No dia em que Steve Jobs morreu a Índia anunciava ao mundo um prodígio tecnológico. Era um tablet de apenas 35 dólares. Certamente, a Apple, fantástica empresa de Jobs, não se interessaria em produzir algo a preço tão desprezível. Coisas assim, tão popularmente acessíveis, se produzidas em massa, terminariam por reduzir o gigantesco valor de mercado da empresa que se tornou líder exatamente por lançar produtos inovadores, prodígios da eletrônica, que não são baratos, mas, exercem sobre os consumidores uma irresistível atração, e as pessoas se mostram dispostas a pagar o preço de objetos sempre vistos como ambicionados fetiches.
Para a Índia que vem saltando com grande sucesso todos os obstáculos de uma corrida tecnológica que só o primeiro mundo costumava vencer, o barato brinquedinho vai servir para tornar menos extenuante o super-humano esforço de educar, de qualificar uma massa humana de um bilhão e trezentos milhões de habitantes, fazendo surgir cientistas saídos de comunidades onde, até bem pouco tempo, nas grandes epidemias de fome, miseráveis comiam as fezes de outros igualmente miseráveis. Algo bem mais contundente, imundo e cruel do que o ¨ciclo do caranguejo ¨ que Josué de Castro enxergou nos mangues do Recife, infestados de mocambos erguidos sobre a lama onde viviam os caranguejos que serviam de alimento aos seus moradores, que, por sua vez, de cima das palafitas, despejavam o que os caranguejos comiam. Miséria sempre exibe similitudes, mesmo que distancias enormes façam definir os famintos como antípodas.
O tablet que será colocado nas mãos de cada estudante indiano, certamente irá acelerar o processo de transformação da sociedade indiana, irá garantir, para a Índia, o terceiro, ou no mínimo o quarto lugar, entre os países mais desenvolvidos .
Steve Jobs, que não acreditava em outra vida, embora assumisse atitudes de um místico, se estiver de longe acompanhando o que acontece no palco terrestre, estará certamente alegre. Verá, na conquista indiana, a sua presença indireta. Foi ele afinal quem levou o supra-sumo da sofisticação tecnológica à vida das pessoas. E o mundo todo descobriu que sem imitar a criatividade que Jobs exibia, o desenvolvimento continuaria sendo privilégio de poucos. A índia consegue a proeza de produzir uma joia da tecnologia a preço de quase banana.
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