segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A PROPÓSITO DE PAVÕES E DE SERPENTES


Há num recanto sertanejo de Sergipe um vistoso trio de pavões, aquelas aves coloridas, extremamente vaidosas, em estado permanente de exibição narcisista. Olhando os bichos  fazendo círculos com as penas do rabo estendidas em forma de leque,  uma pessoa que estava a contemplar o espetáculo de pavoneante  ostentação, perguntou a outra:  qual o  apelido que devo botar nesses bichos tão exibidos ?
E ouviu a resposta imediata: Almeida Lima.
Desde então, a todos os que chegam a visitar o sítio, quando aparecem os pavões é feita a mesma pergunta: Com quem se parecem esses bichos?
E a resposta é sempre a mesma: Almeida Lima.
Os que enxergam similitudes entre o vaidoso balé revoluteante dos emplumados pavões presunçosos e a pose arrogante do ex- senador Almeida Lima terão de render-se a uma nova realidade. Ele está tentando ser mais coruja. Aquela ave, que parece viver em estado contemplativo, é, entre nós, o símbolo da sabedoria, e o ex-senador encoruja-se, sem abandonar, todavia, o estilo do pavão belicoso. Enquanto agride, busca também um incipiente filosofar.
Depois de muito contemplar-se no espelho, (às vezes, adverte Umberto Eco, a imagem no espelho pode ser uma simples ilusão ou experiência alucinatória) depois de muito remexer gavetas onde guarda fotos escolhidas, colocou uma delas encimando um escrito intitulado Oposição Sem Ódio e Sem Medo, publicado no blog do deputado Gilmar Carvalho. Cita então, o ex-senador, o poeta e pensador francês Paul Valéry, a quem chama de filósofo, dele aproveitando uma frase: Os incapazes de combater o pensamento combatem o pensador.
Não demora, o ex-senador que momentaneamente troca as plumas multicoloridas e exibicionistas do pavão pelas cinzentas penas da recatada coruja, assim, dando a si mesmo o título de filósofo, vai querer botar o seu próprio rosto naquela famosa escultura de Rodin. Já imaginaram? Almeida, O Pensador, esculpido numa imensa estátua, colocada exatamente em frente à sua mansão, O Chateau D`Almeida?  A pronúncia é francesa: Chatô Dalmêdáa.
Quando associam o ex-senador ao pavão, as pessoas não fazem apenas uma junção de vaidades, há mais semelhanças. O pavão é bicho bipolar. Convencido, enxergando-se como grande celebridade, pomposamente, passa horas a exibir-se. Quem assim o vê, nem imagina do que o bicho é capaz. O pavão, exageradamente ególatra, é também odiento. Acumula rancores, vive a rezingar com a própria sombra. Não se conforma, porque a sua sombra não é também colorida, como as suas penas. O pavão é, além de tudo, um bípede emplumado cheio de complexos. Embora o seu gênio antissocial seja pouco conhecido, aparecendo mais o face vaidosa, é ave de péssimo caráter. Não tolera ao seu lado nenhum outro bicho, todos são seus inimigos, ataca até aqueles da sua própria espécie. Mas guarda um lado manhoso, disfarça, às vezes consegue até ocultar os distúrbios, (seriam psíquicos?) que tanto o tornam inquieto. No silêncio calmo da noite o pavão costuma despertar soltando grasnidos terríveis. Deve ser vítima, também, de infernais pesadelos. Haveria analistas para pavões?
Esqueçamos o pavão, que entra nesta estória apenas como figurante da fábula, sempre próxima à realidade da vida.  Voltemos ao ex-senador. Houve uma inexpressiva nota publicada nesta página no último domingo, que repercutiu muito na mídia sergipana.
Reproduzimos a nota intitulada Uma Denúncia que Vai Render que motivou os costumeiros impropérios de Almeida Lima: Há um ex-assessor do ex-senador e agora deputado federal Almeida Lima dizendo ter como provar que ele tinha conhecimento de que, um seu auxiliar de confiança, guardava os cartões bancários dos seus assessores, e deles retirava, em alguns casos, até oitenta por cento dos salários. Garante o assessor que vai levar o caso à Comissão de Ética da Câmara Federal.
Só isso, nada mais do que isso.
O ex-senador sentiu-se ofendido, desatou a fazer acusações, xingamentos, agressões, grosserias deselegantes.  A sua especialidade.
Não precisaria tanto. Defensor da ética, da transparência, implacável inimigo da corrupção, a ele bastaria esclarecer, desfazer as suspeitas, simplesmente mandando que todos os seus assessores nos tempos de senador, solicitassem, ao banco onde tinham contas, os seus extratos. Pela movimentação deles, se verificaria, com facilidade, se houve ou não a invasão de uma mão esperta nos salários dos servidores.
Falamos e muito, em pavões, até em corujas, mas há que lembrar também de ofídios. No mesmo Paul Valéry, autor citado pelo pavão, desculpem-nos, Almeida Lima, vamos encontrar, em Monólogos, algo sobre serpentes.
Transcrevemos: A serpente come a própria cauda. Mas é só depois de um longo tempo de mastigação que ela reconhece no que ela devora, o gosto da serpente. Ela para.....então..... Mas, ao cabo de um outro tempo, não tendo nada mais para comer, ela volve a si mesma....Chega então a ter a sua cabeça em sua goela. 

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