A CÂMARA DE VEREADORES E O
FIM DO DISCURSO IDEOLÓGICO
O resultado da eleição demonstra a importância
crescente das organizações comunitárias. O inédito nesse fenômeno é que ele se
processa agora independente de conotações ideológicas. Não há como se
distinguir tendências de esquerda ou direita nas lideranças comunitárias que
chegam com expressivas votações à Câmara de Vereadores.
Lula na presidência, ainda no primeiro mandato,
pressentiu, e até anunciou publicamente o começo do fim da batalha ideológica.
O que não se sabe é se estamos a viver apenas um interregno, ou se o velho
confronto terá definitivamente desaparecido. O historiador marxista Eric
Hobsbawn, bem antes de morrer no início deste mês, aos 95 anos, já havia
lucidamente anunciado que tanto o capitalismo na sua forma mais ortodoxa,
movido pela ¨mais valia ¨ que Karl Marx identificou como a síntese do lucro a
qualquer custo , e em detrimento da sociedade e do trabalhador, quanto o
socialismo, na sua urdidura mais extrema de totalitarismo e absoluto controle
da economia pelo Estado, são duas formatações sociais inteiramente superadas, e
que, tanto a ideia da livre iniciativa inerente ao capitalismo, como a da
repartição da riqueza, inseparável do socialismo, terão de coabitar, de se
misturarem, para que surja uma arquitetônica nova de economia e de sociedade.
Vale o registro de que um militante valoroso e
digno do PT, Chico Buchinho, com sólida formação política, não conseguiu
reeleger-se, e recebeu bem menos votos do que em ocasiões anteriores, quando
estava viva a polarização ideológica. A militância teria sido desmobilizada ou
desmotivada, ou teria aparecido na expressiva soma de votos que colocou outro
militante, Iran Barbosa, na liderança do pleito?
Iran é um militante coerente, um político
marcadamente de esquerda, mas o seu êxito resulta muito menos da sua feição
ideológica e muito mais da exemplar organização sindical do magistério
sergipano, ao qual, junto com a deputada Ana Lúcia, ele se integra, numa
organização política voltada, sobretudo, para a conquista de resultados. As
novas lideranças que surgem na cidade, originam-se, quase todas, das
organizações comunitárias com o foco em objetivos concretos, que se traduzem em
melhorias da qualidade de vida. Essa política que se faz em busca de ganhos
sociais possíveis e a curto prazo, parece destinada a superar, momentaneamente
ou não , a luta política puramente ideológica.
A ascensão das classes C e D, levando uma grande
massa de pessoas ao universo do consumo, gerou novas e mais complexas
expectativas, e também a uma visão mais prática e imediatista da vida. E isso
dispensa o discurso ideológico, mas, exige dos governantes, sejam eles de
direita, centro ou esquerda, uma atenção mais abrangente, ao mesmo tempo
esmiuçadora em relação ao dia a dia das pessoas.
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