terça-feira, 16 de outubro de 2012

A CÂMARA DE VEREADORES E O FIM DO DISCURSO IDEOLÓGICO



A CÂMARA DE VEREADORES E O
FIM DO DISCURSO IDEOLÓGICO
O resultado da eleição demonstra a importância crescente das organizações comunitárias. O inédito nesse fenômeno é que ele se processa agora independente de conotações ideológicas. Não há como se distinguir tendências de esquerda ou direita nas lideranças comunitárias que chegam com expressivas votações à Câmara de Vereadores.
Lula na presidência, ainda no primeiro mandato, pressentiu, e até anunciou publicamente o começo do fim da batalha ideológica. O que não se sabe é se estamos a viver apenas um interregno, ou se o velho confronto terá definitivamente desaparecido. O historiador marxista Eric Hobsbawn, bem antes de morrer no início deste mês, aos 95 anos, já havia lucidamente anunciado que tanto o capitalismo na sua forma mais ortodoxa, movido pela ¨mais valia ¨ que Karl Marx identificou como a síntese do lucro a qualquer custo , e em detrimento da sociedade e do trabalhador, quanto o socialismo, na sua urdidura mais extrema de totalitarismo e absoluto controle da economia pelo Estado, são duas formatações sociais inteiramente superadas, e que, tanto a ideia da livre iniciativa inerente ao capitalismo, como a da repartição da riqueza, inseparável do socialismo, terão de coabitar, de se misturarem, para que surja uma arquitetônica nova de economia e de sociedade.
Vale o registro de que um militante valoroso e digno do PT, Chico Buchinho, com sólida formação política, não conseguiu reeleger-se, e recebeu bem menos votos do que em ocasiões anteriores, quando estava viva a polarização ideológica. A militância teria sido desmobilizada ou desmotivada, ou teria aparecido na expressiva soma de votos que colocou outro militante, Iran Barbosa, na liderança do pleito?
Iran é um militante coerente, um político marcadamente de esquerda, mas o seu êxito resulta muito menos da sua feição ideológica e muito mais da exemplar organização sindical do magistério sergipano, ao qual, junto com a deputada Ana Lúcia, ele se integra, numa organização política voltada, sobretudo, para a conquista de resultados. As novas lideranças que surgem na cidade, originam-se, quase todas, das organizações comunitárias com o foco em objetivos concretos, que se traduzem em melhorias da qualidade de vida. Essa política que se faz em busca de ganhos sociais possíveis e a curto prazo, parece destinada a superar, momentaneamente ou não , a luta política puramente ideológica.
A ascensão das classes C e D, levando uma grande massa de pessoas ao universo do consumo, gerou novas e mais complexas expectativas, e também a uma visão mais prática e imediatista da vida. E isso dispensa o discurso ideológico, mas, exige dos governantes, sejam eles de direita, centro ou esquerda, uma atenção mais abrangente, ao mesmo tempo esmiuçadora em relação ao dia a dia das pessoas.

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