A RECORRENTE CONSPIRAÇÃO
CONTRA O SALARIO MÍNIMO
Em maio de52 o presidente Getúlio Vargas cumpriu o que prometera como
candidato e anunciou um aumento de cem por cento para o salário mínimo. O
Ministro do Trabalho era um grande pecuarista gaúcho, João Goulart, homem de
confiança do presidente, íntimo da família, e que salvou da bancarrota a
estancia de criação de gado e ovinos
em São Borja, que Getúlio recebera de herança do seu pai e não tinha
tempo nem gosto para administrar, sempre envolvido com a política. Jango, como
era mais conhecido o Ministro, era um dos líderes do PTB, e fizera sua carreira
política tendo como base o movimento sindical. A extrema direita golpista
liderada por Carlos Lacerda e que tinha presença forte nas forças armadas, via
no aumento do salário mínimo um passo a mais para a instalação da ¨República
Sindicalista ¨que seria a porta aberta para a comunização do Brasil, e em Jango
um perigoso incentivador desse processo. Contra a majoração do mínimo surgiu o
chamado Manifesto dos Coronéis. Os militares envenenados pelo terrorismo verbal
de Lacerda, consideravam-se desprestigiados e até humilhados por Getúlio e seu
Ministro do Trabalho que equiparavam o salário de um trabalhador ao soldo de um
oficial da marinha, exercito e aeronáutica.. A argumentação era absurda,
preconceituosa, resultante de uma visão elitista que não admitia a ascensão
social dos trabalhadores. Para conter a conflagração nos quarteis, Getúlio
exonerou Jango, mas, manteve o aumento do mínimo. O episodio foi o ensaio do
golpe que ocorreria em agosto de 1954, quando a sublevação da Aeronáutica
conhecida como República do Galeão, ganhou força nas outras Armas, e levaria
Getúlio à deposição não fosse o gesto do presidente, que matou-se deixando a Carta
Testamento, assim, virou o jogo, causou comoção popular e a desmoralização dos
seus adversários. Eles, contudo, apenas ensarilharam por algum tempo as armas,
e voltaram, tornando-se vitoriosos no golpe de 64.
60 anos depois, setores da sociedade brasileira que nunca deixaram de
ser retrógrados continuam inconformados com o salario mínimo, querem a volta
imediata do arrocho salarial, o chicote da chamada recuperação econômica
batendo nas costas do trabalhador , do povo. Teorizam, cinicamente, sobre os efeitos
perversos do aumento salarial sem paralelo com a produtividade, apontam-no como
causa da inflação, do descontrole das contas públicas, e já ganharam a forte
adesão da Globo. Estão querendo tornar ainda mais reduzido o mínimo do
trabalhador brasileiro, menor, aliás, do que recebem os trabalhadores uruguaios
e argentinos.
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