terça-feira, 11 de novembro de 2014

UM GRINGO BRASILEIRO UM BRASILEIRO GRINGO



UM GRINGO BRASILEIRO
UM BRASILEIRO GRINGO
Mangabeira Unger  é  brazuca   vivendo nos Estados Unidos,  e professor  da Universidade de Harvard. De tempos em tempos  vem ao Brasil , e aqui  suas analises sobre o país sempre causam sensação. E polemicas.
Intelectual respeitado por uns, detestado por outros,  nos círculos mais à direita ou à esquerda  as vezes é visto como um personagem bizarro. Mangabeira tem sido um oráculo consultado por muitos políticos, principalmente  aqueles, no governo. Brizola foi um deles quando  assumiu o governo do Rio ainda na ditadura militar   afrouxando as rédeas e até permitindo eleições.   Habilidoso e com uma nova face conciliadora,  Brizola aproximou-se de Figueiredo, tornou-se   habitual  conviva nos churrascos que o general presidente  oferecia na Granja do Torto , onde morava próximo aos seus cavalos, cujo cheiro, dizia, era mais tolerável do que os odores do povo. Brizola  levou Mangabeira a um dos churrascos tentando fazer Figueiredo escutá-lo,   mas o  cavalariano não simpatizou muito com aquele  patrício que falava arrevesado, como se fosse um gringo.
 Mangabeira e Darcy Ribeiro, outro dos conselheiros de Brizola, tinham uma mesma característica: eram exuberantemente entusiasmados com o povo brasileiro,  e ansiosamente inconformados com a situação de um país que apenas tateava pelos caminhos  que o levariam ao futuro, sem conseguir aproveitar as imensas energias de um povo tão excepcionalmente criativo.
Desde então,  Mangabeira Unger tem sido um pensador energizado pelo sofisticado ambiente acadêmico de  Harvard   a teorizar sobre a realidade brasileira e apontando soluções para os nossos problemas. Ele faz isso através de um  receituário onde estão presentes propostas surpreendentemente heterodoxas  ao lado de outras,  comportadamente adequadas ao figurino do neoliberalismo.  
 Mangabeira,   que fala o português com alguma relutância, se distancia muito daqueles  desprovidos do sotaque gringo, todavia apegados ao exclusivo modelo que os gringos nos indicam para ser seguido com a obediência mansa dos cachorrinhos  amestrados.
Por outro lado,  Mangabeira  recusa-se a aceitar o figurino de uma esquerda que ainda não teve notícia da queda do Muro de Berlim , nesta semana completando 25 anos.
O que ele  agora propõe é  a  ruptura desse impasse  que  sufoca a nação polarizada entre duas imperfeições políticas em confronto. Rompido o impasse com a assepsia daquela contaminação ideológica levada ao extremo ,   restabelecido o cordato ritual democrático, se deveria ir em busca da criatividade, da capacidade  de improvisar,  inventar e empreender , características do povo brasileiro.
Momentos  em que o este povo  exerceu alguma forma de protagonismo  ocorreram poucas vezes na nossa História . Nas revoluções  dos 20 só apareceram os tenentes;  mesmo na revolução de 30 o povo foi   mero espectador. Em 32 os paulistas foram combater pela redemocratização, e mataram e morreram para manter os privilégios  do baronato  cafeeiro.   Até na fotografia que   eternizou um momento do delírio cívico dos 18 do Forte, aparecem em poses marciais os tenentes  suicidas e, junto  deles, um civil elegantemente trajado. O proletariado  vestindo macacões, nos anos 20 fez algumas greves, alguns quebra-quebras liderados por emigrantes anarquistas,mas a polícia logo apareceu. Era a solução da época para as insatisfações sociais. A rebelião comunista de 35, foi muito mais  quartelada do que  movimento popular, o mesmo  acontecendo  depois com o putsch   dos galinhas – verdes, os integralistas,  na sua maioria  gente da restrita classe média,  intelectuais e a oficialidade da Marinha.
Povo,  trabalhador, gente pobre,  participando e conquistando espaços, houve mesmo, intensamente, em três  ocasiões . A primeira com Getúlio, e o seu Estado Novo, autoritário, manipulador. Mas no  estádio  São Januário ouviu-se, num primeiro de maio, um coral de mil vozes regido pelo maestro Heitor Villa Lobos, cantar o Hino Nacional,  seguido pelo  coro  sem regente de mais  de 30 mil trabalhadores que ali estavam para ouvir o anúncio do novo salário mínimo,  conquista alcançada sobre  as oligarquias semi-feudais temporariamente recolhidas.
Com Lula se fez a  ¨descoberta ¨ :  mais de 40 milhões de brasileiros passavam fome. Pela primeira vez o Estado brasileiro assumiu o compromisso  de garantir comida para quem via os filhos nascerem e morrerem por desnutrição.   O povo surgiu, saindo  das choças onde a miséria se recolhia conformada. E esse  povo  faminto que subiu degraus na escada da ascensão social, não é somente gente nordestina.  O terceiro estado com mais gente no  Bolsa Família é a Minas  de Aécio, o quarto é São Paulo, rico e poderoso, de Alckmin e FHC.
O terceiro momento foram os 50  anos em 5 de Juscelino, quando o povo, mesmo sem cor ideológica, apenas  com a sensação do otimismo  gerado pelo desenvolvimento, passou a acreditar mais no Brasil, e fez Brasília, siderúrgicas, hidrelétricas gigantes, estradas imensas,  se tornou trabalhador qualificado nas montadoras, nos estaleiros.
 Mangabeira   propõe   um processo de energização social e econômico movido pela idéia de que  não esgotou-se o  modelo de transformação, mas deve ser modificado, sem prescindir do povo nem excluir os atores que podem dar força à uma economia  precisando  deslanchar. Para Mangabeira a expansão da demanda, feita pelo salário maior e pela democratização do crédito, precisa agora  exigir  a expansão e democratização da oferta, ou seja, um choque de produção e produtividade ,  pela incorporação de tecnologias, pela educação e o ingresso de novos empreendedores no sistema produtivo.      
Lembra Unger que das 500 maiores empresas do mundo   quase 400 estão presentes no Brasil, e sugere que Dilma reúna essas empresas para que se descubra como  poderemos  participar da formidável cadeia global de negócios que elas geram.
E recomenda  mais, sem fugir à ortodoxia : Muita responsabilidade fiscal e desoneração completa das exportações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário