UM JOÃO ALVES AGORA DESARMADO
Iniciando o terceiro mandato de governador,
João Alves chegou armado para o combate. Valente cavaleiro andante a desafiar o
castelo petista que Lula começava a construir. Esqueceu-se que era apenas o
governador de Sergipe. E Sergipe é pobre, dependente, vulnerável. O tema da
transposição do São Francisco, era assunto candente que galvanizava parte da
opinião pública nordestina, e João nele ainda mais se envolveu, mas, a maior
parte dos governadores nordestinos queria a realização da obra que beneficiaria
seus estados, e isso em nada o ajudou. Durante a campanha eleitoral, fez
advertências quase catastrofistas garantindo que a transposição secaria o São Francisco
e aumentaria a aridez do nordeste. Aracaju ficaria sem água, da mesma forma, a
maior parte dos municípios sergipanos. O discurso alarmante e alarmista deu
resultados eleitorais, juntando-se ao preconceito assimilado inclusive pela
elite da intelectualidade sergipana, quando Jose Eduardo Dutra foi
estigmatizado como forasteiro, e defendeu-se a primazia da sergipanidade. A
campanha foi levada propositalmente ao radicalismo, e João, chegando ao governo
não livrou-se dele. Ele assumiu o terceiro mandato na situação inédita de ser
oposição ao governo central. Longe de buscar um entendimento benéfico para
Sergipe e a sua administração, tentou alçar-se à liderança do embate contra
Lula, alinhando-se aos setores mais inconformados da direita brasileira, para
os quais o novo presidente teria de ser liminarmente desqualificado, por ser
operário, retirante nordestino e esquerdista. Ronaldo Lessa, quando governador
das Alagoas , confidenciou a um jornalista sergipano que, apesar de gostar
muito de João e o admirar como tocador de obras, fez-lhe uma maldade partilhada
pelos demais governadores nordestinos. O impetuoso sergipano batia duro e
insistente contra Lula em todas as reuniões do grupo, diante da mudez dos
colegas, que falariam depois, mas, já nos corredores do Planalto, condenando o
discurso de João, e assim, assegurando obras e recursos para os seus estados.
Não fossem certos episódios no Parlamento que
exigiram a participação da bancada do então PFL, e o governo precisou
barganhar, teria sido paralisada uma das duas construções vistosas que João
realizou no seu governo: a Ponte da Barra. A outra foi a Orla da Atalaia. A
ponte consumiu os recursos destinados ao setor rodoviário, então, as estradas
em frangalhos levaram o candidato à reeleição a perder uma imensidão de votos
no interior. João errou mais ainda, quando investiu contra o prefeito de
Aracaju Marcelo Déda, chegando ao cúmulo de impedir o inicio da construção do
viaduto da Tancredo Neves, baseando-se em insustentáveis argumentos de que a
obra poderia causar a explosão do gasoduto no subsolo, e negando-se a ceder uma
minúscula área do terreno ocupado pela Secretaria da Indústria e Comércio.
Derrotado por Déda, ressurgiu o João civilizado,
que logo telefonou ao vitorioso, cumprimentando-o pelo êxito , e colocando-se à
disposição para que se fizesse um processo tranquilo e produtivo de
transferência do poder. O governador eleito foi visitá-lo, e desses gestos
cavalheirescos, indispensáveis em política , surgiu uma transição que
beneficiou Sergipe e motivou Déda no ato de transmissão do poder pelo
governador e candidato derrotado, a fazer-lhe uma homenagem, que fica nos anais
da nossa História política como referencia primorosa ao comportamento de dois
homens públicos.
Beirando 72 anos, João Alves alcança uma vitória
consagradora em Aracaju, reduto hostil, que antes tinha de contornar,
refugiando-se no que os seus adversários políticos, entre eles este
escrevinhador, denominavam ¨grotões do interior ¨.
Após quase 40 anos de vida pública, tendo sido
prefeito nomeado de Aracaju no período autoritário, três vezes governador,
Ministro de Estado, João volta consagrado pelo eleitor aracajuano, após uma
reversão de comportamento que deveria ter sido melhor analisada diante da
derrota de Déda em Aracaju, na eleição de 2010. A
capital impediria a reeleição, caso Déda não houvesse crescido eleitoralmente
nos chamados ¨grotões¨ onde antes João se refugiara.
A vitória de João não chega a ser surpreendente,
restando, aos derrotados, admitirem
razão, na maioria que lhes foi adversa. Isso já
foi feito, por Jackson, temporariamente exercendo o governo , por Edvaldo
Nogueira, pelo perdedor, o deputado federal Valadares Filho. Déda, em
tratamento de saúde, deverá ter feito suas ponderadas reflexões sobre o revés
político. Da parte de João houve serenidade e equilíbrio na vitória, e dele
partiu a iniciativa de desarmar os espíritos, com as visitas civilizadas que
fez, tanto a Jackson como a Edvaldo, e fará depois a Marcelo Déda no seu
retorno ao governo. A transição correrá como manda o bom e coreto figurino
democrático. João, ressabiado pelo que aconteceu no seu terceiro mandato ,
agora, ainda mais experiente, não partirá para um improdutivo confronto com o
governo do estado, muito menos com Brasília. Se depender de Déda, de Jackson,
de Edvaldo, de Valadares, de todo o grupo derrotado, haverá plena colaboração
no período que antecede a posse, e, mais ainda, se o novo Prefeito de Aracaju
necessitar do apoio dos governos estadual e federal. Isso é bom, renderá
resultados para os aracajuanos, dará a João tranquilidade para desenvolver seus
projetos e administrar uma Prefeitura financeiramente equilibrada e com elevada
capacidade de endividamento.
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