segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O SUL PRODUTIVO SUSTENTANDO O NORDESTE DA ¨BOLSA PREGUIÇA ¨



O preconceito é bem antigo vem de muito longe  e não nasceu agora nessa disputadíssima eleição.  Nos primórdios da enorme colônia portuguesa o nordeste era a sua única área produtiva, e lá se plantava a cana , se fazia o açúcar mandado a Lisboa para ser distribuído pela Europa que começava a se deliciar com uma cozinha já descobrindo o doce e o sabor das especiarias  vindas também de muito longe, das Índias, alem de dois Oceanos. Veio o ciclo do couro que também se fez no nordeste onde as boiadas subiram pelas margens do São Francisco, e na frente delas ia o fogo devastando as caatingas para que nascessem  as pastagens.
 Os bandeirantes, caminheiros incansáveis,  saiam de uma terra paupérrima e primitiva, onde a barreira das serranias costeiras fazia os rios correrem para os sertões e foram por eles entrando, na busca do metal dourado e das pedras brilhantes.  Surgiram as minas gerais pejadas de tantos minérios nobres.  Veio o ciclo do ouro e desapareceu, para não mais retornar, a preponderância econômica do nordeste.
 Foram surgindo, numa terra montanhosa,  os núcleos febrís da mineração,  e  de população pelos caminhos do ouro, que levavam ao Rio de Janeiro, ou, passando pela vila embrião de  São Paulo, descendo as escarpas da serra até um porto que seria Santos.O ouro brasileiro foi encher de ricos dourados as igrejas e os palácios de Portugal,  os portugueses, sem  que soubessem dar melhor proveito à riqueza  que lhes chegava da colônia, acabaram por vê-la transferir-se à Inglaterra,  e logo  a ¨Pérfida Albion ¨  soube utilizá-la para financiar a expansão do Império pelos quatro cantos do mundo.
Os vastos canaviais começaram a se espalhar pelas Antilhas, onde Cuba era a pérola. O açúcar tornou-se mais barato, e ao nordeste brasileiro restou a soberba intocada dos senhores de engenhos decadentes, que perderam a competição mas conservaram a empáfia,  e a região se foi empobrecendo, conservando, porém, aqueles traços de uma sociedade escravocrata  infensa à modernização. Nos  restaram o mandonismo e o atraso daqueles barões do cabaú,   enquanto São Paulo enriquecia com o cafezais ,  que geraram outros barões, mas,  descobriu o caminho da industrialização, e o crescimento se fez com  a mão de obra livre do imigrante que substituía o braço escravo, e trazia, também, a experiência do trabalho organizado , depois, com  as estradas e o caminhão, chegavam os nordestinos fugindo da fome,   fazendo erguer a megalópolis verticalizada símbolo da pujança paulista.
  O nordeste ficou para trás, e a fatalidade histórica se foi transformando também, na calamidade social que ampliava a miséria e tornava  as populações, principalmente as rurais, cada vez mais dependentes do poder político exercido por uma elite absolutamente indiferente a tudo o que não dizia respeito ao seu próprio bolso.Nos anos 50  começou a mudança  com o advento da SUDENE,  idéia de Celso Furtado  posta em prática por Juscelino.E o nordeste iniciou um processo virtuoso de industrialização, na sua maior parte resultante da parceria entre Estado e empresários , e neles, havia a preponderância dos paulistas Uma parcela dessa mudança foi também a conscientização do povo, dos trabalhadores do eito da cana, que se incorporavam às Ligas Camponesas de Francisco Julião .

Essa idéia de que o  Bolsa Família é apenas um estímulo para a preguiça, resulta , em grande parte, de uma falsa  impressão que se tem do nordeste, visto como uma região que nada produz e vive dos impostos  pagos principalmente no  sul e no sudeste. Quando um sulista desinformado  se convence de que o nordestino dorme na rede enquanto ele trabalha duro, surge a indignação por ter o ¨preguiçoso ¨ ajudado a derrotar Aécio,  em quem ele acreditava estar a esperança  do Brasil.  A fúria que alguns revelam nas redes sociais é coisa isolada, embora não deixe de ser, o preconceito, um sério sintoma de um mal que deve ser combatido com o esclarecimento, ou por uma forma ainda  melhor de nos aproximarmos de todos os outros brasileiros . Essa forma é   o turismo , que se pode fazer crescer aperfeiçoando a nossa estrutura  receptiva , corrigindo nossas mazelas, que não são poucas, e realizando campanhas inteligentes,  para atrair  às nossas praias e aos nossos sertões um número cada vez maior de paulistas, gaúchos, paranaenses, catarinenses, que, se saírem plenamente satisfeitos  terão na cabeça uma outra idéia sobre o nordeste,  e poderão até começar a pensar, com todo direito, que os nordestinos vivem do dinheiro que eles aqui gastam.

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