quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A BATALHA PERDIDA CONTRA AS DROGAS



A BATALHA PERDIDA CONTRA AS DROGAS
A guerra contra as drogas vem sendo, em todo o mundo, uma sucessão de batalhas perdidas pelos órgão de repressão, que, embora sofisticados, não conseguem fazer duas coisas que seriam essenciais: Convencer o usuário a deixar de consumir a droga e evitar o contágio da corrupção. Enquanto houver quem esteja disposto a comprar droga, ávidos narizes cafungando o pó, e enquanto não for reinventada a natureza humana para tossrná-la imune à sedução do dinheiro, não há como imaginar que através da repressão se poderá acabar com os traficantes, e impedir a comercialização da droga.
No Rio de Janeiro a ocupação dos morros pela chamada Polícia Pacificadora criou a ilusão de que , nos territórios reconquistados, com direito a hasteamento de bandeira e tudo o mais, os traficantes estariam derrotados.. Ledo engano. A polícia finge que ocupou e ¨pacificou ¨os morros, e o tráfico continua. Mas o fingimento resulta em conflitos constantes, por outro lado, parte dos envolvidos com o tráfico, no caso a ¨arraia miúda ¨temporariamente desalojada, foi agir nas ruas, em outro ramo de ¨atividade¨: Os assaltos.
A maquiagem durou pouco tempo, depois, derreteu e deixou à mostra o rosto feio, porém real, de uma catástrofe coletiva que tem a característica de ser socializante, abrange todos, desde o que pode cheirar cocaína, ao pobre, que recorre ao crack, tão barato quanto letal.
O negócio da droga está hoje entre os 3 que mais movimentam dinheiro. É uma soma colossal, que se mede em centenas de bilhões de dólares, valor maior do que o Produto Interno Bruto de sessenta por cento dos países do mundo. Dar combate a este império global exige recursos e eles são gastos em quantidades colossais. Mas o custo benefício dessa guerra é duvidosamente avaliado.
Se de um lado o tráfico produz criminosos milionários, distribui renda entre os que nele se envolvem, do outro, o aparato repressivo também cria milionários corruptos entre o México e os Estados Unidos. Tijuana é o palco de uma guerra travada há mais de 50 anos e que ninguém acredita que poderá terminar algum dia. Ali estão diversos organismos do sofisticado sistema de repressão às drogas dos Estados Unidos, ao lado da polícia mexicana e vez por outra também das forças armadas daquele país. São em media 50 mil mortos todos os anos e Tijuana é uma cidade apenas de porte médio. Traficantes exterminam-se entre si, promovem matanças e colocam corpos espetados em postes, enfrentam, também, o aparato bélico mexicano e o da maior potencia militar do mundo, sem dar sinais de enfraquecimento. O mercado consumidor do lado norte da fronteira é imenso, ávido, e continua recebendo regularmente o seu suprimento, uma espécie de delivery transnacional. Tijuana até descobriu uma nova fonte de receita. São os narcofilmes ou narcocines, produções baratas, entre 20 e 30 mil dólares, mostrando a violência da guerra entre traficantes e policiais. Na tela, mocinho e bandido permanecem, como sempre, em lados eticamente antagônicos.
Alguém acredita que não exista entre o tráfico e a repressão uma área cinza onde se produz a rendosa conivência?
O exemplo mexicano pode ser transposto, sem receio de injustiça , para qualquer outra parte do mundo onde traficantes e policiais encenam o enfrentamento.
O governo de El Salvador, paisinho miúdo ao sul do México, infelicitado por vulcões, terremotos e guerras civis, adotou uma fórmula de convivência com as gangs do tráfico, que também se envolvem com sequestros e assaltos. Surgiu um pacto que escandaliza , mas, segundo a austera publicação The Economist, espelho fiel da imagem capitalista, em artigo intitulado, Dealing with the devil, ( Acordo com o demônio) afirma que¨ os acordos salvaram vidas, mas é algo que não pode ser feito à luz do dia. ¨
Quando governou o Rio de Janeiro, Leonel Brizola, pai de Neuzinha, que subia o morro dia e noite para comprar cocaína, combinou com os traficantes: ¨Vocês vendam suas drogas, a polícia não se mete, não cometam assaltos, sequestros, ou estupros, e vivam em paz ¨.
Talvez a fórmula ruborize os aplicadores da lei, os defensores da família, dos bons costumes, os moralizadores em geral, mas, de que adianta mesmo a polícia sair caçando maconheiros, procurando plantações nas caatingas de Pernambuco, nas ilhotas sazonais do São Francisco, enquanto a bandidagem assalta, mata e aterroriza?
Maconha é inofensiva ? Evidentemente que não. Mas, num país onde se faz propaganda de bebida alcoolica quase nos jardins de infância, onde se tolera e se cantam em músicas as ¨virtudes ¨de uma garrafinha de Pedra Noventa, quase álcool puro, vendida por 1,50 centavos, e bêbados matam e morrem ao volante, o que é mesmo considerado ofensivo ou inofensivo ?
O Uruguay faz agora uma experiência de discriminalização da maconha que deve ser acompanhada com atenção pelo Brasil, onde o Congresso começa a discutir uma iniciativa semelhante. A experiência uruguaia vem com certo atraso à América Latina, onde novidades, quando chegam, são coisas exóticas, assim como o finado Chavez ou o quase se finando Maduro, contrafações burlescas do que deveria ser mesmo uma esquerda sintonizada com o seu tempo , capaz de entender melhor e interagir com as forças que estão moldando uma nova configuração do mundo.

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