A BARRA SEM OS COQUEIROS
Não
vai levar muito tempo até que se complete a destruição, e o último dos
coqueiros seja derrubado. A paisagem da Barra dos Coqueiros
evidentemente não poderia continuar mantendo aquela aparência bucólica de um
município distante, quando a capital está ali, logo em frente, do outro lado do
rio. Da Barra se avistam os prédios de Aracaju, as edificações que
se espalham sumindo no horizonte. É lógico que os interesses imobiliários,
principalmente depois da ponte, tenham começado a incluir a Barra entre
áreas de expansão, ou seja, para aonde a cidade,
crescendo, teria de se estender. Ninguem seria tão ingênuo para
imaginar que aquela linha verde formada por coqueirais e mangues que se avista
do outro lado, alinhando-se paralela com a própria capital, ficaria, para
sempre, como complemento da paisagem urbana que Aracaju vai encontrar na
margem esquerda do Sergipe. Um dia, aquela frágil simbiose entre paisagem
urbana e paisagem natural seria fatalmente desfeita, E é o que está acontecendo
agora, num ritmo preocupantemente acelerado.
A proximidade de praias quase virgens
atraiu as atenções de grandes grupos imobiliários, e na Barra dos
Coqueiros surgem os condomínios de luxo em frente ao mar, enquanto os prédios
populares, como sempre acontece, ficam num canto qualquer dos fundos. E
os coqueirais vão sendo devastados. O espantoso em tudo isso é que a
propaganda dos portentosos empreendimentos se volta, exatamente,
para o raro privilégio do convívio com a natureza, com os coqueirais
cercando futuras moradias. Seria ótimo se isso fosse verdadeiro. Há
agora um imenso deserto de areias alvas que acompanha as laterais da
rodovia Barra- Atalaia Nova . Paradoxalmente, em frente aos locais de
venda, ou em torno dos lagos artificiais que já foram feitos, estão sendo
replantados coqueiros adultos, que ficarão comportadamente alinhados para que
sejam, com facilidade, avistados pelos compradores dos lotes à venda. Ou
melhor, que estavam à venda, porque, já no primeiro dia , as áreas
ofertadas se esgotaram.
Percam-se
as ilusões sobre uma Barra dos Coqueiros pelo tempo adiante justificando
o nome, sendo um extenso e intocado coqueiral.
O
crescimento econômico sem o qual não se gera renda e muito menos emprego,
não se concretiza sem que empreendimentos sejam tocados, entre eles,
aqueles da construção civil, com maior capacidade para
disseminar os benefícios do emprego.
Assim,
os coqueirais, efetivamente um dia, teriam de ser substituídos por
edificações, mas, o que se espera é que esse processo não se
desenvolva criando desertos, espaços de uma aridez que desmente as
apregoadas vantagens da localização próxima à praia. Como na Barra não existe
um Plano Diretor, não há o marco legal a ser inicialmente invocado para
que o progresso não chegue em detrimento do verde, em descompasso com a
preservação do meio ambiente.
Caso
alguma coisa não seja feita agora para corrigir os rumos do processo de
urbanização acelerada da Barra, o prefeito Martins poderá mandar confeccionar
coqueiros artificiais. Depois, colocá-los em alguns pontos do município,
para que as futuras gerações tenham, pelo menos, uma ideia do que
era a esguia palmeira, a cocus- nucifera.
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