sábado, 15 de março de 2014

O PRATO DE LOUÇA DO MENINO QUE GOSTAVA DE OUVIR SINOS



O PRATO DE LOUÇA DO MENINO
QUE GOSTAVA DE OUVIR  SINOS
Olhando aquelas longas filas de jovens   que desciam as rampas interligando pavimentos de um dos  prédios   do polo da faculdade AGES em Paripiranga,  na Bahia, um dos prefeitos  que visitavam o campus,  lembrou: ¨Parece Serra Pelada¨.  Um outro,  que estava próximo, observou: ¨Mas  veja a diferença,  aqui, aquela moçada está procurando o ouro do conhecimento ¨.
Há 33 anos um jovem que acabara de receber o diploma de licenciatura em  Letras pela Universidade Federal de Sergipe,  campus de Aracaju, retornara à sua terra  com o primeiro sonho realizado:   Era professor.  Criou então uma modesta escola, semente do que viria  materializar o segundo sonho: Aquele formigueiro humano povoado por mais de 7 mil jovens,  tais como  os protagonistas daquela cena, na alacridade habitual do  término das aulas descendo as rampas,  que fizeram   lembrar   imagens  da super povoada  mina de ouro na selva amazônica.  Serra Pelada foi uma tragédia brasileira,  juntando a  frustração de muitas vidas desesperançadas, com a ambição da riqueza fácil,  desenhada pelo  discurso enganoso de uma ditadura que  se especializava em anestesiar consciências.
No Povoado Poço do Espírito Santo, um menino raquítico, olhos esbugalhados , sintoma de desnutrição com a vontade de enxergar o mundo, andava a  graxar sapatos,   capinar o mato , sempre  agarrado a uma cartilha e um catecismo. Pensava em ser padre, ajudava na igreja e não perdia a oportunidade de puxar as cordas e fazer tocar os sinos. Na virada dos anos 60 para os 70, morriam em Paripiranga muitas crianças e, para elas, plangiam  dolentes  os sinos da igreja. O menino  acabara de realizar o desejo de comer num prato de louça,  achado inteirinho no lixo.  Depois o lavou,   tanto o esfregou, que dele  fez uma peça  reluzente  para alimentar seu orgulho modesto de criança  que ia conseguindo, pelo desvelo  da mãe, escapar do tétano e de tantas outras  doenças que  dizimavam a infância, e  faziam a média do tempo  de vida naquele canto desprezado da  Bahia imensa, não  passar dos 40 anos.
O professor, educador e empreendedor social  que estava a guiar  prefeitos numa visita técnica   às salas de aula, laboratórios, biblioteca, restaurantes, parque ecológico, salas pedagógicas, era Jose Wilson dos  Santos, o menino que tocava sinos e queria comer num prato de louça, o criador da AGES.
 Quem chega pela primeira vez a AGES, logo observa o diferencial da atenção, da cortesia, do profissionalismo, desde a portaria à todas as dependências do complexo de ensino agora com  mais de vinte cursos disponíveis. Na fala do professor Wilson   há um permanente foco no tema da  responsabilidade social . Wilson admira inovadores e militantes sociais como o Frei Leonardo Boff.  Entre os que o ajudaram no empreendimento está o professor sergipano Jose Araújo Filho,  um dos líderes da Juventude Universitária Católica,  núcleo de pensamento social  cristão e renovador, muito influente em Aracaju nos anos 50 e inicio da década dos 60.
A AGES chega agora a Sergipe. Primeiro, instala-se em Canindé do São Francisco.  As informações transmitidas pelo prefeito Heleno Silva e seu Secretário da Educação professor Orinaldo, inclusive com o oferecimento de instalações já prontas, fizeram o professor Wilson decidir que Canindé será o primeiro ponto em Sergipe, e  onde  funcionarão  vários cursos, entre eles, os de engenharia civil, agronomia e engenharia elétrica. Em seguida, em Lagarto, onde o prefeito Lila Fraga está agilizando diversas providencias para oferecer a infraestrutura.  O professor Wilson não faz exigências, não quer isenção fiscal, sugere apenas que o ISS seja revertido em bolsas de estudos.  Os prédios que lhe serão oferecidos, ele os ocupará por tempo determinado até construir suas próprias instalações. Entusiasmado com Sergipe ,  com a  visão futurista do governador Jackson   Barreto , pela  impressão positiva causada quando por ele foi recebido, também do seu amigo desde os tempos do Banco do Nordeste,  o Secretário do Desenvolvimento Saumínio Nascimento, que o incentivou a vir para Sergipe, o professor Wilson  tem agora, em Canindé , algo como se fosse o seu segundo  ¨prato de louça ¨,  e  começa a desenhar outros projetos que passam pelo turismo, setor considerado estratégico pelo prefeito Heleno Silva.

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