terça-feira, 22 de abril de 2014

OS OVOS DE PÁSCOA E O PODER DAS REDES SOCIAIS



OS OVOS DE PÁSCOA E O
PODER DAS REDES SOCIAIS
 Costuma-se afirmar que Gutenberg,ao inventar o  prelo,  primitiva máquina de imprimir, sepultou a Idade Média, acelerou o Renascimento, tornando a informação acessível às massas, retirando  os manuscritos guardados na sua maior parte em conventos para transformá-los em incunábulos, os primeiros livros rudimentares e com tiragem restrita a  poucos volumes. A difusão do conhecimento que se tornou mais fácil ,ficava restrita a uma elite que sabia ler numa Europa onde a grande maioria da população era de analfabetos.
Durante a Revolução Francesaa invenção da tipografia ainda não fizera da imprensa o  ¨quarto poder ¨, embora circulassem  jornais e impressos diversos, alguns deles ousando até ridicularizar a realeza, que ainda era absolutista. No século 19 é que surgem os grandes jornais,intérpretes dos interesses de grupos econômicos e financeiros, alguns poucos, bem modestos, expressando as ideias de segmentos políticos  que defendiam mudanças sociais, e já entrando no espectro ideológico a  nova bandeira içada por  Marx e Engels.
No inicio do século 20 ocorre a primeira manifestação de força da imprensa, que efetivamente começa a exercer decisivainfluencia, justificando a classificação de ¨quarto poder  ¨. No inicio da segunda década daquele século agudizam-se os conflitos entre as grandes potencias europeias, o ápiceda sede de expansão colonialista,  com a fome de recursos naturais e de novos mercados, do capitalismo que se globalizava. Os grandes jornais ingleses, franceses, alemães, austríacos, russos, pareciam seguir uma mesma linha editorial quando exaltavam o heroísmo guerreiro e insistiam na inevitabilidade de mais uma guerra europeia.  Os grandes bancos haviam financiado a indústria bélica, e era preciso fazê-laproduzir e vender mais canhões, mais fuzis, mais gases venenosos, navios de guerra, e até os aeroplanos que começavam a cruzar os céus , já  vistos como a arma do futuro. De tanto se falou em guerra, de tanto se estimulou o armamentismo e a circunscrição militar, que umepisódio sem a dimensão de causar ultimatos, o assassinato do arquiduque  austríaco Ferdinando, e da duquesa sua mulher,  em Serajevo, por um  nacionalista sérvio, fez com que, sucessivamente, os governos europeus mobilizassem  seus exércitos, que logo estariam envolvidos na   carnificina com amplitude global, a Primeira Grande Guerra. O que os jornalões influentes da época não previram, quando estimulavam os jovens a irem alistar-se para combater naquele fatídico ano de 1914, foi a amplitude e a duração do conflito, que se arrastaria até 1918, ao preço de milhões de mortos, e do surgimento denova configuração geopolítica, com a ascensão dos comunistas ao poder na Rússia,  e do esmagamento da Alemanha, onde a humilhação se transfiguraria no ódio que pôs em marcha o fanatismo nazista. Do outro lado do mundo firmara-se o protagonismo dos Estados Unidos, que decidiram a sorte da guerra  com a enorme capacidade industrial  colocando a atravessar o Atlântico equipamentos bélicos e soldados. A primeira grande guerra liquidou os maiores impérios europeus, o alemão, o russo, o austro-húngaro, e debilitou o maior de todos, o britânico, que passou a ser coadjuvante dos Estados Unidos no xadrez mundial.
A estreia do quarto poder no palco das grandes decisões mundiais não foi uma coisa a ser relatada como auspiciosa. A grande imprensa cumpriuo deprimente papel de fomentar a guerra, de iludir e anestesiar consciências. Não se tem notícia de quemagnatas  proprietáriosde  jornalão, fosse inglês, francês, alemão, tenha,  movido pelo patriotismo que tanto exaltaram, ido combater e morrer nas trincheiras do Marne, da Champagne, nas batalhas navais do Atlântico, do Báltico, ou alojados na carlinga rústica  dos primeiros aeroplanos armados.
O morticínio devastador da Primeira Grande Guerra selou o compromisso entre os responsáveis pela informação, pela formação da opinião pública,e a esfera dos interesses econômicos e financeiros. É dessa conjugação de objetivos quetêm, ao longo do tempo, se alimentado os grandes  jornais, depois,   as redes de rádio e televisão. Imaginar candidamente algo diferente, algo como a ética a orientardecisões  dos magnatas  da grande mídia,  é ingenuidade infantil.
A liberdade de expressão,a intocabilidade do direito de informar, ou até mesmo desinformar, são todavia fundamentais, porque,  existindo essas prerrogativas democráticas, vigora o pluralismo que resulta do choque de interesses, e disso tudo se pode formar uma ideia do conflito, e assim, retirar conclusões.
O surgimento da Internet fez com que a sociedade deixasse de ser alvo receptivo das mensagens da mídia como massa de manobrapassiva, sem condições de agir ou interagir.
A Internet faculta a cada pessoa, uma mídia, comamplo horizonte para reagir, influenciar, debater, explanar ideias, denunciar.
É essa a grande revolução que se processa, e que terminará por conduzir um processo de aperfeiçoamento democrático, o surgimento real, concreto, da democracia participativa que os parlamentos não souberam ou não quiseram interpretar. Há os inevitáveis erros, desvios, até crimes, compreensíveis, numa circunstancia ainda inusitada, mas não chegam a deformar o significado da liberdade ampla de informação e manifestação do pensamento individual que, somado, se transforma em potencia coletiva.
Nos dias que antecederamà Semana Santa houve   excessiva manipulação inflacionária nos preços dos Ovos de Páscoa, uma dessas ¨tradições ¨,  ou nada mais do que apelo ao consumismo, mas, enfim, é do consumismo que se sustenta o sistema, e dele surgem os empregos , a renda e o lucro, essenciais à economia. Ninguém,evidentemente, é obrigado a comprar  ovos de páscoa, mas as crianças pedem, as relações sociais recomendam. Então, o sacrifício é feito.
Ai surgiu na rede social a mensagem que não é nada exemplar ou eticamente recomendável, mas, que traduzia uma indignação. Recomendava-se a compra mínima de ovos , depois de um processo de escolha demorado, e nessa escolha, facilmente apertando-se a mão e quebrando o dobro, o triplo dos ovos que fossem adquiridos. Na quarta-feirafuncionários de supermercados e lojas de departamento já acusavam um elevado numero de ovos amassados, quebrados.
Aconteceu sem duvidas um ato ilegal, mas, no próximo ano,fabricantes de chocolates, as redes de comercialização, irão se entender mais cuidadosamente, antes de combinarem qualquer aumento de preços.
Perdeu-seo respeito pelo consumidor, as redes sociais demonstraram que o desrespeito sempre poderá gerar consequências.  Reduz-se forçadamente a ganancia, melhora a sociedade.
Não se pode mais ignorar a força da Internetque evolui para se transformar numa espécie de poder popular, um autêntico Quarto Poder.

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