ENCLAVES, RESTOS DO COLONIALISMO
OU OLHOS ESPIÕES DO ¨
BIG – BROTHER¨
Enclaves, como o nome indica, são corpos estranhos, pequenos pedaços inseridos
em área de dimensão bem maior. Em termos geográficos ou geopolíticos são
fragmentos de um pais onde sua soberania
está ausente, e o controle é exercido por potencias distantes, quase sempre antigos
impérios coloniais. Restam agora poucos
enclaves pelo mundo, antigos entrepostos
conquistados pela força das armas ou
pela sedução do dinheiro. Portugal, tão pequenininho, mas que já foi potencia
marítima, saiu a criar entrepostos pela costa ocidental africana. Seguindo o
avanço audacioso das suas caravelas, chegou até a Ásia se apossando de áreas
litorâneas, Goa, Diu e Damão, na Índia, Macau na China, onde a Inglaterra tinha o
enclave de Hong-Kong.
Portugal e Espanha, ganharam
do Papa Alexandre VI o privilégio de repartirem o mundo entre eles.
Aquele ¨ representante de Deus na terra¨
um nobre do ramo espanhol dos Bórgias, é
, talvez, o mais repugnante entre os amorais depravados que se intitularam
sucessores de Pedro. Corrupto, assassino, devasso, cruel, Alexandre VI
era aliado incondicional dos ¨Reis
Católicos ¨, Fernando e Isabel. Piedosamente, mandaram centenas de ¨hereges ¨ para as fogueiras da Santa Inquisição, e se
juntaram para transformar em Cardeal de Valencia um dos filhos do papa
Alexandre VI, o dissoluto adolescente Cesar Bórgia, que tinha apenas 17 anos.
Hoje, a Espanha que já foi coproprietária do mundo ,
mergulhada no colapso econômico, precisa de um motivo para reunir os
desiludidos espanhóis em torno de uma bandeira comum, e volta a contestar a
posse pela Inglaterra do enclave de Gibraltar, de onde, há 300 anos, ingleses vigiam a entrada do Mediterraneo, onde sua orgulhosa esquadra navegou sem
obstáculos desde que o almirante Nelson derrotou a ¨invencível armada ¨espanhola, até o final da Segunda
Grande Guerra, quando americanos e soviéticos repartiram a hegemonia mundial, começou a descolonização, e o império onde ¨
o sol nunca se punha,¨ resume-se hoje às
ilhas britânicas um enclave como Gibraltar, e ilhas espalhadas
pelos oceanos, como as Falklands, que os
argentinos chamam Malvinas e as querem
de volta. O braço ainda arrogante do
Império consegue se espichar até
milhares de quilômetros de distancia. Por sua vez, os espanhóis também estendem o braço, mas indo somente até o outro lado do Mediterrâneo e, também se recusam a devolver ao Marrocos o enclave de Ceuta.
No rochedo de Gibraltar os turistas chegam até o topo do rochedo de onde, em dias
claros, é possível divisar as terras da
África, lá podem se divertir com os atrevidos macaquinhos que
avançam sobre celulares e câmeras fotográficas, e saem fagueiros e barulhentos
a festejar o furto. No verão o Simum que sopra desde o infindável Sahara deixa
uma sensação de secura inimaginável no
clima europeu. Em Gibraltar o transito pode ser interrompido a qualquer
momento para que uma das duas avenidas da cidade rapidamente se transforme num aeroporto com piso de aço, e nele aterrisse ou decole uma aeronave
militar inglesa.
Enclaves desafiando a soberania de países são reminiscências
do colonialismo que desapareceu.
Os Estados Unidos, única superpotência mundial concretiza a ficção de George Orwell, e assim, surge o Big – Brother
globalizado. Os enclaves mudam de feição. Não são mais territórios
geograficamente delimitados, como a base de Guantánamo que os americanos mantêm em Cuba; os enclaves da pós-modernidade do
imperialismo, nem sequer necessitam ter espaço ou forma, são meios tecnológicos
altamente sofisticados que invadem o território de qualquer país. Podem estar
num palácio em Cabul, bisbilhotando quem
entra e sai na sala do presidente, que é um títere não absolutamente confiável, ou, até ¨gretando
¨através da envidraçada arquitetônica de Oscar Niemayer, o instante em que a charmosa ministra Gleise Hoffman, no Palácio
do Planalto, vai ao banheiro.
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