O PRATO DE LOUÇA DO MENINO
QUE GOSTAVA DE OUVIR SINOS
Olhando aquelas longas filas de
jovens que desciam as rampas
interligando pavimentos de um dos
prédios do polo da faculdade
AGES em Paripiranga, na Bahia, um dos
prefeitos que visitavam o campus, lembrou: ¨Parece Serra Pelada¨. Um outro,
que estava próximo, observou: ¨Mas
veja a diferença, aqui, aquela
moçada está procurando o ouro do conhecimento ¨.
Há 33 anos um jovem que acabara
de receber o diploma de licenciatura em
Letras pela Universidade Federal de Sergipe, campus de Aracaju, retornara à sua terra com o primeiro sonho realizado: Era professor. Criou então uma modesta escola, semente do
que viria materializar o segundo sonho:
Aquele formigueiro humano povoado por mais de 7 mil jovens, tais como
os protagonistas daquela cena, na alacridade habitual do término das aulas descendo as rampas, que fizeram
lembrar imagens da super povoada mina de ouro na selva amazônica. Serra Pelada foi uma tragédia
brasileira, juntando a frustração de muitas vidas desesperançadas,
com a ambição da riqueza fácil,
desenhada pelo discurso enganoso
de uma ditadura que se especializava em
anestesiar consciências.
No Povoado Poço do Espírito
Santo, um menino raquítico, olhos esbugalhados , sintoma de desnutrição com a
vontade de enxergar o mundo, andava a
graxar sapatos, capinar o mato ,
sempre agarrado a uma cartilha e um
catecismo. Pensava em ser padre, ajudava na igreja e não perdia a oportunidade
de puxar as cordas e fazer tocar os sinos. Na virada dos anos 60 para os 70,
morriam em Paripiranga muitas crianças e, para elas, plangiam dolentes
os sinos da igreja. O menino
acabara de realizar o desejo de comer num prato de louça, achado inteirinho no lixo. Depois o lavou, tanto o esfregou, que dele fez uma peça
reluzente para alimentar seu
orgulho modesto de criança que ia
conseguindo, pelo desvelo da mãe,
escapar do tétano e de tantas outras
doenças que dizimavam a infância,
e faziam a média do tempo de vida naquele canto desprezado da Bahia imensa, não passar dos 40 anos.
O professor, educador e
empreendedor social que estava a
guiar prefeitos numa visita técnica às salas de aula, laboratórios, biblioteca,
restaurantes, parque ecológico, salas pedagógicas, era Jose Wilson dos Santos, o menino que tocava sinos e queria
comer num prato de louça, o criador da AGES.
Quem chega pela primeira vez a AGES, logo
observa o diferencial da atenção, da cortesia, do profissionalismo, desde a
portaria à todas as dependências do complexo de ensino agora com mais de vinte cursos disponíveis. Na fala do
professor Wilson há um permanente foco
no tema da responsabilidade social .
Wilson admira inovadores e militantes sociais como o Frei Leonardo Boff. Entre os que o ajudaram no empreendimento
está o professor sergipano Jose Araújo Filho, um dos líderes da Juventude Universitária
Católica, núcleo de pensamento
social cristão e renovador, muito
influente em Aracaju nos anos 50 e inicio da década dos 60.
A AGES chega agora a Sergipe.
Primeiro, instala-se em Canindé do São Francisco. As informações transmitidas pelo prefeito
Heleno Silva e seu Secretário da Educação professor Orinaldo, inclusive com o
oferecimento de instalações já prontas, fizeram o professor Wilson decidir que
Canindé será o primeiro ponto em Sergipe, e
onde funcionarão vários cursos, entre eles, os de engenharia
civil, agronomia e engenharia elétrica. Em seguida, em Lagarto, onde o prefeito
Lila Fraga está agilizando diversas providencias para oferecer a
infraestrutura. O professor Wilson não
faz exigências, não quer isenção fiscal, sugere apenas que o ISS seja revertido
em bolsas de estudos. Os prédios que lhe
serão oferecidos, ele os ocupará por tempo determinado até construir suas
próprias instalações. Entusiasmado com Sergipe , com a
visão futurista do governador Jackson
Barreto , pela impressão positiva
causada quando por ele foi recebido, também do seu amigo desde os tempos do
Banco do Nordeste, o Secretário do
Desenvolvimento Saumínio Nascimento, que o incentivou a vir para Sergipe, o
professor Wilson tem agora, em Canindé ,
algo como se fosse o seu segundo ¨prato
de louça ¨, e começa a desenhar outros projetos que passam
pelo turismo, setor considerado estratégico pelo prefeito Heleno Silva.
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