AS OLIMPÍADAS E OS
NOSSOS INSUCESSOS
Nesta Olimpíada o desempenho do
Brasil pode ser classificadocomo algo
medíocre. Nada mesmoalém disso. Agora em Londres, antes em Pequim,Barcelona,
Moscou, Atlanta,e em tantos outros
lugares os nossos raros atletas têm
conseguido apenas , vez por outra, dar
aqueles dois passos heroicos na sofrida escalada ao pódio. Mas, felizmente,conseguimos
transformar o medíocre em festiva exaltação. Fizemos assim agora,quando
contabilizamos a centésima medalha conseguida desde a primeira participação
nossa numa olimpíada, já lá se vão mais de oitenta anos. E festejamos a
conquista como se fosse uma expressivademonstração do nosso sucesso esportivo. E estamos também
a comemorar o recorde de medalhas que conseguimos nesta olimpíada, embora
figuremos num desenxabidoposto muito abaixo do vigésimo lugar. Há quem considere isso uma notável evolução.
Mas, o Brasil éhoje um país de 200 milhões de habitantes, e a sexta
economia do mundo. Ainda que entretropeços ,nos encaminhamos, em breve, para ultrapassar
a França e nos tornar a quinta.
A Jamaica é um paisinho com
território que não chega à metade da exígua superfície de Sergipe, com uma
populaçãoaproximadamente igual à nossa.
A ilha caribenha, cercada de marinas por todos os lados, uma Meca para
os turistas em busca de sol e excentricidades,se faz conhecida no mundo pela
sua musicalidade, e agora exibe na arena londrina o vigor digno e
altivo dos seus fantásticos atletas. À frente delesUsainBolt, raro
exemplar de vencedor, capaz de colecionar medalhas olímpicas e
recordes mundiais.
O que nos falta para imitartantos
outros países pequenos onde a população
parece galvanizada pela atividade esportiva,
e, por isso, seus atletas deixam bem distantes os nossos?
Paracomeçar, teremos de alterar
fundamentalmente a nossa concepção sobre esportes.
Cometemos o fatal equivoco de
classificar como desportistas todos os cervejeiros flácidos, barrigudos,que frequentam os estádios de futebol, onde
também se incluem as torcidas organizadas repletas de delinquentes. Precisamos, ao mesmo tempo, fazer descer dos
numerosos pódios da incompetência e da gatunagem, aqueles dirigentes,
os¨cartolas ,¨ também chamados desportistas, que não estão apenas
encastelados na fedorenta estrutura do nosso futebol, mas se espalham
desgraçadamente pelas federações, ou
confederações de quase todos as
outras modalidades esportivas. A vergonhadiante do México é a maior prova
dos calamitosos desacertos.
É uma ofensa aos valoresdo
esporte chamar de desportistas esses sedentários absolutos que só demonstram
alguma forma de agilidade nas mãos ávidas a percorrer as verbas disponíveis.
Quando há competência e honestidadeno comando,
logo surgem exemplos de sucesso entre os que são verdadeiramente desportistas.
Veja-se o caso do vôlei , do basquete, em um certo período, do próprio futebol que foi às alturas, enquanto os cartolas
ainda não haviam aderido completamente à
rapinagem.
De nada adiantater as vistas voltadas para a
próxima olimpíada que será aqui no Rio de Janeiro em 2016. Mesmo serevelarmos excelente capacidade de gestão no preparo dos atletas, se forem vencidas as tentações dos
superfaturamentos na construção de todo o aparato olímpico, poderemos ter, e
com certeza teremos, um maior número de
medalhas. Talvez fiquemos entre os quinze primeiros, o que seria resultado
inédito.
Mas, enquanto isso,uma grande
parte da juventude brasileira, estará
embalada pela droga, , ou
passivamente comendo e engordando na rotina diária dos shoppings e lugares da
moda. Esta é a parcelaobesa ,
consumidora da fatal ração
que é a mistura do Mac Donald com
a Coca-Cola.Uma outra parte, sem renda para entupir-se de porcarias, às
vezes passando fome, estará matando e
morrendo na guerrilha diária das periferias. Serão futuros habitantes do inferno das
penitenciárias superpovoadas.
Hoje,no Brasil, são raras as escolas da rede pública onde existem locais
adequados para a prática do esporte. A Educação Física
éadendo inexpressivo e deslembrado na rotina arcaica de um ensino público que não vem conseguindo ir além da produção de analfabetos
funcionais, ou seja, dos que não conseguem alinhar no papel um pensamento, interpretar um texto, ou transitar pelas
quatro operações.
Como pensar em esporte na escola se nelaestão
sendo maltratados o português, a matemática?
O esporte terá de ser encarado
entre nós,não como um caminho em direção ao pódio, ao ideal olímpico, que se
restringe a uns poucos e privilegiados frequentadores dos centros de
excelência.
O que precisamos, em primeiro
lugar,é massificar o esporte, investir
nessa massificação, a começar pela escola, depois, nas universidades, aproveitar as nossas
condições tropicais de pais ensolarado, onde se pode até ao ar livre treinar,
praticar esportes durante os doze meses do ano.
Um finlandês, um sueco, um norueguês,que pratique a vela, por exemplo,
não terá mais de quatro meses
boas condições para velejar. Mas eles surgem como vencedores
nas olimpíadas. O mar égrátis , o vento
nada custa, o sol nos é ofertado todo dia, por que não os aproveitamos ?
Se com seguirmosespalhar quadras de esporte e
professores por este país imenso,
colocar na água barcos a vela ou a remo, incentivando os jovens a saírem da
lassidão, tirá-los do sedentarismo, criando atrativos ,
estímulos, para que eles pratiquem
esportes, se obtivermos êxito em levar
para as quadras, para a água, para as pistas, milhões e milhões de pessoas
jovens, em maioria, evidentemente, no meio deles surgirão milhares
de vocacionados, os futuros campeões. E aí iremos encheros
centros esportivos de excelência com os que revelarem maiores aptidões, e será refinada
a elite que competirá nos
campeonatos, nas olimpíadas. Aí sim,estaremos
bem próximos do ideal olímpico que não se resume à conquista de medalhas, mas passa,
prioritariamente, pela visão do esporte como ferramenta para a construção de uma sociedade melhor.
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