sábado, 5 de março de 2011

A CHINA, PADRE CÍCERO, CARNAVAL,NATAL, OBAMA E A ¨REAL POLITIK¨

O título acima pode parecer, nestes dias de Carnaval, alguma coisa assim como o samba do crioulo doido. Aquele que Sérgio Porto , o Stanislaw Ponte Preta compôs, como sátira aos sambas enredos das escolas carnavalescas. Uma letra mais ou menos assim: ¨¨ Foi em Diamantina onde nasceu JK que a princesa Leopoldina, arresolveu se casar. Mas Chica da Silva tinha outros pretendente e ajudou a princesa a se casar com Tiradentes.¨
O titulo, embora estranho, não tem nada a ver com o desmantelo da lógica e da realidade.
Tentemos explicar a confusão aparente.
O Natal de 2010 foi o mais luminoso e lucrativo de todos os tempos. Nunca antes na história deste país, parodiemos Lula, se vendeu tanto, se fez tão feericamente a comemoração natalina. Quase 100% das luminárias utilizadas e algo próximo de 20% do total dos presentes vendidos eram de origem chinesa.
Numa prévia carnavalesca em uma cidade de Minas Gerais inovadora serpentina metalizada propelida por um mecanismo elástico, foi lançada por inadvertido folião e enroscou-se nos fios elétricos. 15 pessoas morreram, mais de 50 ficaram feridas. A serpentina era chinesa, como quase todos os produtos carnavalescos, máscaras, fantasias, sprays e até confetes que são importados da China. Na China não há carnaval, por lá o Natal é coisa quase desconhecida.
Há quem garanta ter comprado no Juazeiro, na última grande romaria do ano passado, uma estatueta do Padre Cícero com batina, chapéu e cajado, onde havia, na base, a inscrição: Made in China. A mesma inscrição já se tornou comum nas tradicionais esculturas de Nossa Senhora Aparecida. Na China o catolicismo é uma coisa tão exótica como por aqui o Taoísmo.
O capitalismo de Estado chinês que tem a protegê-lo um fechado regime político, onde reivindicação salarial é subversão da ordem, não encontra barreiras no seu avanço metódico, criativo e implacável por todo o mundo. Os chineses são hoje os nossos maiores parceiros comerciais . Para os chineses vendemos soja, minério de ferro, as commodities que eles não encontram por preço melhor em qualquer outro lugar, e que também não conseguem produzir na quantidade exigida pelo vertiginoso crescimento econômico, também, para alimentar um numero cada vez maior de bocas que começam a poder se alimentar regularmente.
A China precisa desesperadamente das matérias primas essenciais, entre elas o petróleo.
O Brasil com o pré-sal se tornará nos próximos dez anos exportador de petróleo, e a China será certamente compradora.
Como se sabe as promissoras gigantescas jazidas estão todas na plataforma marítima, no fundo do mar a profundidades abissais e distantes das praias até mais de 200 quilômetros. O Brasil quer aumentar o seu domínio marítimo, a chamada Amazônia Azul, mas, há controvérsias nos foros internacionais, ou seja, em Wall Street, na City londrina, no Pentágono, principalmente, sobre a posse mansa e pacífica de tudo o que se encontra sob o aceano, inclusive dentro das nossas já consagradas 200 milhas.
Ou seja, há confusões pela frente.
Acabamos agora de nos tornar a sétima maior economia do mundo. Mas, somos um país desarmado, e temos a proteger a enormidade da Amazônia Verde, e, enormidade maior ainda, a Amazônia Azul. Não é obra de pura ficção imaginar ameaças latentes. Coincidência ou não, logo anunciado o pré-sal o Pentágono sugeriu reativar a Quarta Frota, aquela que navegava pelas águas do Atlântico Sul em torno da América Latina e fora temporariamente desativadas. O Brasil é hoje um protagonista internacional, mas falta-lhe aquilo que, em geopolítica, desprezada e tão atual ciência, chama-se ¨projeção de poder¨ que se faz com um conjunto de forças aero-transportadas ou embarcadas, submarinos, porta-aviões, fragatas, aviões, bombas atômicas, mísseis, bases espalhadas pelo mundo, economia forte. Os Estados Unidos sofrem hoje ¨on the ground¨ no terreno, como chamam, derrotas sucessivas no Iraque, no Afeganistão, mas, no momento em que decidirem destruir qualquer cidade, qualquer instalação em qualquer ponto mais remoto do mundo, os americanos poderão realizar a proeza sem ter um adversários a altura que os impeçam de fazê-lo. Trata-se