terça-feira, 16 de outubro de 2012

UM JOÃO ALVES AGORA DESARMADO



UM JOÃO ALVES AGORA DESARMADO
 Iniciando o terceiro mandato de governador, João Alves chegou armado para o combate. Valente cavaleiro andante a desafiar o castelo petista que Lula começava a construir. Esqueceu-se que era apenas o governador de Sergipe. E Sergipe é pobre, dependente, vulnerável. O tema da transposição do São Francisco, era assunto candente que galvanizava parte da opinião pública nordestina, e João nele ainda mais se envolveu, mas, a maior parte dos governadores nordestinos queria a realização da obra que beneficiaria seus estados, e isso em nada o ajudou. Durante a campanha eleitoral, fez advertências quase catastrofistas garantindo que a transposição secaria o São Francisco e aumentaria a aridez do nordeste. Aracaju ficaria sem água, da mesma forma, a maior parte dos municípios sergipanos. O discurso alarmante e alarmista deu resultados eleitorais, juntando-se ao preconceito assimilado inclusive pela elite da intelectualidade sergipana, quando Jose Eduardo Dutra foi estigmatizado como forasteiro, e defendeu-se a primazia da sergipanidade. A campanha foi levada propositalmente ao radicalismo, e João, chegando ao governo não livrou-se dele. Ele assumiu o terceiro mandato na situação inédita de ser oposição ao governo central. Longe de buscar um entendimento benéfico para Sergipe e a sua administração, tentou alçar-se à liderança do embate contra Lula, alinhando-se aos setores mais inconformados da direita brasileira, para os quais o novo presidente teria de ser liminarmente desqualificado, por ser operário, retirante nordestino e esquerdista. Ronaldo Lessa, quando governador das Alagoas , confidenciou a um jornalista sergipano que, apesar de gostar muito de João e o admirar como tocador de obras, fez-lhe uma maldade partilhada pelos demais governadores nordestinos. O impetuoso sergipano batia duro e insistente contra Lula em todas as reuniões do grupo, diante da mudez dos colegas, que falariam depois, mas, já nos corredores do Planalto, condenando o discurso de João, e assim, assegurando obras e recursos para os seus estados.
Não fossem certos episódios no Parlamento que exigiram a participação da bancada do então PFL, e o governo precisou barganhar, teria sido paralisada uma das duas construções vistosas que João realizou no seu governo: a Ponte da Barra. A outra foi a Orla da Atalaia. A ponte consumiu os recursos destinados ao setor rodoviário, então, as estradas em frangalhos levaram o candidato à reeleição a perder uma imensidão de votos no interior. João errou mais ainda, quando investiu contra o prefeito de Aracaju Marcelo Déda, chegando ao cúmulo de impedir o inicio da construção do viaduto da Tancredo Neves, baseando-se em insustentáveis argumentos de que a obra poderia causar a explosão do gasoduto no subsolo, e negando-se a ceder uma minúscula área do terreno ocupado pela Secretaria da Indústria e Comércio.
Derrotado por Déda, ressurgiu o João civilizado, que logo telefonou ao vitorioso, cumprimentando-o pelo êxito , e colocando-se à disposição para que se fizesse um processo tranquilo e produtivo de transferência do poder. O governador eleito foi visitá-lo, e desses gestos cavalheirescos, indispensáveis em política , surgiu uma transição que beneficiou Sergipe e motivou Déda no ato de transmissão do poder pelo governador e candidato derrotado, a fazer-lhe uma homenagem, que fica nos anais da nossa História política como referencia primorosa ao comportamento de dois homens públicos.
Beirando 72 anos, João Alves alcança uma vitória consagradora em Aracaju, reduto hostil, que antes tinha de contornar, refugiando-se no que os seus adversários políticos, entre eles este escrevinhador, denominavam ¨grotões do interior ¨.
Após quase 40 anos de vida pública, tendo sido prefeito nomeado de Aracaju no período autoritário, três vezes governador, Ministro de Estado, João volta consagrado pelo eleitor aracajuano, após uma reversão de comportamento que deveria ter sido melhor analisada diante da
derrota de Déda em Aracaju, na eleição de 2010. A capital impediria a reeleição, caso Déda não houvesse crescido eleitoralmente nos chamados ¨grotões¨ onde antes João se refugiara.
A vitória de João não chega a ser surpreendente, restando, aos derrotados, admitirem
razão, na maioria que lhes foi adversa. Isso já foi feito, por Jackson, temporariamente exercendo o governo , por Edvaldo Nogueira, pelo perdedor, o deputado federal Valadares Filho. Déda, em tratamento de saúde, deverá ter feito suas ponderadas reflexões sobre o revés político. Da parte de João houve serenidade e equilíbrio na vitória, e dele partiu a iniciativa de desarmar os espíritos, com as visitas civilizadas que fez, tanto a Jackson como a Edvaldo, e fará depois a Marcelo Déda no seu retorno ao governo. A transição correrá como manda o bom e coreto figurino democrático. João, ressabiado pelo que aconteceu no seu terceiro mandato , agora, ainda mais experiente, não partirá para um improdutivo confronto com o governo do estado, muito menos com Brasília. Se depender de Déda, de Jackson, de Edvaldo, de Valadares, de todo o grupo derrotado, haverá plena colaboração no período que antecede a posse, e, mais ainda, se o novo Prefeito de Aracaju necessitar do apoio dos governos estadual e federal. Isso é bom, renderá resultados para os aracajuanos, dará a João tranquilidade para desenvolver seus projetos e administrar uma Prefeitura financeiramente equilibrada e com elevada capacidade de endividamento.

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