domingo, 13 de março de 2011

MINÉRIOS, UM DEBATE E UM PROJETO DOS SERGIPANOS


No final dos anos cinquenta o auditório do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe enchia. Era uma platéia formada por estudantes das faculdades de química,  de economia, de sindicalistas, professores, alguns raros políticos. Estavam todos ali para ouvir o que dizia Valter Baptista, um geólogo autodidata que falava maravilhas sobre o subsolo sergipano. Garantia que bem debaixo dos nossos pés havia petróleo, gás natural e mais uma impressionante quantidade de sais minerais. A partir desse potencial raro de minérios concentrados numa área de menos de trinta quilômetros de raio, vislumbrava profético Valter Baptista:  surgiria uma pujante indústria petrolífera e mineral-quimica.  Bastava para isso começarmos a explorar as jazidas. Ele defendia uma solução estatal, através da nascente Petrobras e outras empresas que teriam de ser criadas, e isso soava como música para uma nova geração de pensadores de esquerda que defendiam maior presença do Estado na economia. Passaram-se os anos. A  Petrobras descobriu petróleo em Carmópolis em 63, depois de cinco anos, mais petróleo e gás, desta feita pela primeira vez no Brasil, na plataforma marítima, bem em frente a Aracaju. Nos anos setenta e oitenta surgiriam às unidades de amônia e uréia, a planta de gás natural, e finalmente, a mina de potássio. Sergipe começava a assistir a confirmação do que dizia um  homem para muitos tido apenas como um visionário, sem maior conhecimento científico ou demonstrações empíricas do que  tão apaixonadamente anunciava. Quem naqueles tempos andou seguindo Valter Baptista pelos ermos de Sergipe e do nordeste baiano, dele não duvidava. Daquelas viagens realizadas num velho  Ford, regressavam cobertos de poeira e com quilos e mais quilos de pedras amontoadas sobre os bancos e a mala do rançoso veículo.  Chegando nas pequenas vilas, o arrastado Ford era sempre cercado por grupos de meninos que anunciavam a chegada do ¨ Doutor das Pedras ,¨e logo voltavam com mochilas, cheias delas, em troca de algum dinheiro. Era assim que Valter ampliava a extensão das suas prospecções geológicas.
Para que as riquezas do subsolo sergipano viessem a ser economicamente aproveitadas, foi indispensável uma luta política árdua, difícil, na qual se envolveram todos os governadores, deputados, senadores, e a sociedade nunca esteve tão unida nos mesmos propósitos. A estratégia começou a ser  montada em 58 por  Luiz Garcia,  passou por todos os governadores a partir de então, sendo ampliada, remontada, adaptada, revista, de acordo com as circunstancias, e tem agora um novo momento decisivo que está sendo enfrentado por  Marcelo Déda.
A reunião que Déda teve semana passada com o presidente da Vale Roger Agnelli, da qual participaram  seus secretários,  Oliveira Junior,  Jeca Silva, João Andrade e  Ricardo Lacerda, foi a seqüência de contatos que já estão sendo mantidos para viabilizar  a exploração da carnalita, uma nova fase na mina de potássio de Taquari- Vassouras.  Agora, o Projeto Potássio iniciado em 81, paralisado durante o governo Collor, terá de mudar a matriz até então utilizada em face do seu esgotamento. Mas há um leque de sais que podem ser utilizados, entre eles a carnalita,  isso exigirá investimentos em torno de um bilhão de dólares, e assim, a mina terá uma longa sobrevida. A Vale está disposta a  tocar o empreendimento, mas encontra resistências técnicas em áreas da Petrobras, onde a produção do petróleo poderia vir a ser afetada.  Há quem afirme que na estatal petroleira não existiria boa vontade para a liberação  das jazidas a serem exploradas  por uma empresa particular, hoje vista como concorrente em nível de importância com a maior estatal brasileira. Ao governador Marcelo Déda caberá o delicado papel de quebrar arestas, promover um entendimento entre a Petrobras e a Vale que venha a favorecer os interesses de Sergipe. Não é coisa fácil, mas o governador a isso se vem dedicando pacientemente, e tecendo relações que poderão  dar suporte ao seu trabalho.
Essa é uma parte da estratégia mais ampla para consolidar a vocação mineral de Sergipe, garantindo aqui a implantação de um pólo  mineral-quimico-petroquimico, e de fertilizantes, com bem maior amplitude, em função do qual,   se incluem também ações de infraestrutura, como ampliação de portos, desassoreamento de barras,  linhas rodo-ferroviárias.

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