sábado, 28 de julho de 2012

LA MADRE DE LOS DESCAMISADOS


LA MADRE DE LOS DESCAMISADOS
 Quando o ditador Juan Domingo Perón foi  deposto , dois  ou três anos depois da morte da sua esposa,,  os militares  tentaram    desmistificar a figura idolatrada de Evita.  O culto àquela mulher que o povo enxergava como  santa,  ¨ La madre de Los Descamisados ¨ , seria , segundo eles, uma permanente ameaça aos seus propósitos de varrer do cenário argentino o vírus do peronismo. Começou então  um trabalho incessante e também infrutífero de  desconstrução do mito.
Passaram a  mostrar a outra face da mãe dos pobres. A face excessivamente vaidosa, perdulária,  da mulher bonita, até sensual, que gostava de exibir-se envolta em caríssimos mantos de pele, vestia-se na Maison Dior de   Paris, tinha uma fabulosa coleção de joias refulgentes e guardava em seus armários centenas de sapatos  caríssimos.
 A revista O Cruzeiro, então o carro-chefe da mídia impressa dos Diários Associados,  exibiu sucessivas reportagens mostrando as joias, os vestidos, os perfumes, os atavios todos da mulher que assumiu a imagem de piedosa e forte ´protetora dos fracos e desamparados. Essa  mistificação,  com o passar do tempo, viria a se transformar na vertente social do movimento peronista , que  perpassa  quatro gerações de argentinos. Naquela ocasião, como faria dez anos depois, quando investiu pesadamente contra Juscelino Kubitscheck, que acabava de ser cassado, o dono dos Diários Associados,  Assis Chateaubriand, cuidava , na verdade,  dos seus interesses. Na Argentina, na década dos cinqüenta, Chatô queria ampliar negócios, investimentos que poderiam ser prejudicados com a queda de Perón; no Brasil, depois do golpe de 64, lutava em desespero para que Castelo Branco sufocasse, no nascedouro, a recém criada TV-Globo, que ele  já vislumbrava como uma ameaça à sua rede de televisão.
 Nada adiantou a tentativa  dos generais  no poder , de intrigar Evita com os ¨descamisados ¨,   de nada adiantou a exibição do seu arsenal de luxos, riqueza e vaidade. Tanto tempo depois, no La Recoleta, as pessoas fazem longas filas para levar flores a  La madre de Los Descamisados. E não são apenas os  ¨descamisados ¨que a cultuam, até porque, numa fase ainda recente, quase todos os argentinos da classe média , e até alguns ricos, sentiram o gosto amargo de ser também um ¨descamisado¨.

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