MAIS CERTO DO QUE TROVOADA EM
JANEIRO
Havia, no sertão sergipano, um ditado muito
repetido: ¨Mais certo do que trovoada
em janeiro.¨ Havia. Agora ninguém mais lembra do dito popular, muito
menos, de trovoadas pontuais desabando em janeiro. Para ser mais exato, é
preciso dizer que as trovoadas rareiam ou não acontecem, tanto em janeiro como
nos demais meses do verão, tempo
propício para que raios, e trovões façam o
ribombante anúncio do aguaceiro
prestes a desabar. As mudanças climáticas ocorrem num intervalo de tempo muito
curto, coisa surpreendente, quando se sabe que fenômenos climatéricos ou
geológicos costumam ser registrados ao longo de milhares ou milhões de anos.
Não faz mais de 30 anos plantava-se e colhia-se muito algodão nos dois
municípios mais esturricados de Sergipe, Canindé e Poço Redondo. Nas
várzeas que se formavam, mesmo distantes
do São Francisco, não era raro o plantio do arroz. Também nas áreas úmidas,
havia roças de milho e mandioca. Há em Canindé os restos das ferragens do que
fora uma Casa de Farinha.
Ausência de trovoadas e invernos
tímidos é hoje a marca desalentadora de todas as previsões
meteorológicas elaboradas para o alto sertão sergipano. Mas, em meio às adversidades surgidas com as mudanças, há fatos novos e promissores no
sertão. O primeiro deles é a substituição da agricultura pela pecuária
leiteira, atividade beneficiada pelas
características do clima no semiárido. O
retalhamento de latifúndios invariavelmente improdutivos entre trabalhadores filiados ao MST, causou
frustrações enquanto se teimava em sobreviver basicamente da atividade
agrícola.
Agora, nos assentamentos, o que
se vê é a multiplicação de silos , o
plantio intenso da palma, primeiros passos para a consolidação de uma
estratégia de convivência com a seca, tendo o leite como peça de resistência.
No povoado de Santa Rosa do Ermírio, ermos de Poço Redondo, no auge da atual seca, a produção leiteira passou dos 40
mil litros, e hoje é de 50 mil. Os
pequenos produtores se organizaram, buscaram modernizar e tecnificar a produção,
e o leite de Santa Rosa chega agora aos laticínios transportado pela estrada asfaltada que Déda construiu e não pôde
inaugurar. O milho de ciclo curto, plantado em maio para ser colhido em junho,
e a nova forma de plantio adensado da palma, ganham receptividade na agricultura familiar que começa a competir em pé de igualdade com
o agronegócio. O sertão muda para melhor, mas é preciso fazer ainda muito mais, para que
o ciclo virtuoso que desafia a adversidade das secas não venha a perder fôlego.
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