sábado, 7 de dezembro de 2013

MAIS CERTO DO QUE TROVOADA EM JANEIRO



MAIS CERTO DO QUE TROVOADA EM JANEIRO
 Havia, no sertão sergipano, um ditado muito repetido:   ¨Mais certo do que trovoada em janeiro.¨ Havia.  Agora ninguém mais  lembra do dito popular,   muito menos, de trovoadas pontuais desabando em janeiro. Para ser mais exato, é preciso dizer que as trovoadas rareiam ou não acontecem, tanto em janeiro como nos demais meses do verão,  tempo propício para que raios, e trovões façam o  ribombante anúncio do  aguaceiro prestes a desabar. As mudanças climáticas ocorrem num intervalo de tempo muito curto, coisa surpreendente, quando se sabe que fenômenos climatéricos ou geológicos costumam ser registrados ao longo de milhares ou milhões de anos. Não faz mais de 30 anos plantava-se e colhia-se muito algodão nos dois municípios mais esturricados de Sergipe, Canindé e Poço Redondo. Nas várzeas  que se formavam, mesmo distantes do São Francisco, não era raro o plantio do arroz. Também nas áreas úmidas, havia roças de milho e mandioca. Há em Canindé os restos das ferragens do que fora uma Casa de Farinha.   
Ausência de trovoadas e invernos tímidos  é hoje  a marca desalentadora de todas as previsões meteorológicas elaboradas para o alto sertão sergipano. Mas,  em meio às adversidades surgidas com as  mudanças, há fatos novos e promissores no sertão. O primeiro deles é a substituição da agricultura pela pecuária leiteira, atividade  beneficiada pelas características do clima no semiárido.  O retalhamento de latifúndios invariavelmente improdutivos entre  trabalhadores filiados ao MST, causou frustrações enquanto se teimava em sobreviver basicamente da atividade agrícola.
Agora, nos assentamentos, o que se vê é a multiplicação de silos ,  o plantio intenso da palma, primeiros passos para a consolidação de uma estratégia de convivência com a seca, tendo o leite como peça de resistência. No   povoado de Santa Rosa do Ermírio,  ermos de Poço Redondo,  no auge da  atual seca, a produção leiteira passou dos 40 mil litros,  e hoje é de 50 mil. Os pequenos produtores se organizaram, buscaram modernizar e tecnificar a produção, e o leite de Santa Rosa chega agora aos laticínios transportado pela  estrada asfaltada que Déda construiu e não pôde inaugurar. O milho de ciclo curto, plantado em maio para ser colhido em junho, e a nova forma de plantio adensado da palma, ganham receptividade  na agricultura familiar  que começa a competir em pé de igualdade com o agronegócio. O sertão muda para melhor,  mas é preciso fazer ainda muito mais, para que o ciclo virtuoso que desafia a adversidade das secas não venha a perder fôlego.

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