sábado, 12 de abril de 2014

O TEMPO E OS VENTOS

O TEMPO E OS VENTOS
O tempo andou a fazer  enganosa propaganda de chuva. E isso aconteceu meses a fio, desde o começo de novembro ,    data em que se anunciam e podem ocorrer trovoadas.  Nuvens escuras,  pesadas,  passavam insistentemente pelo céu, pejadas de aguas que não caiam. Durante  as noites,  havia o faiscar de relâmpagos, formando focos de clarões espalhados por todos os quadrantes, mas, não se ouvia o ribombar rouco de trovões, embora os clarões parecessem não estar tão distantes. Era apenas um festim celeste,  espetáculo de luzes  sem maiores consequências, deles, não surgia a abundancia das tempestades levadas a bom termo, ou seja, desfazendo-se na liquefação do vapor, passando a ser  chuva, água.    Nuvens espessas que em frações de segundo pareciam massas incandescentes, surgiam e desapareciam,  levadas ao vento sem deixar pelo chão de brasa um rastro molhado. E com as nuvens  que até começos de abril  passavam,  tão indiferentes ao chão esturricado, e  aos que  dele  ansiosamente acompanhavam o seu percurso,  se acabavam as esperanças dos aguaceiros de verão, as trovoadas.
  Os desacertos do clima  subvertendo estações, ainda não tornaram  incrédulos os sertanejos, sempre  observando  sinais que os céus , a terra, as árvores e os bichos, sempre transmitem, anunciando chuva ou estiagem. Pelo começo de abril, antes mesmo que a meteorologia anunciasse,  os  farejadores da chuva já andavam a antecipar o despencar das águas que as nuvens e os relâmpagos há tanto tempo, falsamente, deixavam antever.

Eram as formigas de asas que voejavam, as  ¨fogo-pagô ¨  em bandos recém chegados, juntando o sincopado canto ao lamúrio  dolente da juriti , enquanto  seriemas  pareciam fazer uma competição agressiva  de vozes estridentes. Por fim,  era a terceira ou quarta vez que os mandacarus se enchiam de flores, aquelas noturnas, que só o luar revela, e se  fecham, precavidas
 ao primeiro clarão de sol. Até os sapos, tão sumidos, andaram  reaparecendo.       
  Diante de tantas evidências, as nuvens e os raios não poderiam continuar apenas como enganosa propaganda celestial,  e assim, apesar de ser abril,  retardatária tempestade finalmente desabou na madrugada do dia 8. Raios e trovões  estrepitosamente audíveis, formaram o cenário feérico da chuva benfazeja que despencava.

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