de um poder militar absolutamente hegemônico em capacidade de destruição e tecnologia. Se os estados Unidos resolverem explorar petróleo na plataforma marítima brasileira à revelia nossa, eles o farão, mesmo que o Brasil adquira os 36 caças, ponha a navegar os dois submarinos a propulsão nuclear. Para criar um efetivo poder de dissuasão no mar,e defender com alguma eficácia seus centros industriais de uma eventual agressão dos Estados Unidos, o Brasil teria, nos próximos 10 anos, de gastar algo superior a um trilhão de dólares, o que é impensável, e , pior ainda, ficar arcando com o custo de tão grande parafernália bélica.
Precisaremos então, mais de parcerias do que de armas, embora a modernização das nossas forças armadas seja agora um imperativo do status que alcançamos e da nossa importância estratégica.
Parcerias com a China podem até ser lucrativas, mas, em termos de alianças militares de nada valeriam em face de um confronto com os Estados Unidos. Com Paris, imaginou-se estreitar uma relação que funcionaria mais em termos políticos do que propriamente militares, embora a França estivesse disposta a ganhar muito dinheiro e nos fornecer uma bela tecnologia que seria útil, somente para a proteção contra ameaças surgidas de mais perto, ou seja, dos nossos vizinhos fronteiriços. Revelou o Wike-Leeks que o embaixador americano chamou de elefantes brancos os dois submarinos a propulsão nuclear que o Brasil pretende adquirir. Eles somente são armas temíveis quando armados com ogivas nucleares, e nós não cogitamos, nem devemos cogitar de possuir armamento atômico.
O presidente Lula andou um tanto decepcionado com os franceses depois que Sarkozy nos esqueceu como parceiros, e uniu-se aos Estados Unidos na rejeição à fórmula proposta pela Turquia e Brasil para superar as divergências com o Iran e o seu projeto de apropriação da tecnologia nuclear.
Vem agora ao Brasil o presidente Obama. Se com Bush Lula conseguiu dialogar e até tornar-se interlocutor confiável, o que não poderá fazer agora com Obama a presidente Dilma? Não apenas por questões orçamentárias adiou-se a compra dos caças franceses.
É provável que esteja sendo tecida agora entre o Brasil e os Estados Unidos uma nova forma de parceria econômica, política, com alguma abrangência militar. Nada que se possa parecer ao humilhante acordo militar que tínhamos com Washington, nos tempos em que um embaixador brasileiro dizia que o bom para os Estados Unidos era bom para o Brasil. Foi um presidente militar, o general Geisel, que pôs fim ao acordo pelo qual os americanos nos diziam quais as armas que poderíamos ter, e também como estaríamos autorizados a usá-las.
Os tempos são outros, melhor do que gritar ¨ Yankees go home ¨será buscar fórmulas para estabelecer uma joint-venture que nos deixe tranqüilos em relação ao pré-sal, e os americanos menos apavorados com perspectivas de interrupção no fornecimento e no lucro de suas empresas. O Brasil, uma democracia estável, livre de conflitos étnicos ou religiosos, sem alimentar odiosidades políticas, e discretamente afastado da verborragia panfletária do chavismo , tem muito mais a oferecer e a se beneficiar do que os grandes produtores atuais de petróleo, a Rússia e as autocracias árabes que estão desabando. A esquerda tem pela frente um desafio muito mais complexo do que o simples e rudimentar bate boca, como mostrou Lula, compatibilizando crescimento econômico com ascensão social, sem esperar que o bolo crescesse para depois ser dividido, como recomendou , durante a ditadura, o Tzar da economia, Delfim Neto. Até lá ficariam os pobres morrendo de fome, e conformadamente esperando que o bolo atingisse o tamanho necessário para ser minimamente repartido?
O chanceler Bismarck que gostava de sintetizar sua ação diplomática e militar na expressão, ¨real politik ¨, disse: ¨As pessoas não acreditariam nas leis nem comeriam salsichas se soubessem como elas são feitas .¨
A ¨real politik¨ que ele exercitava era algo assim como as salsichas, com boa aparencia, gosto atraente e uma imunda manipulação.
E a ¨real politik¨ que hoje rege as relações internacionais, continua assim, igualzinha às salsichas.

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