domingo, 7 de agosto de 2011

A NOVELA DOS MINÉRIOS, DE WALTER BAPTISTA A MARCELO DÉDA


( Reproduzimos este artigo publicado nestas páginas em 20/3/2010, incluindo aqui a pergunta: tudo o que o presidente da Petrobrás disse no campus da Universidade Federal de Sergipe, diante de um auditório superlotado, teria sido apenas “de araque “, essa expressão velha que tanto se usava antigamente para definir mistificação ou mentira? Os fatos mostram que ele não mentiu )

Vem de longe essa luta pelo aproveitamento econômico dos minérios sergipanos. Na virada da década dos 50 para os anos 60, o Instituto Histórico enchia quando Walter Baptista fazia palestras desenhando as excepcionais oportunidades de desenvolvimento que se abririam quando fossem exploradas as riquezas do nosso subsolo. Pequeno empresário, piloto que se tornou heróico comandante da esquadrilha de teco-tecos sobrevoando praias e oceano para localizar e socorrer as vitimas dos torpedeamentos em agosto de 42, Walter não era geólogo, mas, se fez conhecedor do que havia nas serras, sob os massapés, debaixo do chão cristalino de todo o território sergipano. Quando ele chegava no seu Plymouth 1927, nos locais mais remotos, os meninos festejavam: ¨É o homem das pedras¨, e vinham todos trazendo granitos, cristais de rocha, malacachetas, mármores, amostras de terra que Walter antes encomendara, e por elas pagava generosamente. No laboratório improvisado debruçava-se sobre os achados, e ia mapeando a ¨província mineralógica de Sergipe,¨
enquanto buscava acesso a estudos técnicos sobre a bacia sedimentar, sobre os resultados das perfurações que a Itatig em 1947 realizou em busca do salgema. Com esses dados, anunciava: ¨Sergipe tem a maior jazida de sais minerais do Brasil, e talvez do mundo. Tem petróleo e gás, mármore, granitos, calcário. No futuro, surgirá aqui um pujante parque mineral-petroquimico, um pólo cimenteiro e de fertilizantes. Era o tempo do desenvolvimentismo, de JK, da SUDENE, da industrialização do nordeste. Um tempo de confiança no futuro do país., e também de muita luta para assegurar a nossa independência econômica e altivez política, numa América Latina que ainda era quase um quintal do império do norte. Depois, as idéias de Walter se foram transformando em metas estratégicas. Sucessivos governantes fizeram dos minérios um projeto de governo. Luiz Garcia normatizou as idéias ainda vagas e díspares, e aí começava o trabalho de um devotado pensador do nosso desenvolvimento, o professor Aloísio de Campos. Seixas Doria molhou as mãos no petróleo que em 1963 escorreu em Carmópolis. Celso Carvalho fortaleceu o CONDESE, que tornou-se ferramenta essencial. Lourival Baptista, com Juarez Alves Costa a planejar, tornou possível o golpe magistral de técnica e esperteza política: a transferência da sede nordeste da Petrobrás de Maceió para Aracaju, deixando perplexo o surpreendido governador alagoano Lamenha Filho. Afinal, Sergipe logo seria o primeiro produtor de gás e óleo no mar. Paulo Barreto trouxe da SUDENE, no Recife, o sergipano Jacó Charcot Pereira Rios, e surgiu o primeiro plano consistente para exploração dos minérios. Era a idéia do círculo privilegiado, ou virtuoso, tendo o futuro porto de Aracaju como centro, com menos de 40 quilômetros de raio, onde se concentravam óleo, gás, sais minerais, calcário, tudo favorecendo a instalação de um pujante complexo industrial. A primeira unidade seria a fábrica de barrilha, prometida pelo general presidente Médici, em quem Paulo Barreto acreditou, para decepcionar-se depois. Jose Leite reformulou, atualizou metas, e Augusto Franco conseguiu reviver o projeto do porto, marcou a primeira grande vitória na luta pelos minérios com a unidade de potássio e a fábrica de fertilizantes nitrogenados. João Alves concentrou-se na meta essencial do porto, fez boa parceria com a Petrobras, deixou pronto o espaço onde seria o pólo mineral-petroquímico, junto ao terminal marítimo em construção. Valadares montou uma equipe comandada por Jose Carlos Oliveira, inaugurou o porto, e surgiu o projeto do Pólo Mineral Cloroquímico, enterrado depois, quando Collor abriu o mercado, medida certa, que, todavia, inviabilizava os nossos projetados produtos; e, numa outra medida, esta absurda, entre as primeiras do seu governo, fechou a mina de potássio. A novela daria então um flash – back, retornando aos capítulos iniciais da luta. Surgia entre os trabalhadores da Petromisa a liderança do geólogo Jose Eduardo Dutra. Iniciou-se uma dura batalha, e a ela se incorporaram o governador Valadares, o senador Albano Franco, político com prestígio junto a Collor, e depois, mais ainda, com o sucessor Itamar Franco. A mina foi reaberta, voltou a funcionar, para logo ser privatizada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.. Entregue à Vale, cresceu até aonde permitem hoje as jazidas.
Logo ao assumir o governo, Deda colocou em pauta a ampliação da Fábrica de Fertilizantes da Petrobras; a expansão das atividades mineradoras da Vale em Sergipe. Foram meses de negociação, estratégias montadas e refeitas pela exímia planejadora Lúcia Fálcon, tudo contido num pacote que sensibilizou o presidente Lula, despertou o interesse do presidente da Vale. Deda não poupou conversa, conversas em publico, e principalmente ao pé do ouvido. Dizia-se que a Petrobras colocaria obstáculos ao fornecimento de gás para os projetos. Dizia-se isto e muito mais.
Semana passada veio a Sergipe o presidente da PETROBRAS, Sérgio Gabrielli. Anunciou a ampliação da FAFEN, que produzirá 875 toneladas dia de sulfato de amônia. Para concretizar a ampliação no prazo de dois anos, a Petrobras investirá 131 milhões de dólares. A Vale irá implantar o Projeto Carnalita . A Petrobras fornecerá 700 mil metros cúbicos dia de gás. O investimento será de 850 milhões de dólares. Mas a coisa não fica só por aí. Neste ano, para exploração em águas profundas, desenvolvimento de poços e recuperação de campos produtores, a Petrobras investe em Sergipe quase 1 bilhão de dólares. Somados todos os investimentos programados, chega-se a mais de 2 bilhões de dólares. O pólo de fertilizantes que hoje é constituído por oito fábricas, poderá duplicar nos próximos 3 anos.
Enfim, aquele quase devaneio de Walter Baptista e de tantos outros que foram aparecendo ao longo dos capítulos dessa espichada novela, se transformam na realidade que o atual governo de Sergipe mostrou-se capaz de configurar, cristalizando sonhos em projetos consistentes e viáveis.( publicado nesta página em 20/3/2010.)

( Um esclarecimento atualizando afirmações do artigo: A Nitrofértil não irá ser duplicada, mas, montará uma planta de sulfato de amônia. O investimento rondará os 80 milhões de dólares. A duplicação que o mercado de fertilizantes tornará indispensável será a próxima luta) Já o Projeto Carnalita dormitou nas gavetas face ao conflito de interesses entre a Petrobrás e a Vale, que foi rapidamente superado quando a presidente Dilma depois de ouvir o governador Déda, chamou Gabrieli e o presidente da Vale e exigiu uma solução em 30 dias. A solução já foi encontrada, e ainda este mês
deverá ser assinado o acordo entre as duas empresas que permitirá o início do projeto )



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