O preconceito é bem antigo vem de muito longe e não nasceu agora nessa disputadíssima
eleição. Nos primórdios da enorme
colônia portuguesa o nordeste era a sua única área produtiva, e lá se plantava
a cana , se fazia o açúcar mandado a Lisboa para ser distribuído pela Europa
que começava a se deliciar com uma cozinha já descobrindo o doce e o sabor das
especiarias vindas também de muito longe,
das Índias, alem de dois Oceanos. Veio o ciclo do couro que também se fez no
nordeste onde as boiadas subiram pelas margens do São Francisco, e na frente
delas ia o fogo devastando as caatingas para que nascessem as pastagens.
Os bandeirantes,
caminheiros incansáveis, saiam de uma
terra paupérrima e primitiva, onde a barreira das serranias costeiras fazia os
rios correrem para os sertões e foram por eles entrando, na busca do metal
dourado e das pedras brilhantes. Surgiram
as minas gerais pejadas de tantos minérios nobres. Veio o ciclo do ouro e desapareceu, para não
mais retornar, a preponderância econômica do nordeste.
Foram surgindo, numa
terra montanhosa, os núcleos febrís da
mineração, e de população pelos caminhos do ouro, que
levavam ao Rio de Janeiro, ou, passando pela vila embrião de São Paulo, descendo as escarpas da serra até
um porto que seria Santos.O ouro brasileiro foi encher de ricos dourados as
igrejas e os palácios de Portugal, os
portugueses, sem que soubessem dar
melhor proveito à riqueza que lhes
chegava da colônia, acabaram por vê-la transferir-se à Inglaterra, e logo a ¨Pérfida Albion ¨ soube utilizá-la para financiar a expansão do
Império pelos quatro cantos do mundo.
Os vastos canaviais começaram a se espalhar pelas Antilhas,
onde Cuba era a pérola. O açúcar tornou-se mais barato, e ao nordeste
brasileiro restou a soberba intocada dos senhores de engenhos decadentes, que
perderam a competição mas conservaram a empáfia, e a região se foi empobrecendo, conservando,
porém, aqueles traços de uma sociedade escravocrata infensa à modernização. Nos restaram o mandonismo e o atraso daqueles
barões do cabaú, enquanto São Paulo
enriquecia com o cafezais , que geraram
outros barões, mas, descobriu o caminho
da industrialização, e o crescimento se fez com
a mão de obra livre do imigrante que substituía o braço escravo, e
trazia, também, a experiência do trabalho organizado , depois, com as estradas e o caminhão, chegavam os
nordestinos fugindo da fome, fazendo
erguer a megalópolis verticalizada símbolo da pujança paulista.
O nordeste ficou para trás, e a fatalidade
histórica se foi transformando também, na calamidade social que ampliava a
miséria e tornava as populações,
principalmente as rurais, cada vez mais dependentes do poder político exercido
por uma elite absolutamente indiferente a tudo o que não dizia respeito ao seu
próprio bolso.Nos anos 50 começou a
mudança com o advento da SUDENE, idéia de Celso Furtado posta em prática por Juscelino.E o nordeste
iniciou um processo virtuoso de industrialização, na sua maior parte resultante
da parceria entre Estado e empresários , e neles, havia a preponderância dos
paulistas Uma parcela dessa mudança foi também a conscientização do povo, dos
trabalhadores do eito da cana, que se incorporavam às Ligas Camponesas de
Francisco Julião .
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