terça-feira, 5 de março de 2013

A BARRA SEM OS COQUEIROS



A BARRA SEM OS COQUEIROS

 Não vai levar muito tempo até que se complete a destruição,  e o último dos coqueiros seja derrubado.  A paisagem  da Barra dos Coqueiros evidentemente não poderia continuar mantendo aquela aparência bucólica de um município distante, quando a capital está ali, logo em frente, do outro lado do rio.  Da Barra se avistam os prédios de Aracaju,  as edificações que se espalham sumindo no horizonte. É lógico que os interesses imobiliários, principalmente depois da ponte, tenham começado a incluir a Barra entre  áreas de expansão, ou seja,  para  aonde a cidade,  crescendo,  teria de se estender. Ninguem seria tão ingênuo para  imaginar que aquela linha verde formada por coqueirais e mangues que se avista do outro lado, alinhando-se paralela com a própria capital, ficaria, para sempre, como complemento  da paisagem urbana que Aracaju vai encontrar na margem esquerda do Sergipe. Um dia, aquela frágil simbiose entre  paisagem urbana e paisagem natural seria fatalmente desfeita, E é o que está acontecendo agora, num ritmo preocupantemente acelerado.
A proximidade de praias quase virgens  atraiu as atenções de grandes grupos imobiliários,  e na Barra dos Coqueiros surgem os condomínios de luxo em frente ao mar, enquanto os prédios populares, como sempre acontece,  ficam num canto qualquer dos fundos. E os coqueirais vão sendo devastados. O espantoso em  tudo isso é que a propaganda dos portentosos empreendimentos  se volta,  exatamente,  para o raro privilégio do convívio com a natureza, com os coqueirais cercando  futuras moradias. Seria ótimo se isso fosse verdadeiro.  Há agora um imenso deserto de areias alvas que acompanha as laterais da  rodovia Barra- Atalaia Nova . Paradoxalmente,  em frente aos locais de venda, ou em torno dos lagos artificiais que já foram feitos,  estão sendo replantados coqueiros adultos, que ficarão comportadamente alinhados para que sejam, com facilidade, avistados pelos compradores dos lotes à venda. Ou  melhor, que estavam à venda, porque, já no primeiro dia , as áreas ofertadas se esgotaram.
Percam-se as ilusões sobre uma Barra dos Coqueiros pelo tempo adiante  justificando o nome, sendo um extenso e   intocado coqueiral.
O crescimento econômico sem o qual não se gera renda e muito menos emprego,  não se concretiza sem que empreendimentos sejam tocados, entre eles, aqueles  da construção civil,  com maior capacidade para   disseminar os  benefícios do emprego.
 Assim, os coqueirais, efetivamente um dia,  teriam de ser substituídos por edificações, mas,  o que se espera é que esse processo não se desenvolva  criando desertos, espaços de uma aridez que desmente as apregoadas vantagens da localização próxima à praia. Como na Barra não existe um Plano Diretor, não há o marco legal a ser inicialmente  invocado para que o progresso não chegue em detrimento do verde, em descompasso com a preservação do meio ambiente.
Caso alguma coisa não seja feita agora para corrigir os rumos do processo de urbanização acelerada da Barra, o prefeito Martins poderá mandar confeccionar coqueiros artificiais.  Depois, colocá-los em alguns pontos do município, para que as futuras gerações  tenham, pelo menos,  uma ideia do que era a esguia palmeira,  a cocus- nucifera.

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