SEU CONRADO, QUEM FOI ELE ?
Jose Conrado de Araújo, seu
Conrado, foi prefeito de Aracaju entre
os anos cinquenta e sessenta. Eleito numa renhida eleição direta, ele quatro
anos depois tornava-se um político
santificado pela gente da periferia e
detestado pela classe média. Faz neste mês de maio cinquenta anos que Seu Conrado morreu. Logo
cercaram de mistérios e suspeitas a sua morte que, na verdade, nada mais foi do
que um acidente com a própria arma, que
caiu-lhe da cintura quando ele levantava-se de uma rede onde descansava. A arma
, um Colt-45, tinha uma bala na agulha, e na queda o percursor bateu com força
no chão e a pistola disparou. O projétil
atravessou o peito de Conrado que estava reclinado, erguendo-se da rede, e foi furar o telhado. Qualquer perito criminal desfaria
imediatamente a suspeita de assassinato, mas isso não aconteceu, e então
ocorreu o episódio da pipoca. Num
casebre da periferia uma mulher fazia pipoca numa panela ao fogo. Uma delas
saltou, coisa comum quando se torra o milho, e caiu ao chão, a mulher logo
abaixou-se para apanhá-la, e então veio
o susto:
Gravada na pipoca estava a cara de seu
Conrado. Logo o ¨milagre¨ espalhou-se. Alardeado na rádio Liberdade por Silva Lima
causou uma romaria à casa onde seu Conrado aparecera na pipoca, que era exibida
numa campânula de vidro, dessas que se usam para cobrir imagens de santos. A
dona da pipoca cobrava pela entrada, mas logo perdeu o objeto de tanta atração.
A campanula virou, e um rato devorou a pipoca.
O rosto enxergado na pipoca não
passou de uma ilusão coletiva, mas era
verdadeira a força de liderança que
Conrado exercia no povo esquecido da periferia, na faixa majoritária dos
que não pertenciam a sindicatos,
despolitizados, na maioria analfabetos, afundados no sub-emprego, ou desempregados,
Conrado foi o primeiro prefeito
de Aracaju a valorizar a periferia, a concentrar a maioria das suas ações no
subúrbio mais distante, onde nem mesmo havia vias de acesso. A liderança que
ele exercia em Aracaju somente se repetiria mais de 20 anos depois, quando Jackson
Barreto, primeiro prefeito eleito após a ditadura retomou o caminho da periferia, deu força `a
organização popular com as associações que se
transformaram em instrumentos de conquistas para o povo.
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