domingo, 13 de maio de 2012

¨ MENAS CHAMPAGNE MINHA GENTE


¨ MENAS CHAMPAGNE  MINHA GENTE ¨

Fazia-se, antes, o assalto aos cofres públicos com um certo  recato, algum comedimento na forma de agir. Mas, lá se foram os tempos dos ladrões de casaca,  a coisa não apenas vulgarizou-se, na verdade, avacalhou-se a prática da  subtração indevida do alheio.  Antes, precaviam-se os senhores de colarinho branco, que atuavam  obedientes ainda a uma liturgia  distante da promiscuidade. Afinal, peculato é algo reservado aos  que detêm o privilégio de um cargo público. Distinguem-se,  portanto,  dos simples  larápios, cujo raio de ação não alcança  a área exclusiva dos cofres públicos, estes, esvaziados apenas por quem  deles possui as chaves, e,  por isso mesmo, não são ladrões comuns, são definidos com nome especial:  peculatários.   Alguns desses peculatários ainda desfrutam da prerrogativa singularíssima do foro especial. Em assim sendo, esperava-se dessas pessoas assim tão  distintas, tão qualificadas, que assumissem um comportamento pelo menos condizente com o tipo de roubo que praticam.
A quadrilha do Cacheira e do seu sócio o senador Demóstenes ,   conseguiu a proeza de aviltar a indecência. Não se sabe se foram excessivamente ousados, imprevidentes, ou  teriam  se imaginado inatingíveis, tal era o poder que ostentavam. O certo é que Cacheira e Demóstenes inauguraram uma nova era  na  roubalheira institucional,  um estilo absolutamente despreocupado, totalmente descontraído. Usavam o telefone com a certeza de que ninguém iria interceptar os seus diálogos mafiosos, afinal, Demóstenes era,  na ficção que representava, um dos ícones da moralidade pública,  ocultando o cínico completo, o desavergonhado sem limites.
No meio daquela promiscuidade toda, alguém,  com uma réstia de comedimento,   em meio às comemorações frequentes  pelo êxito da quadrilha,  usando o linguajar próprio da escória de rufiões das sarjetas e dos palácios, menosprezando  a gramática e invertendo o gênero do champagne,  da mesma forma como avacalhavam a ética, poderia ter sugerido alguma precaução:  ¨Menas  champagne  gente boa ¨.

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