREDO
Tancredo Neves era um político
sereno, comedido , capaz de muito
tolerar desde que a tolerância não se confundisse com tibieza. Tancredo viveu momentos decisivos da vida
política brasileira, e era para ele que se voltavam todos nos momentos em que o
diálogo político acabava, sendo
substituído pela virulência da linguagem, e as divergências ameaçavam degenerar em
conflitos. Poucas vezes Tancredo ergueu a voz além dos decibéis permitidos pela
civilidade, mas ele, um ser político até
a medula, sabia quando a indignação
deveria sair boca à fora.
Ministro da Justiça do presidente
Getúlio Vargas, em 1954, quando oficiais da Aeronáutica rebelados criaram a
chamada República do Galeão e ameaçavam invadir o Palácio do Catete para
prender o presidente, numa tensa reunião em que os ministros militares davam
sinais de fraqueza, Tancredo, quando usou a palavra, falou mais alto do que
todos e deu a sua sugestão para acabar o motim: ¨general Zenóbio, coloque na
rua as tropas da Vila Militar, ponha na
cadeia o Brigadeiro Eduardo Gomes e o General Juarez Távora. ¨
O Ministro da Guerra Zenóbio da
Costa nada fez.
Um sergipano que se dedica ao
estudo daqueles dias tensos do mês de agosto de 54, o procurador aposentado
Darcilo de Melo Costa , diz, que embora
pertencendo a uma família de udenistas, desde a sua juventude, quando ocorreu o episódio da morte do
major -aviador Rubens Vaz, no atentado contra o jornalista Carlos
Lacerda, sempre enxergou na exacerbação
do ódio que então ocorreu, a
origem de todas as crises institucionais que atravessaríamos, minando as instituições até o desfecho final
do golpe de 64.
O neto Aécio, vivendo em outra época, beneficiando-se
de uma democracia consolidada que o avô Tancredo tanto ajudou a construir,
age, criando a suspeita de que estaria
interessado na ruptura da legalidade. Sabendo que os quartéis estão pacificados e profissionalmente distantes dos
embates partidários, Aécio cumpre o papel desprezível de radicalizar o clima
político para fazer surgir a idéia do impeachment da presidente Dilma, jogo arriscado e aventureiro que somente o
inconformismo irresponsável de um derrotado nas urnas poderia estimular. O impeachment,
como assinalou o respeitado senador do
PSDB paulista Aloísio Nunes Ferreira, somente pode ocorrer quando existem
provas insofismáveis de atos indignos cometidos pelo governante e, mais ainda,
que esses atos o tenham levado a uma desmoralização pública que gerasse o clima
para o seu julgamento por crime de responsabilidade. Assinala o senador que
esse clima hoje não existe, tal como sucedeu uma única vez na nossa história
republicana quando se fez o julgamento do presidente Collor. Passado o tempo se verifica que muito mais do
que uma atitude saneadora, o impeachment de Collor foi ato meramente político, somente não gerando maiores conseqüências
porque o presidente carecia de uma base social de sustentação, e se comportou quase como um resignado .
Aécio, o neto de Tancredo radicaliza, diz que
foi ¨derrotado por uma quadrilha ¨, aí,
desastradamente, incluindo todos os brasileiros que nele não votaram, e nisso
ganha o espaço que lhe é concedido por uma mídia com tradição golpista, como o grupo Marinho da Globo, o Grupo Mesquita de O Estado de S. Paulo,
acolitados por outros onde se inclui o
Grupo dos Chivita, ramo da máfia italiana.
Quando se procura partidarizar a
apuração conduzida pelo Juiz Sérgio Moro daquela ladroeira monumental ocorrida na
Petrobras, atrapalha-se o caminho de uma
ação correta, inicialmente na estatal petroleira, mas, que poderá ampliar-se
alcançando todos os setores empresariais e públicos onde o roubo faz parte da rotina. Toda a esperança
despertada pela ação conjunta da Policia Federal, do Ministério Público e da
Justiça corre o risco de se desfazer no tumulto que um grupelho fascistoide promove, ululando nas ruas a raiva revanchista e a ambição voltada para o ano de 2018, ou
até conspirando para antecipá-lo.
Partidarizar as apurações que agora se fazem em clima de
segurança jurídica e estabilidade democrática, é o mesmo que tentar reeditar,
ampliando e dando conseqüências graves a aquele gesto imbecil e arrogante do ex- ministro petista Jose Dirceu. Ele,
destituído de qualquer sentimento de vergonha
entrou na cadeia
como se fosse um herói injustiçado levantando o punho em sinal de
desafio às instituições, que funcionaram , apesar
do vedetismo de alguns e das deformações midiáticas tantas vezes
registradas.
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